Cruzeiro Seixas. “Talento insolente à força da modéstia”

Cruzeiro Seixas. “Talento insolente à força da modéstia”


Artista plástico e poeta, viu-se na ingrata condição de ficar para último, ainda que o surrealismo não aceite que lhe fixem início ou fim. Certo é que morreu um dos seus maiores vultos este domingo no Hospital de Santa Maria, um mês antes de completar cem anos.


Dentro de um mês, Artur do Cruzeiro Seixas sopraria as cem velas. Mas morrer aos noventa e nove é muito mais honesto. (“Eu admiro imenso a honestidade e, por isso, estou fora deste mundo”, confessava ele na última entrevista que deu.) E que vantagem haveria em arredondar? Nem um minuto a mais para um mundo que só nos diz que não dá, que se acabou, e nos pede para tirarmos uma senha. “Eu sei que serei/ Do mundo que vem”. Dois versos de um poema que Cesariny deixou num texto que lhe dedicou, publicado no catálogo de uma exposição sua em maio de 1970. O autor de “Nobilíssima Visão” via nele um talento para a “adivinhação de modos futuros”. E a última vez que os dois se viram pôs fim a um corte que durava há três décadas. Um mês depois Cesariny morria. Por seu lado, a vida de Cruzeiro Seixas foi marcada por desencontros sucessivos, por uma adolescência que foi ficando deserta. Um por um, os amigos depuseram as armas, e só ficou Artur diante da antiga e larga mesa, e um título de rei que lhe colaram à laia de consolo. Parecia que as mães chamavam por eles, quando um grito ainda era medida e alcance neste mundo, e foram saindo a cavalo de desastres maiores ou menores os rapazes que começaram por reunir-se numas mesas adiante, no Café Hermíneos, sito na Almirante Reis, no dealbar da década de 40. Ali estavam “num estado de transe que vai da imobilidade absoluta ao salto mortal para cima das mesas, fazendo ouvir (resposta) um grito branco, hórrido, macerador”. Cesariny diz que se tratou de uma mágica que durou à roda de quatro anos, “como uma adolescência”: “Era o nosso dadá, a nossa suíça trinta metros abaixo do nível de terra contra o irrespirável do mundo exterior.”

Cruzeiro Seixas viu-se na ingrata tarefa de ficar para último, como se enviuvasse de toda uma época, guardando o salão do navio de espelhos de luzes apagadas. Recontando as histórias de que se lembrava, os sonhos e os despertares amargos, foi rei ou qualquer outro título equívoco, desde que numa escada muito alta, a sentir os astros passar muito perto. Pediam-lhe que se lembrasse, mas ele não sabia datas, nunca tinha horas propriamente, e, de algum modo, habituara-se à névoa, a ir e vir como queria. E, muito apropriadamente, morreu a um domingo, este último, um domingo de chuva, que parecia arrastar-se há anos. E agora que mau serviço lhe prestávamos se viéssemos afixar tudo em datas, compor-lhe um rasto, como se a bailarina na caixa fosse só esse caule de metal, esse percurso definido, e não o alarido tocante, a doce confusão alarmante de uma melodia que oferece à casa um coração, e fica lá a fazer da infância outra coisa, outro lugar, um mundo que há-de vir para nos libertar deste.

A primeira memória que tinha, se lhe fosse pedido para resgatar uma ordem do “naufrágio na luz”, era de uma oliogravura, “que não prestava para nada, pendurada bem alta no corredor, do Camões lendo ‘Os Lusíadas’ a D. Sebastião”. Nascera na Amadora, a 3 de dezembro de 1920, mas aos cinco anos chegou a Lisboa e tomou rumo, ele e os amigos que viveram juntos uma adolescência lendária, beneficiando do ambiente arejado da escola António Arroio, que tinha como director Falcão Trigoso, um desses educadores que sabem que vai melhor orientado um navio com dez mil capitães, e que soube assim cultivar uma juventude de insurrectos contra “outras cómicas espécies de enquadramento então em uso entre a juventude escolar”. 

