Um grupo de nove empresários da restauração, bares e discotecas estão em greve de fome em frente à Assembleia da República, e garantem que só saem de lá quando o Governo apresentar uma solução e os ouvir.
Estes nove elementos do movimento 'A Pão e Água' estão em greve de fome há seis dias, dizendo a vários órgãos de comunicação social mas sobretudo a cada português anónimo que lá passa para demonstrar apoio que estão ali para lutar pelos trabalhadores da restauração.
São seis dias em que, conhecido publicamente, um dos empresários já teve de se deslocar a um dos hospitais de Lisboa para receber assistência médica, embora durante os seus dias de greve de fome estejam todos a ser acompanhados e monitorizados por médicos e psicólogos a título voluntário (que é de louvar).
Dizem que só saem quando reunirem – ou se fizerem ouvir – com o Primeiro-ministro ou com o Ministro da Economia.
Falam em medidas concretas como a redução do IVA para 6% e do final do recolher obrigatório a partir das 13:00 horas ao fim-de-semana, porém, naturalmente, há mais que estas medidas específicas porque o foco é encontrarem pontes de entendimento para suportar a dor económica que todo este setor enfrenta em virtude da pandemia que todos vivemos. São milhares de portugueses que não sabem o que hão de fazer e, pelo menos até hoje, aos quais o Governo de António Costa não faz a mínima ideia de como ajudar.
Aqui, neste caso particular, a questão prende-se numa incoerência destas gerações políticas atuais. A ausência de frontalidade que apregoam a cada arrumada, em campanha política para quaisquer eleições, e que deixam de cumprir mal estão nos cargos.
Pensemos no que já todos ouvimos e alguns disseram: “Eu falo com todo e qualquer cidadão, estou disponível a qualquer hora para vos ouvir” dizem. Será assim para o Sr. Primeiro-ministro? Será que o cidadão António Costa dorme bem sabendo que 9 pessoas que residem neste país estão a greve de fome até que ele os ouça um par de minutos? Naturalmente que este grupo tem uma exposição mediática enormíssima, é impossível os governantes não saberem. Poderia dar-se o caso de um português estar em greve de fome, longe da capital, numa qualquer terra do interior (leia-se: Os 306 concelhos do país exceto Lisboa ou Porto), e que dizia querer falar com os Governantes sem que estes soubessem, sonhassem ou tivessem acesso. Neste caso, não. Todos os canais noticiosos, jornais em papel, diários online já o partilharam. Se não ouvem, é porque não querem ouvir.
Aprendemos nestes dias que a democracia é menos participativa do que se apresenta em frutuosos slides de power point ou em folhetos de grafismos incríveis e com níveis de marketing poderosíssimos. Afinal, se um comum português quiser ser ouvido por quem o elegeu (pelo seu voto ou ela maioria dos votos dos outros eleitores portugueses) não é tão simples como nas campanhas eleitorais prometem os candidatos à data.
Naturalmente que, neste caso, há um tema pertinente. Há um conjunto de 9 empresários que durante as suas vidas trabalharam pela e para a economia portuguesa. Ajudaram quem hoje é Ministro da Economia a ter, de que forma for, melhores números para as suas tabelas de Excel. Serviram, seguramente, para locais de culto de campanha eleitoral do atual Primeiro-ministro.
E agora? Hoje, não servem para uns minutos de conversa em que possam livremente partilhar as suas ânsias e os seus desígnios que os levaram à drástica medida de estarem em greve de fome.
Como dizem às câmeras televisivas, e genuinidade na ação pública é relevante sempre, estão “a passar fome para que outros tenham de comer”. É um grupo que está ali a pensar nos outros todos que têm restaurantes, bares, cafés, o que seja. Outros que têm esses espaços como o seu “ganha pão”. É impactante, se pensarmos sem amarras de reflexão ou proteção ideológica de quem hoje é governo. Também não deve servir de bandeira política para quem os quiser amarrar, mas na globalidade, os dirigentes partidários que se encontraram com estre “grupo dos 9” até se comportou dignamente e soube estar, enquanto cidadão, no seu lugar.
O que diz o Governo? O ministro Siza Veira disse que privilegia "associações representativas dos setores afetados pela pandemia". Acreditamos todos que nesta altura deve-se ouvir todos quanto se possa. De todas as cabeças poderão vir melhores ideias para ajudar o País a ultrapassar as dificuldades que a COVID-19 trouxe, portanto, as associações representativas são essenciais, mas os próprios detentores de negócio que têm interesse em participar na construção de soluções (como este movimento “A pão e água”) são fundamentais!
Não há mais ou menos importantes para dar resposta a uma pandemia nunca vivida. Que a arrogância da classe política saiba que todos são precisos (como usam e abusam desta frase em slogans de campanhas estéreis de honestidade).
Este movimento é do mais parecido que há na sociedade civil com a participação cívica, livre de dogmas, doutrinas ou ideologias. É aquilo que qualquer Presidente de uma das 308 Câmaras Municipais do país procura e diz a cada púlpito: “Os cidadãos têm de participar ativamente, reivindicar as suas vontades e a nós políticos cabe ouvir”.
Será que o Primeiro-ministro tem consciência que bastariam 6 minutos de conversa para evitar 6 dias “a pão e água” a nove empresários que ajudam o país?
Saibamos ser mais humanos. Ouvir mesmo. Ouvir a sério. Que evitemos ser aqueles que não apregoam, quando dá jeito, que se ouve quando nunca se quis ouvir. A demagogia também é isto: É dizer em campanha que todos irão ser ouvidos e, no poder, esquecer isso.
Todos contam. Estes 9 empresários também contam muito. Que sejam ouvidos, em breve. Boa sorte, o país precisa de gente desta!