EUA. Barack Obama volta à campanha contra o “tio maluco”

EUA. Barack Obama volta à campanha contra o “tio maluco”


Os democratas lideram em intenções de voto e financiamento vindo dos mais ricos, prometendo regressar a um “comportamento presidencial normal”, nas palavras de Obama.


Aproxima-se a reta final da campanha para as eleições norte-americanas, com o Presidente Donald Trump atrás nas sondagens nacionais e a ser ultrapassado em financiamento pelo seu adversário, Joe Biden, depois de mais de 40 milhões de pessoas terem votado antecipadamente. O regresso à campanha do antigo Presidente Barack Obama, na quarta-feira, pode ter dado ainda mais ímpeto aos democratas; já os republicanos contam com a eleição de Amy Coney Barrett como juíza do Supremo Tribunal para galvanizar a sua base, que sonha há muito com uma maioria conservadora no Supremo. A votação para confirmar Barrett será na segunda-feira, decidiu o Senado esta quinta-feira, horas antes do último debate presidencial.

Se o tom do primeiro debate foi agressivo, com constantes interrupções e insultos pessoais, não é esperado que este seja muito melhor – apesar de ambos os candidatos terem sido obrigados a ter o microfone desligado enquanto o outro fala -, sobretudo após os insultos lançados por Obama a Trump, que já antes disso descreveu o seu estado de espírito como “zangado”.

 “Não vamos ter um Presidente que faz tudo para insultar quem não o apoia ou os ameaça com prisão. Esse não é um comportamento presidencial normal”, declarou o antigo Presidente, numa condenação direta do seu sucessor, algo que costumava ser incomum na política norte-americana. Dirigindo-se a um comício drive-through em Filadélfia, com centenas de apoiantes dentro dos seus carros a apitar, Obama garantiu que nenhum dos presentes toleraria comentários semelhantes aos de Trump vindos de um familiar, “exceto talvez de um qualquer tio maluco”.

“Eles incentivam outras pessoas a serem cruéis. E divisivas. E racistas. Isso rompe o tecido da nossa sociedade”, continuou Obama, apontando ainda baterias à resposta da administração à pandemia, num país onde já morreram mais de 227 mil pessoas devido à covid-19. “Donald Trump não vai subitamente começar a proteger-nos a todos. Ele nem sequer consegue dar os passos básicos para se proteger a si mesmo”.

Simultaneamente, num comício na Carolina do Norte, o Presidente minimizou o regresso à campanha do seu antecessor. Salientou que este “demorou uma eternidade” a apoiar Biden, seu antigo vice-presidente, nas primárias democratas, e que o apoio de Obama não deu a vitória a Hillary Clinton em 2016.

“Não houve ninguém que tenha feito mais campanha pela corrupta da Hillary Clinton que o Obama, certo?”, questionou o Presidente, perante apupos da multidão aos seus rivais. “A única pessoas mais triste que a corrupta da Hillary nessa noite foi Barack Hussein Obama”.

 

Megadoações Talvez mais preocupante para a campanha de Trump seja o silencioso mas significativo aumento das megadoações vindas de Hollywood, Sillicon Valley e Wall Street para a campanha de Joe Biden. 

A crescente influência da ala progressista dos democratas, incluindo figuras como Bernie Sanders ou Alexandria Ocasio-Cortez, obrigou Biden, que representa a ala mais conservadora, a uma série de concessões programáticas, mas isso não assustou os mais ricos. Nos últimos seis meses, a campanha democrata recebeu quase 200 milhões de dólares (cerca de 170 milhões de euros) em doações acima dos 100 mil dólares (quase 85 mil euros). É mais do dobro recebido em doações acima deste valor pela campanha de Trump, avançou o New York Times, que notou que Biden esqueceu algumas regras de transparência nas doações que costumava defender.

Até Trump admitiu estar para trás em financiamento, gabando-se contudo que, se quisesse mais, bastaria ligar ao CEO de uma multinacional, como a petrolífera ExxonMobile. “Como é que vão, como é que vai a energia?”, disse o Presidente, simulando uma chamada num comício. “Quando é que vão fazer a exploração? Oh, precisam de um par de licenças?” 

Trump começou a recolher doações para a reeleição no dia em que tomou posse. Mas, mesmo assim, a campanha de Biden está a esmagá-lo com anúncios televisivos, inundando swing states como a Florida, Arizona, Carolina do Norte e Pensilvânia, segundo cálculos da CNN. Já Trump só gastou mais que Biden em estados como o Texas, Geórgia, Iowa e Ohio, que há uns meses ninguém imaginaria que Biden pudesse disputar. Contudo, o “dinheiro, gasto em anúncios ou noutras coisas, não determina uma eleição presidencial. Se não, Hillary Clinton seria Presidente neste momento”, disse o canal norte-americano.