Como se os problemas de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, já não fossem suficientemente grandes, face aos ataques jiadistas que provocaram pelo menos duas mil mortes e mais de meio milhão de deslocados na província, agora a ajuda alimentar começa a escassear.
“Sem financiamento adicional, que é urgente, o Programa Alimentar Mundial (PAM)será forçado a reduzir as porções de alimentos ou diminuir o número de beneficiários já em dezembro. Ou seja, daqui a uma semana”, informou a agência da ONU em comunicado.
Os deslocados internos em Cabo Delgado, que se concentram em redor de Pemba, a capital distrital, começam até a chegar a províncias mais a sul, como Nampula e Niassa. A escala da tragédia surpreendeu o PAM, que em janeiro apoiou cerca de 29 mil pessoas. Atualmente, a agência atingiu “um recorde de 331.630 beneficiários, entre deslocados pelo conflito apoiados em outubro”.
“A magnitude desta emergência” esticou ao máximo os recursos disponíveis, lê-se no comunicado. “O número de deslocados internos aumenta a cada semana, o que pressiona o plano operacional e as capacidades do PAM”, realça, acrescentando que “a crise sanitária e socioeconómica provocada pela emergência do novo coronavírus” torna “a mobilização de recursos ainda mais desafiadora”. “Estamos a enfrentar uma situação de subfinanciamento ao longo de todo o ano, que daqui uma semana já será falta de financiamento”.
O PAM necessita mensalmente de oito milhões de dólares (cerca de 6,7 milhões de euros) para prestar assistência a quem foge do conflito no norte de Moçambique. Ou seja, 96 milhões de dólares (uns 80 milhões de euros) para os próximos 12 meses tendo em vista o objetivo de “alcançar cerca de 750 mil deslocados internos e comunidades acolhedoras nos próximos meses”. Contudo, “apenas 11,7 milhões de dólares (9,8 milhões de euros) estão garantidos”, avisou a agência à Lusa.
Cabo Delgado é palco do maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, mas está desde há três anos sob ataque de insurgentes. Alguns dos ataques passaram a ser reivindicados pelo grupo jiadista Daesh, desde 2019.
Já em Pemba “o medo paira no ar”, disse Salvador Forquilha, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Económicos, ao SOL. “As pessoas todos os dias vêm gente a chegar das áreas afetadas pelo conflito”.
“Estivemos com famílias que, de um dia para o outro, passaram a ter mais de 60 pessoas no seu agregado familiar, são mais bocas para alimentar”.