Que fossem umas “Presidenciais Americanas” a cada eleição portuguesa


Existe uma dinâmica democrática e uma velocidade vertiginosa de análise, ao segundo, de cada alteração eleitoral nos diversos Estados Americanos, que nos agarra e capta a atenção como se fossem os últimos segundos de uma temporada na Netflix, a final da Liga dos Campeões em futebol ou a última curva num Grande Prémio de F1.


À hora a que escrevo, noite de quarta-feira, ainda não se sabe se o Presidente dos Estados Unidos da América em 2021 será Joe Biden ou Donald Trump.

Para esta reflexão, esse facto, de quem alcança a mítica meta dos “270” nas eleições presidenciais americanas, é tão importante quanto é o vento que sopra agora na serra de Monchique no facto de Portugal estar a reduzir a contratação pública para as sociedades de advogados.

Nestas últimas 48 horas, e ainda continuará por mais umas quantas horas, as televisões portuguesas engalanaram-se para receber as eleições americanas. Nada contra! As plataformas online e digitais desdobraram-se em constantes alertas sobre o que era dito do outro lado do oceano Atlântico. Para quem acompanha e gosta, nada me choca e até agrada, perceber como o Governador da Pensilvânia vai opor-se à suspensão da contagem de votos, como e porquê os Republicanos exigiram que todos os condados da Geórgia separassem todas as cédulas que chegam para garantir uma “eleição livre e justa” ou, ainda, o que são «swing states» e quando «it flipped» para que lado for.

De facto, e verdade seja dita, valeu cada minuto a ausência de horas de sono durante a madrugada de anteontem (neste momento, evidentemente, o corpo rejeita esse agrado eleitoral, mas, acreditem, vale a pena assistir).

Existe uma dinâmica democrática e uma velocidade vertiginosa de análise, ao segundo, de cada alteração eleitoral nos diversos Estados Americanos, que nos agarra e capta a atenção como se fossem os últimos segundos de uma temporada na Netflix, a final da Liga dos Campeões em futebol ou a última curva num Grande Prémio de F1.

Ficam várias questões que irei considerar “portuguesas”: Onde está o interesse português na nossa democracia como existe pela democracia americana? Onde se perderá, daqui a uns dias, após o fecho do processo eleitoral americano, a tamanha dedicação lusa a atos eleitorais e a contagens de votos? Onde estarão os nossos jornalistas a apresentar trabalhos de investigação – incríveis alguns – sobre exemplos de políticas sociais mas, sem ser nos EUA, aqui num dos nossos 308 concelhos? Porque perdem o fascínio tão facilmente?

Será que não há, em São Brás de Alportel no Algarve, ou em Santa Maria de Viseu, um ou uma autarca que também tenha batido porta a porta e tenha construído rede social como fez Alexandra Ocasio-Cortez, em Bronx, no 14º distrito de Nova Iorque? Será que perdemos relevância de mérito por se sermos portugueses? Também temos jovens que batalharam e venceram eleições: Em Juntas de Freguesia, em Assembleias Municipais, em Câmaras Municipais e alguns até foram eleitos Deputados à Assembleia da República ou, também há, Eurodeputados.

Tornamos banal, em cada português, a cultura de que “lá fora é que é bom”. Lá fora, neste caso nos EUA, tudo encanta. Tudo brilha. Tudo respira um ar de uma democracia robusta e coesa, com uma participação altíssima de cidadania (por acaso, nesta eleição americana de 2020, bateram todos os recordes de participação!) e cá, em sentido inverso, é tudo péssimo. Tudo frágil. Tudo trémulo e sem ponta por onde se lhe pegue.

Obviamente que sabemos que nem tudo o que cá se pratica é mau, temos bons exemplos na nossa democracia e, claro, também temos maus. Como, nos EUA, há bons e maus exemplos na forma da democracia funcionar. Não há questão nesta matéria.

Seguramente, e isso é diferente de exemplos e vivências, Portugal ganharia com o mesmo empenho que existe em torno das Presidenciais Americanas se fosse extrapolado para, por exemplo, o acompanhar de umas eleições Legislativas ou, acredito, mesmo numas eleições Autárquicas. Falta-nos paixão. Falta-nos vontade de ver, perceber, debater com conhecimento de causa e viver o processo eleitoral nacional. Os que hoje sabem de cor e salteado quais os «Swing states» são muitos dos que não irão saber no final de 2021 que o Presidente da sua Assembleia Municipal é eleito após a eleição de todos os membros desse órgão ou, ainda, quais as contabilidades (sejam eles 7 ou 9) para que um executivo camarário tenha «maioria absoluta». Alguns, ainda, pensam que tal como António Costa em 2015 ou Bolieiro nos Açores agora em 2020 (talvez), numa Câmara Municipal se uma segunda força política mais votada quiser, pode coligar-se pós-eleitoralmente à terceira e arrebatar a Presidência de Câmara. Spoiler alert: Não pode! Óbvio que não.

