Apresentação de um caso prático: fui informada, durante a manhã, que a mãe do explicador dos meus filhos teria testado positivo para a covid-19, ontem. O explicador, um rapaz jovem e saudável de vinte e poucos anos, terá tido febre durante esta noite e acordou mais prostrado do que o habitual.
Os meus filhos tiveram explicação, presencial, na sexta-feira, ao final da tarde, com as devidas precauções e mantendo a distância recomendada pelas autoridades de saúde. Não apresentam qualquer sintoma, mas ainda assim, a preocupação veio ao de cima e as campainhas tocaram todas.
O primeiro passo foi telefonar para a Linha de Saúde 24 para informar a situação descrita e questionar sobre qual o procedimento a ter num contexto como o que acabei de descrever. Após algumas perguntas realizadas pelo operador automático, fui colocada em espera para ser atendida pelo profissional de saúde que iria avaliar a minha situação.
Antes de ligar para este apoio informativo, eu própria avaliei a situação em 50/50 por cento de probabilidades de os meus rapazes terem contraído o vírus. O que me parece um risco razoável, atendendo aos números exponenciais que nos vão sendo transmitidos todos os dias. Só hoje, domingo, registámos mais 6 602 casos positivos e mais 55 mortes.
Do telefonema que fiz, esperava mais. Muito mais, na verdade. Em vez de me responderem com “protocolo” e “algoritmo”, esperava ouvir “responsabilidade cívica” ou “bom senso”.
Apresentei a situação, tal como acabei de descrever aqui e terminei perguntando quais eram as recomendações da DGS (Direção-Geral da Saúde) para casos semelhantes. Fiquei desapontada com a resposta. Não com a profissional de saúde que me atendeu, que foi muito correta e compreendeu a minha deceção com a resposta possível que me foi transmitida, mas com o protocolo que está instituído para situações semelhantes.
Fique o leitor a saber que mesmo perante a evidência de ter estado fisicamente próximo com um indivíduo que manifesta sintomas de ter sido infetado, não deixando muitas dúvidas para o encaixar no grupo dos assintomáticos, a não ser que o indivíduo já tenha realizado o teste e tenha dado positivo, não lhe irão recomendar medida alguma para minimizar os riscos de transmissão do vírus. Passo a explicar detalhadamente o que para mim é evidente mas que para o protocolo, que define os procedimentos a ter em situações análogas, e para o algoritmo, que determina o fim do apoio do profissional que está do outro lado da linha telefónica, não é relevante: 1) a mãe do explicador testou positivo para covid-19, no sábado; 2) o explicador tem febre e apresenta alguns sintomas relacionados com covid-19, no domingo, apesar de ainda não ter realizado teste; 3) os meus filhos estiveram com explicador na terça e sexta-feira passadas. O que poderá acontecer na segunda-feira? Deverão ir à escola? E o resto do agregado familiar?
A leviandade do protocolo instituído estabelece que, uma vez que não há resultado do teste para o explicador, não se poderá avançar com probabilidades para os contatos diretos do possível transmissor. Assim, estes possíveis infetados deverão continuar com a sua rotina até que o explicador faça o teste. Caso só se tenha conhecimento do teste no final da semana, entretanto, estas crianças já teriam possibilitado a transmissão do vírus a turmas de 20 alunos, que por sua vez, teriam alargado a transmissão aos seus agregados familiares. Finalmente, compreendi como o vírus não pode diminuir quanto ao número de casos, porque corremos atrás do prejuízo, em vez de termos uma ação defensiva e que antecipe possíveis situações de contágio. Uma desgraça.
Obviamente que não reconhecendo a eficácia deste “protocolo”, que deixa muito a desejar na realidade em que nos encontramos e que piora de dia para dia, nem tão pouco validando o “algoritmo”, que o sistema utiliza para a triagem e encaminhamento dos casos prováveis, irei tomar as precauções que entendo servirem melhor os interesses de todos nós, sejam os da comunidade, sejam os da minha família.
A estranheza relativamente à resposta dada surge por não compreender por que razão não recomendaram manter as crianças em casa, sob vigilância, até que o resultado do teste do explicador fosse conhecido. Preocupa-me que seja esta a indicação e a resposta que a DGS tem para dar em casos concretos como este.
Expliquem-me o seguinte, senhora diretora-geral e senhora ministra da Saúde: faz sentido que só sejam considerados os casos diretamente relacionados com testes positivos, quando os testes demoram um período de tempo que pode ser o suficiente para transmitir o vírus a outras pessoas? Não deveria existir no protocolo um procedimento para os casos que apresentam uma probabilidade elevada de virem a ser positivos? Ou vamos continuar a brincar aos confinamentos entre as 13h e as 5h, ao fim de semana?
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