Jerónimo de Sousa foi eleito secretário-geral do PCP pela quinta vez e garante que não está a prazo. O congresso do PCP ficou marcado pelas críticas aos que queriam impedir a sua realização por causa da pandemia, mas também deu sinais para o futuro. Os comunistas admitem continuar a negociar com o PS para enfrentar a crise.
Jerónimo já tinha dado sinais de que não estava de saída e foi reeleito pelo comité central com um voto contra. No discurso de encerramento, o secretário-geral dos comunistas garantiu que não está “a prazo nem em período experimental”. Curiosamente, uma referência que não consta do discurso escrito.
O congresso foi aproveitado para justificar a viabilização do Orçamento do Estado para o próximo ano. No discurso de abertura, Jerónimo garantiu que as negociações com o PS permitiram “inscrever na versão final do Orçamento do Estado medidas que terão tradução concreta na vida dos trabalhadores e do povo”.
No encerramento, o secretário-geral dos comunistas foi mais longe e criticou o Bloco de Esquerda, sem referir diretamente o partido de Catarina Martins, por ter votado contra o orçamento. “Mas, enquanto alguns desistiam, se há avanços, medidas consagradas dirigidas aos trabalhadores, aos reformados, às pequenas empresas, à cultura, ao Serviço Nacional de Saúde e aos seus profissionais, todas têm a marca, a contribuição, a proposta do PCP”, disse.
Jerónimo não fechou a porta a voltar a sentar-se à mesa com os socialistas. Pelo contrário, os comunistas vão bater-se por “reverter rapidamente o caminho de recessão económica e relançar a economia” e isso só é possível com “medidas concretas como fizemos e fazemos na Assembleia da República”.
Jerónimo de Sousa não esqueceu as críticas que foram feitas ao PCP por realizar o congresso durante o estado emergência. Elogiou o “sentido de responsabilidade” dos congressistas, que cumpriram à risca as regras como o uso de máscara, e atacou as forças reacionárias que “desencadearam mais um episódio do medo”.
“O vírus da luta”
A resposta aos que atacaram a realização do evento comunistas foi dada pelas figuras mais destacadas do partido. Francisco Lopes acusou “os arautos da exploração” de vomitarem ódio contra o PCP” e querem proibir o congresso. Bernardino Soares, presidente da câmara de Loures, defendeu que “sem democracia não há saúde nem progresso” e garantiu que “o único vírus que se vai propagar é o vírus da luta por um futuro melhor para o nosso povo”. Já António Filipe, deputado na Assembleia da República, alertou que o “grande capital” não quer combater a pandemia, mas sim “os comunistas, os trabalhadores e todos os que recusam aceitar que a pandemia seja aproveitada para liquidar direitos democráticos”.
João Ferreira ‘promovido’
João Ferreira entrou para a Comissão Política do PCP. Tem sido escolhido para travar vários combates e é cada vez mais visto como uma possibilidade para suceder a Jerónimo de Sousa. É o candidato apoiado pelo PCP nas eleições presidenciais depois de ter sido a escolha dos comunistas para encabeçar a lista ao Parlamento Europeu, em 2014 e 2019, e candidato à câmara de Lisboa, em 2013 e 2017.
Neste congresso foi muito aplaudido e defendeu que as eleições presidenciais não podem “passar ao lado dos portugueses com alguns gostariam”, Acusou Marcelo Rebelo de Sousa de estar ao lado “interesses dos grupos económicos e financeiros” e alertou “os problemas estruturais não serão resolvidos com a política de direita que os criou, nem obviamente com as variantes demagógicas, populistas e antidemocráticas dessa política”.