8 meses depois, a confusão que regressa


No momento em que se batem recordes diários do número de pessoas infetadas e falecidas, ficamos todos com a sensação que a confusão volta a grassar no SNS, da DGS e no Ministério da Saúde. Este aparente estado de desorganização, cerca de 8 meses após a informação dos primeiros casos de infetados com COVID-19, obriga-nos…


No momento em que se batem recordes diários do número de pessoas infetadas e falecidas, ficamos todos com a sensação que a confusão volta a grassar no SNS, da DGS e no Ministério da Saúde.

Este aparente estado de desorganização, cerca de 8 meses após a informação dos primeiros casos de infetados com COVID-19, obriga-nos a fazer um pequeno esforço adicional de ação num ano que caminha aceleradamente para o seu término.

Apesar de cada vez mais se saber sobre o comportamento do vírus, como se propaga, manifesta e os impactos que tem sobre a população, pelos relatos que me chegam, tudo isto coloca uma pressão diferente daquela que existia no inicio da pandemia em Portugal,  que se não for atacada poderá ter os resultados que menos desejaríamos: regressarmos todos a um Estado de Emergência e confinamento generalizado, com consequências socioeconómicas ainda mais imprevisíveis.

Para o “homem médio” é completamente impercetível a forma como se comporta a DGS quanto aos critérios que determina para a realização de determinados eventos em detrimento de outros. Quanto aos rigorosos cuidados a ter em algumas situações (como foi o caso da Festa do Avante) e quanto ao aparente relaxamento de outros (como foi o caso do GP de Fórmula 1 em Portimão, no passado fim-de-semana). É inexplicável.

As orientações técnicas que vão surgindo são cada vez mais e diferentes e, como já aqui disse em setembro, quanto à realização de eventos, teríamos a ganhar que todos, mas mesmo todos, os pareceres relativamente a eventos deveriam ser publicitados no site da DGS ou do “Estamos On”.

Por outro lado, não deixa de ser estranho, para a pessoa comum, que o período de confinamento passe de 15 para 10 dias e que uma pessoa infetada não precise agora sequer de ter quaisquer testes negativos ao vírus para regressar à sua vida normal, bastando apenas uma declaração individual a declarar que já não sente qualquer sintoma. Sabendo de antemão que muitos dos infetados são assintomáticos, fica-se com dúvidas se essas pessoas não estarão a contagiar outras, cujo impacto na sua saúde pode ser mortal.

Também e à medida que a pandemia foi evoluindo no país, o Ministério da Saúde, as suas Administrações Regionais e os hospitais começaram a comportar-se perante o vírus como “business as usual”. Foram já vários os relatos de médicos denunciando que os hospitais se encontram neste momento a empurrar entre si os doentes com COVID-19 de forma a poderem cumprir uma qualquer percentagem de infetados por unidade e assim conseguirem regressar à atividade programada, como cirurgias, que são importantes para os objetivos de receita dos hospitais e que se encontram contratualizados. Voltamos à política economicista do Ministério da Saúde, das ARS e das administrações hospitalares em que a sua preocupação primordial são as receitas e as despesas. Estes relatos reportam, ainda que, em matéria de contratação dos equipamentos e materiais necessários para os cuidados de saúde, as administrações hospitalares voltaram a colocar garrotes na despesa, independentemente das necessidades.

Não gostaria que estas críticas fossem entendidas como simples “bota-abaixismo”, mas apenas como alertas para que se possa corrigir alguns comportamentos que parecem ser prejudiciais a toda a sociedade. A pressão que existe em todos os decisores, as variáveis que determinam as ações, não só no SNS, mas também em toda a vida nacional são imensas e algumas completamente imprevisíveis. No entanto existem algumas dimensões, entre as quais as de informação, logísticas e de decisão que não podem de todo ser percecionadas como contraditórias, sobretudo aquelas que não o sejam.

