Pandemia fez tremer economia com melhores resultados dos últimos 60 anos

Pandemia fez tremer economia com melhores resultados dos últimos 60 anos


Analistas contactados pelo i admitem que, durante os primeiros três anos do mandato de Trump, a economia americana cresceu a um ritmo superior ao do resto das economias avançadas do Ocidente, tanto em termos do PIB como de criação de emprego.


“A economia americana até à crise pandémica obteve os melhores indicadores dos últimos 60 anos com a administração Trump”. A garantia foi dada ao i por Pedro Amorim, analista da Infinox, ao lembrar que foi registado um crescimento acima da Europa e do Japão e que os EUA “conseguiram ter a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 60 anos, subidas nos salários e recordes nos índices bolsistas, entre outros”.

No entanto, o especialista admite que o aparecimento da covid-19 trocou as voltas ao Presidente norte-americano. “O aparecimento da pandemia foi o fim da carpete vermelha para Trump. Neste momento, o mundo desenvolvido encontra-se provavelmente na sua maior crise económica, com as pequenas empresas a enfrentarem enormes dificuldades.

Também Henrique Tomé, analista da XTB,_reconhece que a administração de Donald Trump registou um papel importante na economia americana e principalmente no setor financeiro, em Wall Street. “Recentemente foram divulgados os dados sobre o crescimento do PIB americano ao longo deste ano pandémico e observámos que, mesmo num período tão incerto e atípico, a economia americana registou um aumento do PIB de +30%. Estes resultados acabam por beneficiar Trump”, admite ao i.

O responsável lembra que a pandemia levou a que a maior parte dos Governos tenham tomado medidas de atuação rápidas de forma a minimizar os efeitos da pandemia na economia, e os EUA não foram exceção. “Donald Trump tomou medidas que acabaram por ser controversas, uma vez que não tem levado a situação pandémica tão a sério como as restantes economias. A propagação do vírus numa fase inicial acabou por infetar vários americanos – devido à falta de medidas – e gerou grandes impactos na economia, como um número de desempregados de cerca de 22 milhões de americanos durante o pico da primeira onda da pandemia. Contudo, nos últimos meses já foram recuperados 11 milhões de postos de trabalho”.

A opinião é partilhada por Ricardo Evangelista ao reconhecer que o balanço dos primeiros três anos foi, no geral, positivo. “Durante os primeiros três anos do mandato de Trump, a economia americana cresceu a um ritmo superior ao do resto das economias avançadas do Ocidente, tanto em termos do PIB como de criação de emprego. Trump reclama para si o mérito por detrás desta performance, apresentando os cortes na taxa de imposto corporativo como sendo a principal razão para o maior dinamismo da atividade económica nos EUA comparativamente à dos seus pares. No entanto, uma análise mais cuidada revela que, apesar de ser inegável que o corte nos impostos tenha tido um impacto positivo no crescimento, possivelmente, ele teria acontecido de qualquer forma. O segundo mandato de Obama foi também marcado por uma economia em crescendo, com o ciclo a manter-se até 2019”. Mas o analista sénior da ActivTrades deixa um alerta: “Alguns observadores apontam a escalada das tensões comerciais com a China, e mesmo com alguns dos aliados tradicionais dos EUA, como tendo tido um impacto negativo na atividade económica americana, forçando algumas empresas a diminuir as suas margens devido aos custos adicionais provocados pelas tarifas em produtos e componentes importados, bem como devido à retaliação da China, que resultou numa diminuição muito significativa das suas compras aos EUA, sobretudo de produtos agrícolas”, diz ao i.

 

O que esperar

Henrique Tomé acredita que, se Donald Trump vencer as eleições, será esperado que se mantenha o mesmo registo dos últimos anos._No entanto, lembra que existem temas que acabam por não beneficiar de todo o atual Presidente. E dá como exemplo a guerra comercial com a China “e as recentes declarações em que referiu que a China teria de ser punida devido aos problemas da pandemia, que afetou todo o mundo e que teve origem numa província chinesa”.