Cesariny recorda que nenhum daqueles rapazes (“lembro José Manuel Martins Rodrigues, Fernando José Francisco, Cruzeiro Seixas, Vespeira, Pedro Oom, António Domingues, João Moniz Pereira – por vezes Fernando de Azevedo, Júlio Pomar”) acabou o curso para que estava inscrito, nenhum “saiu arquitecto ou engenheiro ou pintor ou qualquer dessas coisas de trabalhar”, e andavam naquela ignorância ávida, em busca de coordenadas que contrariassem o país que era só até ao joelho. Para tanto, o neo-realismo serviu por uns tempos, mas porque era o motim mais à mão de se semear. “Apanhados numa disjuntura sinistra (de gerações, de poéticas, de políticas), juntávamos a custo do próprio corpo”, frisa Cesariny. É só em 1949 que começam as actividades do grupo Os Surrealistas, mas pouco mais de um ano depois Cruzeiro Seixas partia para uma viagem pelas Américas, Índia e Extremo Oriente, integrado na marinha mercante, fixando-se finalmente em Luanda, donde só regressaria em 1964. Ali, participou em diversas exposições e colaborou com alguns projectos de museologia. Diz Cesariny que “os quinze anos de África decerto o ajudaram a distanciar a imensidade de caras que assustam, outras terá encontrado, mas com caminhos de milhares de quilómetros para a fuga e mares do princípio do mundo para a refracção. Mesmo em Lisboa, era do continente desconhecido que trazia desenhos como retratos do inominado, esculturas e objectos impossíveis de haver, de abordar, de adaptar.”

Muito cedo Cruzeiro Seixas perseguiu as formas num sentido que privilegiava o olhar, tendo reconhecido que era através dos olhos que o mundo se lhe abria, e o desenho, a pintura, a escultura ou as assemblages de materiais diversos eram ecos que se extasiavam em sucessivas metamorfoses, à medida que a luz dobrava as esquinas do sonho. Ernesto Sampaio fala da sua prática artística como a de um poeta que visse os versos ganharem corpo, fala dos poemas desenhados de Cruzeiro Seixas “onde nada é fácil, nem natural”. “São imagens exógenas de um mundo em formação ou decomposição, visões de universos gelados ou nocturnos, metáforas figurativas estáticas e claras, aparições sobre fundos geológicos, metamorfoses, estados em que o físico e o psíquico passam por transmutações constantes e imprevisíveis. Através destas imagens mudas fala a outra voz, que não ouvimos com os ouvidos, mas com os olhos e com o espírito.”

Num ensaio com o título “As mãos ao nível de nós mesmos”, o mais prodigioso teorizador do surrealismo português, acrescenta: “Poeta de imagens visuais, Cruzeiro Seixas concebe o desenho, não só nem exclusivamente como composição plástica, mas como metáfora dos seus sonhos, obsessões, cóleras, temores e desejos, espécie de espelho mágico alternadamente fasto e nefasto que desfigura e transfigura as imagens. O desenho transforma-se em poema e oferece-se ao espectador como um feixe de metáforas entrelaçadas. As formas aparecem e desaparecem, entrelaçam-se, desenlaçam-se, e nelas o eco ocupa uma função primordial, consistindo na repetição quase maníaca de certas imagens, submetidas a deformações e mutilações inquietantes. O eco é a manifestação rítmica da obsessão. Mais exactamente, é uma metáfora da obsessão: através de repetições e variações a imagem obcecante transforma-se em ritmo, como se os desenhos fossem versos.”

Depois de Luanda, em 1964 iniciou um périplo pela Europa, o que lhe alargou imensamente os horizontes, só regressando a Portugal em 1967, beneficiando de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, e colaborando com as galerias 111 e São Mamede, empenhando-se na divulgação de outros artistas, tendo ilustrado e participado numa série de edições e antologias. Na década de 1980, trocou a capital pelo Algarve, e no final do século viria a fixar-se em Vila Nova de Famalicão, depois de, por iniciativa de Bernardo Pinto de Almeida, director do Museu da Fundação Cupertino de Miranda, se ter criado na sua sede o Centro de Estudos do Surrealismo, que logo abriu uma espécie de rede comunicante ao adquirir o acervo artístico e documental de Cruzeiro Seixas. 

