No mundo. A comunidade internacional está com as atenções centradas naquelas que prometem ser as eleições norte-americanas mais participadas desde 2008, quando Barack Obama foi eleito para o seu primeiro mandato, registando uma participação de 62%.
Nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, em que Donald Trump concorreu com Hillary Clinton, votaram cerca de 138 milhões de eleitores dos 230 milhões recenseados. Hoje, a um dia das eleições, já votaram cerca de 81 milhões de eleitores através do voto por correspondência. Uma resposta eficaz ao apelo que foi realizado em muitos estados, atendendo ao contexto da pandemia provocada pelo Covid-19, aos quais se juntam os votos antecipados habituais nestas eleições.
As sondagens têm sido constantes na vitória que antecipam para o candidato democrata, Joe Biden, ainda que por uns escassos 4 pontos de vantagem, dentro da margem de erro possível. Os editoriais dos principais jornais norte-americanos são unânimes no favoritismo que exibem quanto à dupla Joe Biden/Kamala Harris, denunciando e acusando Trump de más práticas governativas e apelando ao voto nos democratas.
A este propósito, convém referir que nos Estados Unidos é prática comum os jornais manifestarem o seu apoio às candidaturas presidenciais, o que coloca algumas reservas quanto à idoneidade da informação veiculada pelo órgão de comunicação, já que os seus editoriais seguem uma linha de orientação que apoia publicamente uma candidatura. O mesmo se reflete na cobertura mediática que fazem das candidaturas, assim como condiciona uma abordagem imparcial aos candidatos e à campanha eleitoral. Os números são esclarecedores quanto a esta prática e à divisão que se faz sentir nos meios de comunicação norte-americanos: até agora, o período eleitoral, foram publicados cerca de 120 editoriais em jornais diários e semanários apoiando a candidatura de Biden, enquanto Trump teve o apoio de apenas seis editoriais. A esta tendência, junta-se uma outra: quinze jornais que não manifestaram qualquer apoio nas últimas eleições, fizeram-no agora a favor de Joe Biden, ao passo que Trump só obteve um apoio nas mesmas condições.
Esta realidade é semelhante à que se passou em 2016, com Hillary Clinton, que teve o apoio formal de 243 publicações diárias, e com Donald Trump que contava com o apoio formal de 20 editoriais. De entre os 100 jornais com maior circulação, a candidata democrata reuniu o apoio de 57, face a dois periódicos que optaram por Trump.
Este ano, até a revista científica Scientific American anunciou o seu apoio a um candidato, neste caso Joe Biden, apesar de nunca o ter feito em 175 anos de história.
Há pouca evidência sobre o impacto que estes apoios formais possam causar na escolha dos eleitores, quando chega o momento de ir às urnas. Na verdade, os jornais estão, previamente, conotados com as alas com as quais mais se identificam. A surpresa pode surgir quando o alinhamento expectável é desfeito com a transição de um apoio para um outro candidato.
À semelhança das últimas eleições, Trump avançou na sua campanha eleitoral sem o apoio da maioria da comunicação social e com as sondagens a vaticinarem a sua não reeleição.
Mas o que conta é a vontade do eleitor norte-americano: o self-made man que se levanta todos os dias para ir trabalhar na terra das oportunidades, onde tudo pode acontecer. É para este perfil que Trump fala e aponta com o seu indicador em riste, quando aposta tudo na economia, pedindo aos norte-americanos que aprendam a lidar com a pandemia, que não desaparecerá tão cedo. Um discurso irracional para muitos, mas que para o assalariado que não tem qualquer apoio do Estado faz todo o sentido, até porque se trata da sua sobrevivência e da sua família.
Será isto tão irracional quando não há mais nada para esperar do dia seguinte?
Por cá. O desconforto social começa a fazer-se sentir, com os cidadãos a questionarem as medidas restritivas do governo e das autarquias, à medida que a preocupação aumenta e se confirma que não haverá melhorias nos próximos meses. A economia parece não resistir muito mais às investidas do vírus e às suas consequências. Sentimo-nos divididos entre proteger os grupos de risco a qualquer custo e com confinamentos obrigatórios, e entre regressar à normalidade com regras claras e mandatórias mas às quais a população tem demonstrado resistência. Mesmo quando certas atividades são permitidas, torna-se visível que a maioria é displicente e irresponsável, apesar dos apelos que são reiteradamente realizados. Exemplos desta conduta foram as imagens das multidões que foram á Nazaré para ver as ondas gigantes.
Atentemos no que se passa em Madrid, Barcelona, Londres, Berlim, onde os desacatos não são mais do que o fruto de um grupo em fúria e sem preocupação pelos outros. Por cá, não queremos que o mesmo aconteça, mas isso só depende de cada um de nós e do nosso sentido de responsabilidade em comunidade.
Escreve quinzenalmente