Mas admite que, se Joe Biden vencer estas eleições, também é expetável que seja vista uma reação positiva no mercado acionista. E vai mais longe: “Joe Biden pretende aumentar os impostos, em especial para as empresas do setor tecnológico – o que acaba por representar uma ameaça para o mercado acionista, pelo que poderemos assistir a uma reação negativa no mercado, nomeadamente no Nasdaq. O risco de um novo confinamento também acaba por assustar o mercado, uma vez que Biden já referiu a intenção de o fazer caso vença as eleições e a propagação do vírus se mantenha ao ritmo atual”, acrescentando que, por outro lado, “aspetos como um possível acordo com o Irão e o facto de ser apologista da adoção de uma maior utilização de energias renováveis em vez das fósseis acabem por beneficiar Joe Biden nas intenções de voto”.

Já Pedro Amorim acredita que “uma vitória de Trump com o controlo republicano continuado do Senado pode ser marginalmente positiva para os mercados”, lembrando que “manter o statu quo significa provavelmente uma continuação de impostos mais baixos e regulamentações relaxadas – por exemplo, para os setores financeiro e de energia –, fatores considerados favoráveis ao mercado que podem compensar os potenciais ventos contrários criados pelas contínuas tensões comerciais”.

Por seu lado, uma vitória de Biden é vista pelo analista como uma possível reação neutra do mercado. “A proposta de Biden de aumentar os gastos fiscais pode ajudar a contrabalançar o potencial impacto negativo sobre os lucros do seu plano de aumentar as taxas de impostos corporativos. A nossa estimativa é que as propostas apresentadas por Biden poderiam levar o índice S&P500 a cair 12%, correspondendo a uma queda de 12% por ação dos EPS (earnings per share) – devido ao aumento de impostos. A Presidência de Biden pode ser uma boa notícia para hospitais e seguradoras de saúde ao ampliar os subsídios do Affordable Care Act e resolver o mais recente desafio constitucional”.

Ricardo Evangelista admite que “quer ganhe Trump ou Biden, desde que tal aconteça por uma margem clara que não dê espaço a disputas legais que façam arrastar o anúncio do vencedor, a tendência será para que, com a chegada de um acordo relativamente ao pacote de estímulo fiscal, a atividade económica entre de novo num ciclo de expansão. Em termos mais específicos, Trump apresenta poucas propostas para a economia além de prometer baixar ainda mais os impostos e manter a aposta no setor energético tradicional do petróleo, gás e carvão”. No entanto, o analista lembra que o programa eleitoral de Joe Biden prevê um forte investimento na infraestrutura, bem como a aceleração da transição, no setor da energia, da fóssil para as renováveis. “Além disso, promete subir ligeiramente os impostos e regular o setor da tecnologia. Penso que dentro deste programa encontramos aspetos que serão positivos para a economia, como o forte investimento público em infraestrutura, e outros, como a subida dos impostos, que pelo menos no curto prazo poderão ser menos positivos”.

 

O que diferencia da economia europeia

Henrique Tomé lembra que a economia americana é a maior economia do mundo e o estado dessa economia reflete o estado das restantes. “Os EUA têm um mercado de capitais mais desenvolvido e eficiente face à União Europeia e não devemos ignorar o facto de terem a maior bolsa mundial. O orçamento dos EUA representa 20% do PIB do país, que é gerido pela Reserva Federal Americana (FED), ao contrário da União Europeia, onde o Banco Central Europeu (BCE) gere apenas 1% do PIB europeu”, diz ao i.

Também Pedro Amorim lembra que os EUA têm uma economia liberal e capitalista, enquanto a Europa tem um peso elevado das instituições e está altamente endividada. “Nesta altura, quem sofre mais é quem tem elevados rácios de endividamento. Por outro lado, temos uma economia americana voltada para a investigação e o desenvolvimento (muita tecnologia); por outro, temos a Europa com empresas de capital conservadoras, viradas para os serviços essenciais (bens do dia-a-dia)”, salienta.

Já Ricardo Evangelista chama a atenção para o facto de o peso do Estado na economia europeia ser muito superior face aos Estados Unidos. “A Europa tem, neste momento, uma economia mais aberta, enquanto os EUA, sobretudo desde a chegada de Trump, adotaram uma postura mais protecionista. Diria também que nos Estados Unidos tem existido historicamente um nível de tolerância do défice nas contas públicas que ultrapassa bastante o da União Europeia. No entanto, essa divergência parece ter diminuído nos últimos tempos, com a pandemia a exigir uma menor observância do teto dos 3% de défice orçamental face ao PIB que, até há pouco tempo, tantos problemas tinha criado aos países do sul da zona euro”.