Este insistia em esquivar-se a grandes elaborações teóricas, preferindo descartar-se e culpar a mão. Repetia que a “mão é que faz tudo”, e que o segredo só o sabia a mão que, sozinha, se punha para ali a sonhar. Também insistia em que o não chamassem de “artista” nem, muito menos, de “intelectual”, pois não lhe agradava a altivez desses títulos, preferindo que a sua obra fosse encarada como um testemunho, uma busca que não tinha qualquer pressa em pôr-se do lado da arte enquanto pudesse inscrever-se do lado da vida, como uma busca amorosa. Por outro lado, e se estaria de acordo com Seamus Heaney quando este disse que os poetas têm de “evitar tornar-se um mero cabide em que o mundo pendura as suas honrarias”, por esses anos começou a aceitar todo o tipo de homenagens, ao mesmo tempo que não escondia um ressentimento enorme por não se sentir mais achado, mais lembrado e reconhecido. Confessou que “foram de facto muitas as cartas insultuosas que fui obrigado a escrever”, isto por não sentir que a sua hora tivesse maneira de chegar. Conviviam nele, assim, de um modo truculento, a modéstia e a soberba, e tinha um desejo desesperado de ver a sua obra assumir outra projecção, e isto está patente na forma como foi recortando as palavras de outros sobre si, como as citava, como cobrava as desatenções, de tal modo que na correspondência com Cesariny, este passa metade do tempo a desculpar-se pelos largos períodos de silêncio. Pressente-se, neste homem que viveu com os pais até à morte destes, uma imensa carência, a insegurança de quem precisa de gestos que lhe definam os contornos, talvez por receio de se apagar. Nos últimos anos, queixava-se repetidamente que lhe faltava até ter a quem falar, e, mesmo nas homenagens que lhe iam fazendo, tanto se comovia como, no momento seguinte, parecia enfadado e ausente. 

Artur do Cruzeiro Seixas foi muitas vezes a imagem do homem à espera, de um sinal, uma palavra que fosse por dia, sabendo como, de outro modo, o calendário começa a despetalar-se. Uma palavra em estado de exaltação, ele que, segundo os que o conheceram, falava num estado perpétuo de exaltação, que é, afinal, a marca distintiva do afecto. Entre as tantas atenções que foi recebendo, orgulhava-se particularmente da justiça que lhe foi feita por Franklin Rosemont, no texto que escreveu a propósito de uma exposição das suas obras na Fundação Eugenio Granell de Compostela: “Entre os pintores selvaticamente inconformistas do nosso tempo, Cruzeiro Seixas indubitavelmente sobressai. Transmutada provocação e a gloriosa potencialidade do improvável, são as marcas que o distinguem. Seja o seu instrumento o pincel, uma caneta ou uma tesoura, é sempre um mestre alquimista, um agitador, um enganador; a maior parte das vezes é as três coisas ao mesmo tempo! (…) Que a sua poesia não seja mais conhecida em países de língua francesa e inglesa é consequência dos caprichos absurdos do mercado na era do neo-imperialismo, agora delicadamente designado como globalização. Cruzeiro Seixas e os seus companheiros são poetas autênticos, que sabem manter os olhos abertos e fechados ao mesmo tempo.”

Dos amigos disse, numa entrevista citada pelo poeta Albano Martins, que eles foram o que de melhor lhe aconteceu. “E disse também, na mesma ocasião, que ‘há uma coisa sublime no meio disto tudo: toda a beleza das pessoas, das árvores, de uma simples pedra há séculos viajando incógnita’.” De resto, e no que toca a essa forma de refracção que dá conta do reflexo que arrancamos do olhar e da boca dos outros, mesmo o título deste obituário foi escolhido por Cruzeiro Seixas, tratando-se do título de uma homenagem que lhe fez Édouard Jaguer, crítico de arte editor da revista Phases. E foram sempre os outros quem melhor articulou por palavras aquilo que a mão tão cheia de ingenuidade de Cruzeiro Seixas foi perpetrando. “Se os desenhos à pena são rumores de catástrofe, braços de bichos cegos, ciclistas despernados, vítimas todos de naufrágio na luz, nos objectos e na pintura, talvez pelo socorro da cor”, notava Cesariny, “é sempre de ironia que se trata, comentário à maneira com que o sol se põe. Ou a janela se abre. Ou a perna se estica. Não haverá maneira mais incómoda de habitar o planeta? Sumptuoso ou selvagem, amável ou terrível, Cruzeiro Seixas dá a outra hipótese, visão objectiva de quem está mas não vai demorar: não é para nós o consumo das coisas.”

