A ministra que nos trata da saúde

A ministra que nos trata da saúde


Com que autoridade gente assim pode liderar e comandar este combate de morte?E a saúde é apenas um exemplo.


Na SIC, Ricardo Araújo Pereira notou que a ministra não consegue fixar o número de telefone da Saúde 24 (escolhido para ser imediatamente decorado). Já tinha reparado nesse tipo de disfunções da senhora. Nos encontros com a comunicação social não lê, soletra. Soletra o mais banal que devia dizer de memória ou ocorrer-lhe na altura – disfunção que, se não fosse indicativa de outras mais graves, nem teria importância.

A 23/10, noticiou o Expresso, “voltou a avisar que os números vão continuar a subir e que as medidas terão, inevitavelmente, de ser reavaliadas”. Parece que os responsáveis somos nós! Mas é a própria.

Portugal precisa de uma ministra a sério, confiante, que aja, tivesse antevisto, soubesse o que andava a fazer, que animasse, desse espírito de resistência aos Portugueses, traga esperança!

É por isso que uma diretora-geral da Saúde com afirmações irresponsáveis não lhe faz sombra – que a máscara dá um falso sentimento de segurança, que só protege o outro! E agora que o seu uso terá de ser, finalmente, obrigatório, as senhoras não se demitem? Apontem-me um único inconveniente de usar máscara. Se logo que as houve tivessem sido impostas, não teria havido necessidade de confinamento e o país não fecharia.

Com que autoridade gente assim pode liderar e comandar este combate de morte?

A saúde é apenas um exemplo. O Governo é um aglomerado de “poucochinhos” (maneira elegante como o meu amigo João Lobo Antunes se referia aos medíocres). Com a exceção de AC e três ou quatro ministros. E um já saiu. Outro, o melhor, deve ansiar por sair.

É certo que vem sendo cada vez mais difícil o recrutamento, dado o deserto geral de qualidade que se verifica em todos os domínios da vida do país nas gerações com menos de 50 anos. Desde logo na política, efeito e causa. Compare-se com a minha e as anteriores gerações. Na literatura ou no jornalismo, por exemplo.

Mas, mesmo assim, ainda era possível escolher dez ministros a sério, que mais é impedir a eficácia do Governo e desbaratar o dinheiro de todos nós. Porque preferiu AC um Governo quase de faz- -de-conta? Secretárias em vez de ministros? Claro que não estava à espera do que veio mas, mesmo assim, sinceramente não compreendo.

Proponho um exercício. Comparem-se os currículos dos atuais ministros com os dos Governos de Mário Soares, Marcello Caetano e Salazar. (Note-se que a inteligência, a cultura, a competência e a seriedade não são exclusivo da esquerda ou da direita).

A titulo de exemplo, transcrevo o currículo de Pedro Nuno Santos. Ministro das Infraestruturas e da Habitação. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no xxi Governo. Licenciado em Economia pelo ISEG-UTL, onde foi presidente da mesa da reunião geral de alunos. Integrou o grupo empresarial da família, Tecmacal. Secretário-geral da JS. Presidente da Federação de Aveiro do PS. Deputado na x e xi legislaturas. Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS e coordenador dos deputados do PS na Comissão de Economia e na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Caso BES (2015- 2019). Isto é, zero. Nem assumiu sequer a responsabilidade de gerir o orçamento de uma junta de freguesia, o que o honraria. E não anda a mentir sobre a segurança nos transportes?

E acrescento: responsável agora pela solução do complexo dossiê TAP, implicando o destino de milhões de euros dos portugueses – responsabilidade que assumiu com a frase profunda e elegante, a encher o país de confiança: “Isto agora vai ser outra coisa!”. Ver-se-á.

E por ser um posto tão relevante num Governo, transcrevo ainda o currículo de Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, que substitui o PM nos seus impedimentos, nomeadamente presidindo às reuniões do CM (no Governo de Mário Soares, o MP foi… Henrique de Barros). Licenciada em Sociologia pelo ISCTE. Concluiu a parte curricular do doutoramento em Políticas Públicas na mesma instituição. Entre 2005 e 2009, assessora da ministra da Educação. Adjunta do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro entre 2009 e 2011. Investigadora no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL). Isto é, menos que zero.

Mas manda a justiça dizer que MVS tem dois méritos relativamente a PNS: é polida e não integrou a JS (no que as juventudes partidárias se tornaram).

Seja qual for a orientação política dos Governos, o abaixamento de qualidade tem sido crescente – menos nos anteriores, extremo neste. Do atual Governo, fossem fascistas ou democratas, só dois ou três ministros poderiam ter integrado Governos de Salazar, Marcello Caetano ou Mário Soares.

Concluindo: não podemos surpreender-nos com o que está a ser o rumo da República, da democracia e do país. E do Partido Socialista. Não se pode fazer omeletas sem ovos.

 

Ensaísta e editor