Era uma vez um Formigueiro que se encontrava dentro de uma quinta, onde tranquila e aparentemente nada se passava de anormal entre a harmonia da natureza e a convivência diária com os donos da mesma. Durante anos, biliões de Formigas fizeram as suas edificações e assim iam mantendo as suas vidas, não fosse a existência de um lindo jardim plantado com todo o gosto pelos proprietários ser posto em causa pelo comportamento inadvertido das formigas. Dia após dia, numa atitude obsessiva, estas começaram a destruir as lindas flores que ali tinham sido plantadas! Os donos da quinta tentavam por todas as formas travar o ímpeto das vorazes guerreiras, numa tentativa desesperada para proteger as indefesas flores. A dada altura, fartos de tudo fazer para dar algum descanso às coitadas que diariamente eram atacadas sem dó nem piedade e restituir alguma normalidade ao jardim de que tanto gostavam, tomaram a decisão drástica de destruir o formigueiro! As formigas sem saberem o que se estava a passar foram surpreendidas por um ataque de insecticida com consequências irreversíveis! Do nada instalou-se o caos nas suas vidas à semelhança do que tinham provocado na pacata vida das flores. Numa fracção de segundos tudo tinha mudado, as suas rotinas e o seu padrão de vida tinham desaparecido. A tentativa de restabelecer o “novo normal” era desesperante, milhares de corpos sem vida amontoavam-se sem destino por todo o espaço verde circundante do jardim e, as que não morreram de imediato definhavam sem rumo à vista. As que vinham dos mais variados locais procuravam desesperadamente a entrada do Formigueiro e as que sobreviveram dentro do seu interior vagueavam sem norte, na esperança de encontrarem a saída para a situação em que se encontravam, tamanha era a desorientação que nem perceberam que o formigueiro já não existia” – Metáfora a propósito da dura realidade em que a humanidade se encontra mergulhada actualmente. “Formigas” à procura de um abrigo seguro, ansiosas por voltarem ao “Novo Norma” que nunca existiu e nem tão pouco o fora, antes pelo contrário… como disse o Papa Francisco, numa das suas últimas audiências gerais do Vaticano “não regressar à dita “normalidade” que é uma normalidade doente. Já estava doente antes da Pandemia”.
Quem marca o ritmo das nossas vidas o vírus ou a economia?
Estamos a viver um verdadeiro Paradoxo! Se por um lado não queremos parar a economia para não agravar mais a situação das pessoas, por outro acabamos por diariamente engrossar as fileiras daqueles que infelizmente contraem o vírus e em muitos casos acabam por falecer como se não houvesse alternativa! Ou se morre do vírus ou se morre da cura… se morrermos todos acabou-se a economia. Parece uma verdade à La Palice que não tem adesão com a realidade, mas que neste momento está a acontecer diariamente!
A insanidade mental, conjuntamente com a falta de visão e perspectiva integrada da realidade por parte de algumas lideranças Mundiais, seguidas por eleitorados pouco esclarecidos está conduzir os destinos da humanidade para um verdadeiro “Massacre de proporções Globais” e disso são exemplo, os números Mundiais da Pandemia apresentados nestes últimos dias e Portugal infelizmente não é excepção, antes pelo contrário.
Num artigo de opinião publicado a 3 de Abril deste ano no Wall Street Journal dizia Henry A. Kissinger no título do mesmo a propósito da Pandemia… “ A Pandemia do Coronavirus alterará para sempre a Ordem Mundial – Os EUA devem proteger os seus cidadãos das doenças ao iniciar o trabalho urgente de planeamento para uma Nova Era”. – Não compreender a situação em que nos encontramos por parte das lideranças dos mais variados Países, sobretudo daqueles como maior poder de decisão e não perceber o novo enquadramento Geopolítico Mundial neste Novo Paradigma é perdermos de vista esta grande oportunidade para a Humanidade de pensarmos e construirmos uma sociedade mais Justa e Perfeita, precipitando desta forma, mais rapidamente o fosso entre Países e todos nós!
Urge portanto uma visão progressista, dinâmica, não cristalizada no espaço e no tempo, assente em novas visões e modelos a todos os níveis; na estruturação identitária que vai muito para além da territorialidade dos Países (o Planeta Terra como casa de todos nós), uma verdadeira Educação para uma Nova Era (não assente na promoção da competição como até aqui, mas sim na cooperação, promovendo a excelência na diferença e não tornar igual o que não o é), uma nova Economia que sirva verdadeiramente todos (circular do prazer e bem estar, porque os recursos naturais são finitos e não temos dois planetas), um Capitalismo Partilhado (Filantrópico), um Sistema de Saúde robusto assente em novas abordagens, novas praticas e que esteja incondicionalmente ao serviço de todos e para todos e a urgente implementação do RBI/U – Rendimento Básico Incondicional / Universal, tendo em conta a gravidade da situação e o aumento sem precedentes do desemprego que literalmente já se faz sentir nos mais variados sectores de cada País, em consequência da velha economia estar a ser esmagada e a definhar frente a esta Pandemia por não ter capacidade, nem argumentos para gerar empregos. Não agir em conformidade e esperar que a resolução de todos estes problemas, que já vêm de trás e que o vírus só veio pôr a descoberto, se vão resolver com uma vacina milagrosa… só me ocorre uma frase de Pablo Neruda – “Se nada nos salva da Morte, pelo menos que o Amor nos salve da Vida!”
Vítor Navalho
Psicólogo, membro da OPP – Ordem dos Psicólogos Portugueses e da APA – American Psychological Association