Alguns desses portugueses, algarvios por exemplo, que hoje sabem que a Carolina do Norte tem 15 votos eleitorais e que na Geórgia são 16 votos eleitorais, não sabem quantos concelhos existem na nossa região mais a sul do território continental (são 16 concelhos, amigos!).

Alguns portugueses, de Cascais, por exemplo, não sabem quantas freguesias têm (são 4, amigos!) ou quantos Concelhos tem a Área Metropolitana da “sua” Lisboa mas sabem perfeitamente que no Estado da Pensilvânia, ontem, Filadélfia foi “azul” (cor associada ao Partido Democrata) embora o Estado tenha caído para os “vermelhos” (cor associada ao Partido Republicano) dando os votos do colégio eleitoral a Donald Trump.

Naturalmente que é interessantíssimo sabermos mais. É fascinante conhecermos as regras, e é mesmo bonito de se perceber, que circundam toda a eleição americana por Estado e posterior eleição Presidencial.

Porém, é desanimador a paixão passar quando falamos do que “é nosso”. Das nossas eleições Autárquicas em que é fácil desdizer-se e desfazer a paixão dizendo “não vou votar, ganham sempre os mesmos” ou ainda não se saber quem é o seu Presidente de Câmara ou de Junta de Freguesia. Temos um sistema político até mais aberto, que permite a criação (sinal de democracia) de vários partidos ditos “novos” (não olhemos só à Iniciativa Liberal, por exemplo, o próprio Bloco de Esquerda é um partido recente na nossa história democrática), e vivemos a nível local e nacional muita alternância de escolha democrática. É “giro”, é fascinante sim!

A democracia portuguesa é também ela fascinante. Já teve várias figuras de grande oratória também. Vários governantes com ideias e estratégia que nos fez avançar na história. Temos políticas sociais que servem de molde e exemplo neste nosso “Velho Continente” Europeu e são replicadas por vários Estados-Membros.

Se nos dedicássemos ao bom que temos, seguramente que teríamos “Presidenciais Americanas” a cada eleição Autárquica, por exemplo. É um “voto” de cada um de nós, resta-nos andar em permanente campanha por esta vitória de todo um país.

 


Que fossem umas “Presidenciais Americanas” a cada eleição portuguesa


Existe uma dinâmica democrática e uma velocidade vertiginosa de análise, ao segundo, de cada alteração eleitoral nos diversos Estados Americanos, que nos agarra e capta a atenção como se fossem os últimos segundos de uma temporada na Netflix, a final da Liga dos Campeões em futebol ou a última curva num Grande Prémio de F1.


À hora a que escrevo, noite de quarta-feira, ainda não se sabe se o Presidente dos Estados Unidos da América em 2021 será Joe Biden ou Donald Trump.

Para esta reflexão, esse facto, de quem alcança a mítica meta dos “270” nas eleições presidenciais americanas, é tão importante quanto é o vento que sopra agora na serra de Monchique no facto de Portugal estar a reduzir a contratação pública para as sociedades de advogados.

Nestas últimas 48 horas, e ainda continuará por mais umas quantas horas, as televisões portuguesas engalanaram-se para receber as eleições americanas. Nada contra! As plataformas online e digitais desdobraram-se em constantes alertas sobre o que era dito do outro lado do oceano Atlântico. Para quem acompanha e gosta, nada me choca e até agrada, perceber como o Governador da Pensilvânia vai opor-se à suspensão da contagem de votos, como e porquê os Republicanos exigiram que todos os condados da Geórgia separassem todas as cédulas que chegam para garantir uma “eleição livre e justa” ou, ainda, o que são «swing states» e quando «it flipped» para que lado for.

De facto, e verdade seja dita, valeu cada minuto a ausência de horas de sono durante a madrugada de anteontem (neste momento, evidentemente, o corpo rejeita esse agrado eleitoral, mas, acreditem, vale a pena assistir).

Existe uma dinâmica democrática e uma velocidade vertiginosa de análise, ao segundo, de cada alteração eleitoral nos diversos Estados Americanos, que nos agarra e capta a atenção como se fossem os últimos segundos de uma temporada na Netflix, a final da Liga dos Campeões em futebol ou a última curva num Grande Prémio de F1.

Ficam várias questões que irei considerar “portuguesas”: Onde está o interesse português na nossa democracia como existe pela democracia americana? Onde se perderá, daqui a uns dias, após o fecho do processo eleitoral americano, a tamanha dedicação lusa a atos eleitorais e a contagens de votos? Onde estarão os nossos jornalistas a apresentar trabalhos de investigação – incríveis alguns – sobre exemplos de políticas sociais mas, sem ser nos EUA, aqui num dos nossos 308 concelhos? Porque perdem o fascínio tão facilmente?