Às tantas, também para não se consumir inteiramente, parou. Era tarde, mas não tão tarde que não lhe apetecesse já receber notícias pela sua mão das coisas que se passam no outro mundo. Foi o corpo que lhe pôs um limite. Queixava-se desde há mais de uma década de que o corpo o emparedava, e os instrumentos de que soube servir-se como quem destaca bocados da realidade para colar outra coisa, esses instrumentos estavam eles mesmos suspensos como lembranças, entregues à “suave alegria nocturna” de uma vida que foi nossa, como “sombras mal esboçadas/ de todos os caminhos por achar” (Cesariny). A luz começava a ser-lhe estranha. Estava a ficar cego, e as próprias mãos tinham perdido a sua sabedoria de inocência, o seu rasgo, e o seu fino traço, ao mesmo tempo delicado e acutilante, parecia como que extraviado. Em 2013, Susana Moreira Marques entrevistou-o, num dos mais memoráveis relatos de uma aventura que parecia trancada no pretérito imperfeito. “Trabalhou até muito tarde, quando já não podia desenhar, fazendo colagens com tudo o que lhe vinha à mão: revistas, sacos de papel, cartão usado. O momento em que deixou de trabalhar foi o momento em que, não estando morto, deixou de viver.” Mas nesta impossibilidade de dar seguimento às suas explorações havia ainda uma consistência de espuma, flor de mar que sinaliza a passagem dos navios de longo curso, e nisso ainda se diferenciava de outros que se iludem, e nos cansam mais. Cruzeira Seixas sabia que mais se faz e melhor ficando quieto, calado, do que numa persistência doentia, até porque, como lembrava Cesariny, “nem sempre os que desistem ou morrem são quem vai mais morto”.

À medida que os anos se somavam, acumulavam-se as distinções e, em outubro, recebeu do Ministério da Cultura a Medalha de Mérito Cultural. Mas há uma hora em que as homenagens não parecem mais do que suaves empurrões, a lembrar-nos que já não falta muito, já não falta nada. Estão todos à espera de que um tipo sopre a própria vela. De tal modo que, ontem, a própria morte revelou-se uma notícia algo conspícua e suja, reverberada por desavergonhadas publicações nas redes sociais, e todos tinham uma foto com o poeta, como formigas que se lançam sobre um cadáver ainda fresco, destituído do seu momento de intimidade mais radical, chamado a figurar nessas colagens em que todos vêm espelhar-se narcisicamente no morto. “É por isto que a minha casa fica sempre longe”, anotava Cesariny a lápis num exemplar que tinha Cruzeiro Seixas de “Grunewald” de Marcel Brion. “Souberam ainda emudecer as estrelas/ e entoar comovidos as suas canções tristíssimas (…) Em mim não haveis de pôr os louros nem sequer os espinhos/ porque a minha alma é uma praia por demais erma e ardente/ e as lágrimas do choro mais sincero/ nenhuma mão ainda as recolheu./ Mas para mim as estrelas – quando brilham –/ são mais azuis/ azuis e castas como nos infinitos sonhos/ esses que a morte dá a quem na noite/ descansa os olhos…”

 


 

