Grassa a balbúrdia na União Europeia. A Polónia e a Hungria exerceram o direito de veto relativamente à atribuição de fundos europeus e, por força disso, o plano de recuperação – a denominada bazuca – fica, uma vez mais, adiada. A razão prende-se com as normas relativas ao Estado de Direito no que versa o acesso aos fundos.
Este impasse coloca os países mais frágeis, como Portugal, numa posição de maior desproteção, não apenas por se tratar de uma economia mais ancorada nos serviços de proximidade, mas também, sobretudo, porque a opção do Governo foi postergar instrumentos mais robustos de apoio às empresas e de salvaguarda do emprego para aquando da chegada de dinheiro europeu. Um estudo recente de um prestigiado think tank europeu dá a conhecer que Portugal, entre 12 países analisados, foi o terceiro com menos apoios diretos à economia. Também a Comissão Europeia na análise que faz às propostas dos Estados-membros concluiu que Portugal, em 2020, tem a segunda mais baixa despesa com a pandemia, apenas atrás da Finlândia.
Somos dos que mais sofremos com a crise, mas dos que apoiamos menos. O Governo não o admite, deleita-se com apresentar e reapresentar medidas, atrasando deliberadamente a sua execução e a inscrever, em letra minúscula, um inferno de mal disfarçadas exigências burocráticas que não são nem mais nem menos do que uma tentativa de restringir o universo de quem chega ao fim da via dolorosa. Por exemplo, quando se abriu o apoio aos sócios-gerentes, após tremenda e incompreensível resistência do Governo, o prazo para que fossem submetidas as candidaturas ao apoio na Segurança Social não foi superior a uma semana. Outros e muitos mais casos há e são denunciados diariamente em pequenas notícias de pé de página, mas que somadas são a manifestação de um deliberado exercício de logro e manipulação no qual estamos todos enredados.
A grande lição a retirar, porém, é a de que Portugal está pior do que nos foi dito e que o suposto milagre dos últimos anos não reparou qualquer debilidade da nossa economia e, por isso, por termos desaproveitado uma onda mais positiva, não fomos capazes de fazer mudanças que fechando os olhos e refletindo sobre nós próprios nenhum de nós desconhece que são imperiosas. Em tempo de pandemia tudo seria sempre muito difícil, mas o peso que carregamos torna as coisas mais difíceis ainda.
Está na altura de se dizer o que se vai fazer se a bazuca não vier!
Deputado