Em julho, vários países da Europa foram alertados para a existência deste fenómeno, mas cerca de dois meses depois de terem chegado a Portugal, as sementes asiáticas continuam envoltas em mistério. O i sabe que a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) continua a receber pacotes enviados por “cidadãos nacionais” que têm visto as caixas de correio das suas casas serem invadidas por sementes asiáticas – no cômputo geral, a DGAV recebeu, até ao final da semana passada, um total de 70 pacotes.
No entanto, a razão pela qual estas sementes estão a ser remetidas para casa dos portugueses está longe de desvendada. De acordo com o Ministério da Agricultura, as sementes já foram analisadas e, até agora, acabaram por ser identificadas 29 espécies vegetais diferentes – algumas das quais exóticas –, vindas de diversos países.
“As origens são China, Vietname e Malásia. Muitas das embalagens têm origem em Malta, estando as autoridades portuguesas a colaborar com as autoridades maltesas para perceber a sua real origem”, sublinhou a tutela ao i, adiantando ainda que tanto a Polícia de Segurança Pública (PSP) como a Guarda Nacional Republicana (GNR) têm recebido denúncias de pessoas que fazem questão de lhes enviar os pacotes que recebem.
Ao i, a PSP avançou, porém, que não tem registo de “qualquer queixa ou pessoa lesada”. “O comunicado do Ministério da Agricultura foi difundido internamente, na altura, para alerta dos polícias, principalmente do pessoal das Brigadas de Proteção Ambiental.E estamos atentos e com capacidade para intervir neste campo”, foi referido. Já a GNR, apesar de também não ter registo de qualquer denúncia, revelou que houve uma ação de sensibilização por parte dos militares para com a população.
“No seguimento das diretrizes do Ministério da Agricultura, os militares sensibilizaram a população para que, no caso de rececionarem um envelope com tal conteúdo, este devia ser entregue num serviço regional da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária ou numa Direção Regional de Agricultura e Pescas. Adicionalmente, informou-se a população de que, na impossibilidade de entrega pessoal, as sementes fossem enviadas, com a embalagem original, incluindo a etiqueta de expedição, para a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária”, concluiu.
Estranheza do caso
Questionada pelo i, a Quercus adiantou não conhecer mais pormenores do caso e a associação Colher para Semear, especialista nesta área, foi mais longe, com um dos elementos, Bernardino Ramos, a sublinhar a “estranheza” da situação.
“É difícil ainda perceber o encaminhamento. Não conhecemos propriamente ninguém que tenha recebido esses pacotes e achamos toda a história um pouco delicada. É estranho. Mesmo o próprio envio por parte da China também é algo estranho. Até porque já vieram muitas coisas importadas da China e nunca ninguém as relatou. É curioso”, sublinhou.
Apesar de toda a “estranheza”, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América tem uma teoria, acreditando tratar-se de uma tentativa de fraude, nomeadamente o brushing – uma prática utilizada para melhorar as vendas em lojas online com o envio de encomendas falsas. A distribuição de mercadorias não solicitadas serve para registar compras falsas e impulsionar um determinado lojista dentro de plataformas na internet.