TESTEMUNHO DE MIGUEL DE CARVALHO, LIVREIRO, POETA E EDITOR

“… curioso é saber que não se fará a história do movimento surrealista em Portugal. Posto entre dois impossíveis, o do início e o do fim…” (Mário Cesariny in A Intervenção Surrealista, 1966, p. 17). Nas horas que decorrem a seguir ao passamento de Cruzeiro Seixas, sucedem-se as homenagens, entre muitas outras, justas, honestas e sentidas pelos periódicos e pelas redes sociais. E aqui reside, sobretudo, o apetite pela novidade, a maior exigência nas quais se movem estes afluentes, os das homenagens, de um rio maior que é a vida. Óbvio que este consumo da novidade pela novidade é motivo de caricatura. Numa rede complexa de relações que Cruzeiro Seixas permitiu ao longo da sua existência secular, várias foram as que ele alimentou no seio do movimento surrealista internacional. E aqui as ouso definir como uma página difícil de relações humanas no seio do próprio movimento. Fica, no entanto, a imensidão da obra de um homem que pinta e que escreve, tal como se auto-definia sempre que o chamavam de artista. É esta enorme constelação que desliga a ficha do nosso eléctrico, e do electrónico, meio cultural, deitando por terra todos os néons das homenagens, que não evidenciam nada mais que as vítimas do erro, o erro que ao surrealismo diz respeito as galerias de arte, as estantes de bibliotecas e as carteiras de cabedal dos mais endinheirados. A obra do poeta Artur permanecerá viva hora avante, sem herdeiros, sem legados, sem ter que pagar impostos de sucessão aos cofres dos ministérios e independente de qualquer necessidade em abrilhantar os currículos académicos. E a universalidade da sua obra, diz respeito, sobretudo, aos territórios fora das nossas fronteiras geográficas em que é estratosfericamente considerada como libertária do amor, da poesia e da revolta. Repare-se que a derradeira mostra Phases (1952-2005) movimento que introduziu surrealistas portugueses por intermédio dos Vancrevel nos inícios de 70, e que Artur tão elegantemente difundiu em Portugal nos anos 70 e 80, incluía alguns portugueses que em torno dele gravitavam e com os quais essas relações deram frutos e continuam hoje a difundir aos ventos as sementes da tríade bretoniana. Recordo ainda no mesmo ano de 2005, Sarane Alexandrien, que até então o desconhecia e através de uma publicação (Naufrágio de Ilustraletrações) sobre diálogos gráficos entre a escrita e a imagem em Cruzeiro Seixas, num discurso na FCG de Paris, considerou-o uma figura marcante do surrealismo universal (…) um homem que manifesta a supremacia da vida interior. Os dois últimos encontros assinaláveis da diáspora surrealista onde participa Cruzeiro Seixas ocorreram em 2012 em Santiago do Chile onde ele foi a figura central de todo o evento, organizado pelo grupo Derrame em torno dos camaradas Enrique e Alcota e do qual resultou um volume de enorme décor a ele dedicado, e depois em 2016 na Costa Rica com Las Llaves del Deseo. Ambas testemunharam à custa da sua obra, as suas vivências numa estrutura que se ergue contra a moral instituída e até contra a História. E neste rol faltam ainda no panorama internacional (este rectângulo não permite espaço para mais) chamadas de atenção ao brasileiro Sérgio Lima, aos holandeses Rik Lina e Laurens Vancrevel, ao casal americano Rosemont, ao casal Jaguer, aos espanhóis Juan Carlos Valera e casal Mateos, aos checos da cidade de Brno, ao australiano Michael Vandelaar, ao editor italiano Arturo Schwarz, entre muitos outros. Mesmo tendo Cesariny dessolidarizado Cruzeiro Seixas desde 1977 do surrealismo (in Mele, Honolulu, 1980, p. 4), tal não traduz em nossa opinião mais que uma ruptura com o próprio, levando Artur do Cruzeiro Seixas a demonstrar que nem todos os surrealistas caminham na mesma direcção, mas accionam e alcançam todos os horizontes do belo, do sublime e do maravilhoso. Quis a ironia surrealista, que com ternura apelidamos de acaso objectivo, que partissem no mesmo mês todos eles da constelação lusa primitiva, o Cruzeiro Seixas, o António Maria Lisboa e o Mário Cesariny. E assim mais Um gato partiu à aventura.

Miguel de Carvalho

editor DSO, Figueira da Foz, 9 de Novembro 2020.