“Homens de confiança” de Neeleman continuam a mandar na TAP

“Homens de confiança” de Neeleman continuam a mandar na TAP


O Governo exigiu a saída de Antonoaldo Neves da TAP, mas todos os seus “homens de confiança” (contratados no consulado de David Neeleman) se mantêm em posições-chave na empresa. Os sindicatos já transmitiram a Ramiro Sequeira e a Miguel Frasquilho existir um sentimento de “desconfiança”.


“Já devia ter saído. Para que uma nova equipa alinhada com os interesses do povo português possa fazer o mais depressa possível a gestão da TAP ao serviço do povo português”. As palavras aos jornalistas sobre o então presidente executivo da TAP Antonoaldo Neves, proferidas em meados de setembro pelo ministro Pedro Nuno Santos, prometiam inaugurar uma nova era na história da companhia aérea nacional. Porém, mais de um mês depois, a renúncia do “braço direito” de David Neeleman – que viria a concretizar-se nos dias seguintes – não se revelou na mudança esperada. Os restantes “homens de confiança” de Neeleman e Antonoaldo permanecem, ainda hoje, ao serviço da TAP, em posições estratégicas na empresa: Raffael Quintas, administrador financeiro, Arik De, líder do departamento de rotas e controlo de receita, e Abílio Martins, responsável pelo marketing, comércio digital e comunicação, continuam a cumprir exatamente as mesmas funções, apesar das alterações na estrutura societária do grupo – que permitiu ao Estado passar a controlar 72,5% da transportadora.

O i apurou que a situação tem provocado um crescente sentimento de insatisfação no seio da empresa, com trabalhadores a admitirem “sentir falta de confiança em relação aos gestores” ligados aos anteriores patrões. É, precisamente, o que acontece no departamento liderado por Arik De, responsável pelo plano de retoma de voos da companhia (e que tanta tinta já fez correr). “Os trabalhadores do departamento de rotas e controlo de receita sentem um grande desconforto em relação à gestão que tem sido feita”, denuncia José Sousa, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), que confirma que, de facto, “tem vindo a crescer a desconfiança em relação a gestores nomeados pelos anteriores acionistas privados”. O sindicalista acrescenta ainda que a situação é atualmente “muito difícil”, pois “não existe praticamente comunicação entre Arik De e alguns dos trabalhadores do seu próprio departamento”. O líder do Sitava diz mesmo que já abordou o tema numa reunião que juntou Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração da TAP (e que na semana passada também foi nomeado administrador da TAP, S.A.), e Ramiro Sequeira, líder interino da comissão executiva. Até ao momento, nada se alterou.

Henrique Louro Martins, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), corrobora a opinião, e também aponta o dedo a Arik De. “Continuamos a não compreender as opções daquele departamento, que está a contribuir para que a retoma da TAP seja feita de forma demasiado lenta, muito longe dos números de outras companhias que também voam para Portugal”. Em relação aos outros administradores, Henrique Louro Martins afirma que “existe uma total falta de informações”. “Desde a saída de Antonoaldo Neves, nunca mais se ouviu falar destas pessoas. O SNPVAC desconhece, neste momento, quais são as funções que elas desempenham, ou sequer se serão tidas em conta para o futuro da empresa”.

Perante as queixas, o i tentou saber junto da TAP se estes gestores mantêm as mesmas funções na empresa, desde que o Estado assumiu o controlo, e se o conselho de administração e comissão executiva mantêm a confiança nos nomes escolhidos por David Neeleman e Antonoaldo Neves para liderarem as respetivas áreas. Fonte oficial da empresa informou apenas que não fará “nenhum comentário” sobre o assunto. A mesma posição foi assumida pelo Ministério das Infraestruturas e da Habitação. Fonte oficial escusou-se a tecer quaisquer comentários.

Dança de portáteis A contratação pela Boston Consulting Group – a consultora norte-americana responsável pelo plano de reestruturação da companhia (que será apresentado a Bruxelas até 10 de dezembro) – de quatro elementos que tinham sido escolhas pessoais de Arik De para trabalharem no departamento de redes e controlo de receita da TAP (recrutados entre março de 2019 e março de 2020) está a ser igualmente encarada com “estranheza” pelos trabalhadores. O i sabe que a consultora norte-americana já colocou estes profissionais a trabalhar no “dossiê TAP”, o que significa que o plano de reestruturação da empresa – que vai definir o futuro da companhia aérea – irá passar pelas “mãos” de elementos que são (ou foram) próximos dos “homens de confiança” de David Neeleman e Antonoaldo Neves.

O Sitava já tinha denunciado a situação como “reprovável e insultuosa”, considerando ainda que “coloca em causa a transparência do processo de reestruturação”. O i apurou que a administração, presidida por Miguel Frasquilho, tomou conta da ocorrência, mas alega que nada pode fazer, pois são opções que dizem única e exclusivamente respeito à Boston Consulting Group, uma empresa privada que, nesta fase, apenas presta um serviço à TAP.

Porém, o i apurou ainda que estes quatro profissionais continuam a utilizar os mesmos equipamentos informáticos que tinham sido cedidos pela TAP, nomeadamente quatro computadores portáteis, que não chegaram a devolver aquando da saída da transportadora. A situação ainda não foi esclarecida, nem se sabe a quais informações e documentos internos da TAP têm ainda acesso estes elementos.