Pedro Vaz

  

8 meses depois, a confusão que regressa


No momento em que se batem recordes diários do número de pessoas infetadas e falecidas, ficamos todos com a sensação que a confusão volta a grassar no SNS, da DGS e no Ministério da Saúde. Este aparente estado de desorganização, cerca de 8 meses após a informação dos primeiros casos de infetados com COVID-19, obriga-nos…


No momento em que se batem recordes diários do número de pessoas infetadas e falecidas, ficamos todos com a sensação que a confusão volta a grassar no SNS, da DGS e no Ministério da Saúde.

Este aparente estado de desorganização, cerca de 8 meses após a informação dos primeiros casos de infetados com COVID-19, obriga-nos a fazer um pequeno esforço adicional de ação num ano que caminha aceleradamente para o seu término.

Apesar de cada vez mais se saber sobre o comportamento do vírus, como se propaga, manifesta e os impactos que tem sobre a população, pelos relatos que me chegam, tudo isto coloca uma pressão diferente daquela que existia no inicio da pandemia em Portugal,  que se não for atacada poderá ter os resultados que menos desejaríamos: regressarmos todos a um Estado de Emergência e confinamento generalizado, com consequências socioeconómicas ainda mais imprevisíveis.

Para o “homem médio” é completamente impercetível a forma como se comporta a DGS quanto aos critérios que determina para a realização de determinados eventos em detrimento de outros. Quanto aos rigorosos cuidados a ter em algumas situações (como foi o caso da Festa do Avante) e quanto ao aparente relaxamento de outros (como foi o caso do GP de Fórmula 1 em Portimão, no passado fim-de-semana). É inexplicável.

As orientações técnicas que vão surgindo são cada vez mais e diferentes e, como já aqui disse em setembro, quanto à realização de eventos, teríamos a ganhar que todos, mas mesmo todos, os pareceres relativamente a eventos deveriam ser publicitados no site da DGS ou do “Estamos On”.

Por outro lado, não deixa de ser estranho, para a pessoa comum, que o período de confinamento passe de 15 para 10 dias e que uma pessoa infetada não precise agora sequer de ter quaisquer testes negativos ao vírus para regressar à sua vida normal, bastando apenas uma declaração individual a declarar que já não sente qualquer sintoma. Sabendo de antemão que muitos dos infetados são assintomáticos, fica-se com dúvidas se essas pessoas não estarão a contagiar outras, cujo impacto na sua saúde pode ser mortal.

Também e à medida que a pandemia foi evoluindo no país, o Ministério da Saúde, as suas Administrações Regionais e os hospitais começaram a comportar-se perante o vírus como “business as usual”. Foram já vários os relatos de médicos denunciando que os hospitais se encontram neste momento a empurrar entre si os doentes com COVID-19 de forma a poderem cumprir uma qualquer percentagem de infetados por unidade e assim conseguirem regressar à atividade programada, como cirurgias, que são importantes para os objetivos de receita dos hospitais e que se encontram contratualizados. Voltamos à política economicista do Ministério da Saúde, das ARS e das administrações hospitalares em que a sua preocupação primordial são as receitas e as despesas. Estes relatos reportam, ainda que, em matéria de contratação dos equipamentos e materiais necessários para os cuidados de saúde, as administrações hospitalares voltaram a colocar garrotes na despesa, independentemente das necessidades.

Não gostaria que estas críticas fossem entendidas como simples “bota-abaixismo”, mas apenas como alertas para que se possa corrigir alguns comportamentos que parecem ser prejudiciais a toda a sociedade. A pressão que existe em todos os decisores, as variáveis que determinam as ações, não só no SNS, mas também em toda a vida nacional são imensas e algumas completamente imprevisíveis. No entanto existem algumas dimensões, entre as quais as de informação, logísticas e de decisão que não podem de todo ser percecionadas como contraditórias, sobretudo aquelas que não o sejam.

Pedro Vaz