Hungria-Turquia.  A grande bizantinice inventada na Suíça

Hungria-Turquia. A grande bizantinice inventada na Suíça


Repete-se hoje um dos jogos mais politicamente ferozes da história do futebol. Em 1954, no Mundial, em plena crise do Tratado dos Balcãs, o jogo foi dispensado.


Hoje, no Estádio Puskás, em Budapeste, a Hungria recebe a Turquia para o grupo G da Liga das Nações e é muito provável que tal não faça soar campainhas na memória de muita gente. No entanto, é um encontro com raízes profundamente históricas e políticas. E que, por um acaso da sorte, não teve lugar na fase final do Mundial de 1954, disputado na Suíça, na fase em que as relações entre ambos os países estavam em fase de rutura total. Bem, o acaso da sorte pode ter sido convenientemente planeado e eu já explico porquê.

Cinquenta anos antes do campeonato do Mundo que teve lugar na Suíça, uma entente firmada entre Jugoslávia, Roménia, Turquia e Grécia teve o objetivo de proteger a integridade dos seus territórios perante a ambição expansionista da Bulgária e da Hungria. A Grande Guerra deixara cicatrizes profundas no mapa político da Europa e a desagregação do Império Austro-Húngaro, que fora espoliado de uma grande fatia do seu território, continuava a manter as feridas daí advindas a supurar abundantemente. O Pacto dos Balcãs, assinado sob a égide da Liga das Nações – vejam lá a ironia –, serviu para manter a paz entre o extinto Império Otomano e os países da Europa que haviam sido atacados por este e pode ter aliviado as relações diplomáticas entre Governos, mas não impediu que, no futebol, os adeptos arrastassem consigo para os estádios a antipatia (ou pior ainda) pelos seus adversários que tinham sido inimigos figadais.

No que respeita a húngaros e turcos, mantiveram-se distantes até serem colocados face a face no dia 24 de julho de 1952, no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Helsínquia: vitória natural da Hungria por 7-1. Afinal, tratava-se da melhor equipa do mundo e que iria estar três anos consecutivos sem perder um jogo, desfazendo sem piedade os opositores que passavam à sua frente, até caírem naquela final de Berna, face à Alemanha, por 2-3, o jogo em que a derrota devia ser impossível.