A sabedoria popular encerra grandes verdades, mas nem sempre nos damos conta disso. Esta semana andei preocupado porque precisava de escrever um artigo sobre economia e não me sentia inspirado. Entretanto, quando finalmente me sentei para escrever, ainda sem ideias, reparei numa aranha perto dos meus pés. Se, por um lado, o primeiro pensamento foi esmagá-la, por outro, lembrei-me de uma expressão popular: aranhas são sinal de dinheiro.
Nunca me ocorreu pensar se, ao matarmos a aranha, desperdiçamos a oportunidade de encontrar ou ganhar dinheiro. Seja como for, a verdade é que me senti poderoso. Tinha nas minhas mãos ou, literalmente, nos meus pés o poder de decidir o futuro daquele inseto que ali estava, parado, simplesmente.
Não tenho por hábito relacionar-me com aranhas. Porém, gosto de contar histórias nas minhas aulas e, neste caso, recordo-me precisamente de uma em especial.
Um homem estava a ser perseguido por vários malfeitores que queriam matá-lo. Correndo o mais rápido que conseguia, entrou por um atalho e escondeu-se numa gruta. Em desespero, elevou uma oração a Deus: “Deus todo-poderoso, fazei com que dois anjos desçam do céu e tapem a entrada desta gruta!” Naquele momento ouviu dois dos homens que se aproximavam do lugar onde estava escondido, ao mesmo tempo que reparava que, na entrada, uma minúscula aranha começava a tecer a sua teia. O homem pôs-se a fazer outra oração, ainda mais angustiado: “Senhor, eu pedi anjos, não uma aranha! Por favor, com a tua mão poderosa, coloca um muro forte na entrada desta gruta, impedindo os homens de entrar”. Então abriu os olhos à espera de ver um muro, mas viu apenas a aranha que tecia a sua teia. A morte era tudo o que parecia restar-lhe. Quando os malfeitores se aproximaram, o homem ouviu pela boca de um deles: “Vamos, entremos nesta gruta!” Mas o outro respondeu: “Não, não vês que está cheia de teias de aranha?! Vamos procurá-lo pelo outro caminho porque nesta gruta ninguém entra há muito tempo!”
Talvez tenha sido por isso que não tive coragem de a matar. Tudo é sinal. Tudo nos fala, dependendo apenas da nossa capacidade de entender. Uns veem na aranha um sinal de dinheiro, outros de inutilidade, outros de terror e assim por diante, com tantas interpretações quantas pessoas.
Mais tarde levantei-me com a intenção de sair e vesti um casaco que há muito tempo não usava. Ao meter as mãos nos bolsos para garantir que estava apresentável, encontrei uma nota de dez euros. Com essa não contava eu…
Professor e investigador