“As medidas são péssimas para a restauração e para o comércio e muito duras para todos. Mas em consciência são as necessárias e essenciais para procurarmos controlar esta pandemia”. O país acordou, ontem, com os ecos das novas medidas de combate ao crescimento exponencial da pandemia anunciadas em conferência de imprensa por António Costa. O recolher obrigatório, pelo menos, nas próximas duas semanas, nos 121 concelhos que estavam sujeitos ao dever cívico de recolhimento (das 23h às 06h de segunda a sexta-feira e das 13h às 05h aos sábados e domingos), apanhou de surpresa empresas e empresários, que com mais este contratempo, não só corroboram as palavras do primeiro-ministro, como até vão mais longe, considerando que estas novas regras representam um abalo irreversível para os respetivos negócios – a proibição da circulação de pessoas, nomeadamente nas tardes e noites dos fins de semana, é encarada como uma “machadada final” para restaurantes e comércio, que há oito meses lutam pela sobrevivência num contexto de extrema dificuldade.
centros comerciais preveem falências e desemprego Em comunicado, a Associação Portuguesa de Centro Comerciais (APCC) afirma que “o setor dos centros comerciais e as empresas não suportam mais paragens de funcionamento forçadas”. “Estas situações provocam prejuízos avultados, perdas de emprego no setor e contribuem para o desacelerar da economia. Esta medida de recolhimento obrigatório aos fins de semana é um grande golpe para o comércio e restauração, e para a economia portuguesa em geral”, alerta António Sampaio de Mattos, presidente da APCC.
Embora concorde que “as questões de saúde pública devam estar na primeira linha das prioridades”, Sampaio de Mattos recorda que o setor “tem um impacto direto e indireto de mais de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) português”, e salienta “que esta medida terá consequências na economia, no PIB nacional, e poderá afetar irremediavelmente os níveis de empregabilidade desta indústria por via de falências no comércio e restaurantes, e até centros comerciais”.
Restauração quer criar gabinete de crise
Ainda antes do anúncio por parte do Governo das novas medidas, já o setor da restauração havia anunciado estar “a caminho do colapso”, segundo comunicado, enviado às redações na quinta-feira, da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) (ver pág. 32). Ontem, foi a vez da Associação Nacional de Restaurantes (Pro.Var) reagir “com desalento total” às declarações de António Costa, afirmando mesmo que “a escolha de horários e datas, tem um propósito bem definido, causar o maior impacto possível e paralisar quase por completo, o setor da restauração”.
Perante as dificuldades que têm vindo a ser descritas nos últimos meses pelas empresas e empresários, a entidade liderada por Daniel Serra não esconde que “as medidas enunciadas ontem caíram com estrondo no setor”. “No entender da associação, não deixa ser um encerramento de porta aberta. Os restaurantes mantêm-se abertos, mas completamente vazios, pois a ordem é para os portugueses ficarem em casa e, nos próximos fins de semana, os restaurantes continuarão abertos, mas só com entregas ao domicílio”.
Segundo a Pro.Var, “a angústia e o medo apoderam-se agora dos empresários, levando a maioria a interrogar-se sobre a eficácia das medidas de apoio a fundo perdido que foram anunciadas há dias, considerando-as extemporâneas, pois percebem que não serão suficientes para salvar as empresas que já se encontram em risco, quanto mais assumir compromissos de manutenção de empregos”.
Como reação, a associação dos restaurantes defende “a criação de um gabinete de crise para acompanhar o setor” que considera encontrar-se “à beira da bancarrota”. “Nesse gabinete, devem estar envolvidas as associações do setor, para apoiar o Governo com contributos no combate à pandemia, e encontrar as verbas adicionais extraordinárias mais adequadas, mas avisamos já que será necessário um montante colossal”, diz a Pro.Var, que, acrescenta, “caso contrário é a hecatombe porque já não há faturação”.
Aglomerações preocupam
Com o recolher obrigatório, uma das principais preocupações dos centros comerciais é a aglomeração de pessoas durante os (reduzidos) períodos de funcionamento aos fins de semana – o que também preocupa os supermercados, embora a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) opte, para já, por não tecer comentários.
Embora admita “que as questões de saúde pública devem estar na primeira linha das prioridades”, a APCC confessa que a decisão do Governo surpreendeu e pode mesmo dificultar a tarefa de impedir a concentração de clientes naqueles espaços comerciais. “Na mesma semana em que assinámos com o Ministério da Economia um protocolo que tem como objetivo incentivar a antecipação das compras de Natal por forma a evitar concentrações de pessoas nos espaços comerciais, somos surpreendidos com uma medida que pode exatamente provocar essas aglomerações de pessoas noutros momentos do dia e da semana”, acrescenta o responsável.
Segundo apurou o i, em cima da mesa estará a possibilidade de serem antecipados os horários de abertura, alargando, assim, o período de funcionamento dos centros comerciais e das suas lojas.