Será que não há, em São Brás de Alportel no Algarve, ou em Santa Maria de Viseu, um ou uma autarca que também tenha batido porta a porta e tenha construído rede social como fez Alexandra Ocasio-Cortez, em Bronx, no 14º distrito de Nova Iorque? Será que perdemos relevância de mérito por se sermos portugueses? Também temos jovens que batalharam e venceram eleições: Em Juntas de Freguesia, em Assembleias Municipais, em Câmaras Municipais e alguns até foram eleitos Deputados à Assembleia da República ou, também há, Eurodeputados.

Tornamos banal, em cada português, a cultura de que “lá fora é que é bom”. Lá fora, neste caso nos EUA, tudo encanta. Tudo brilha. Tudo respira um ar de uma democracia robusta e coesa, com uma participação altíssima de cidadania (por acaso, nesta eleição americana de 2020, bateram todos os recordes de participação!) e cá, em sentido inverso, é tudo péssimo. Tudo frágil. Tudo trémulo e sem ponta por onde se lhe pegue.

Obviamente que sabemos que nem tudo o que cá se pratica é mau, temos bons exemplos na nossa democracia e, claro, também temos maus. Como, nos EUA, há bons e maus exemplos na forma da democracia funcionar. Não há questão nesta matéria.

Seguramente, e isso é diferente de exemplos e vivências, Portugal ganharia com o mesmo empenho que existe em torno das Presidenciais Americanas se fosse extrapolado para, por exemplo, o acompanhar de umas eleições Legislativas ou, acredito, mesmo numas eleições Autárquicas. Falta-nos paixão. Falta-nos vontade de ver, perceber, debater com conhecimento de causa e viver o processo eleitoral nacional. Os que hoje sabem de cor e salteado quais os «Swing states» são muitos dos que não irão saber no final de 2021 que o Presidente da sua Assembleia Municipal é eleito após a eleição de todos os membros desse órgão ou, ainda, quais as contabilidades (sejam eles 7 ou 9) para que um executivo camarário tenha «maioria absoluta». Alguns, ainda, pensam que tal como António Costa em 2015 ou Bolieiro nos Açores agora em 2020 (talvez), numa Câmara Municipal se uma segunda força política mais votada quiser, pode coligar-se pós-eleitoralmente à terceira e arrebatar a Presidência de Câmara. Spoiler alert: Não pode! Óbvio que não.

Alguns desses portugueses, algarvios por exemplo, que hoje sabem que a Carolina do Norte tem 15 votos eleitorais e que na Geórgia são 16 votos eleitorais, não sabem quantos concelhos existem na nossa região mais a sul do território continental (são 16 concelhos, amigos!).

Alguns portugueses, de Cascais, por exemplo, não sabem quantas freguesias têm (são 4, amigos!) ou quantos Concelhos tem a Área Metropolitana da “sua” Lisboa mas sabem perfeitamente que no Estado da Pensilvânia, ontem, Filadélfia foi “azul” (cor associada ao Partido Democrata) embora o Estado tenha caído para os “vermelhos” (cor associada ao Partido Republicano) dando os votos do colégio eleitoral a Donald Trump.

Naturalmente que é interessantíssimo sabermos mais. É fascinante conhecermos as regras, e é mesmo bonito de se perceber, que circundam toda a eleição americana por Estado e posterior eleição Presidencial.

Porém, é desanimador a paixão passar quando falamos do que “é nosso”. Das nossas eleições Autárquicas em que é fácil desdizer-se e desfazer a paixão dizendo “não vou votar, ganham sempre os mesmos” ou ainda não se saber quem é o seu Presidente de Câmara ou de Junta de Freguesia. Temos um sistema político até mais aberto, que permite a criação (sinal de democracia) de vários partidos ditos “novos” (não olhemos só à Iniciativa Liberal, por exemplo, o próprio Bloco de Esquerda é um partido recente na nossa história democrática), e vivemos a nível local e nacional muita alternância de escolha democrática. É “giro”, é fascinante sim!

A democracia portuguesa é também ela fascinante. Já teve várias figuras de grande oratória também. Vários governantes com ideias e estratégia que nos fez avançar na história. Temos políticas sociais que servem de molde e exemplo neste nosso “Velho Continente” Europeu e são replicadas por vários Estados-Membros.

Se nos dedicássemos ao bom que temos, seguramente que teríamos “Presidenciais Americanas” a cada eleição Autárquica, por exemplo. É um “voto” de cada um de nós, resta-nos andar em permanente campanha por esta vitória de todo um país.