Ensino. Falta de professores e “concursos no escuro” hoje no Parlamento

Ensino. Falta de professores e “concursos no escuro” hoje no Parlamento


Grupo de professores vai ser hoje ouvido na Comissão de Educação para discutir os modelos dos concursos e lembrar o Parlamento de que não há professores. Em Lisboa, já não há docentes de Física e Química, Alemão e Informática para colocar.


A falta de professores em várias zonas do país, sobretudo em Lisboa e no Algarve, vai ser hoje discutida na Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto. “Sabendo que, até 2025, mais de 30% dos professores sairão do sistema e que os cursos de ensino têm cada vez menos candidatos, urge a necessidade de tornar a profissão mais atrativa”, refere o grupo de professores que serão hoje ouvidos no Parlamento.

Ao i, Ricardo Pereira, professor de Viana do Castelo e primeiro subscritor da petição, explicou que o maior problema dos professores contratados são os concursos, sobretudo os intervalos dos horários aos quais concorrem. Neste momento existem três horários para os quais os professores podem concorrer: horário completo, horário incompleto entre 15 e 21 horas e horário incompleto entre oito e 14 horas. Os docentes podem concorrer por ordem decrescente dos horários, não sabendo, no entanto, qual lhes será atribuído. “Os intervalos são grandes e, por isso, o professor nunca sabe quanto vai ganhar”, explicou o professor.

Além disso, a questão dos horários pode fazer com que um professor com menos horas possa conseguir um horário melhor. E Ricardo Pereira dá um exemplo que aconteceu numa escola em Amarante, em que dois professores concorreram para o mesmo grupo – um ficou com horário completo e outro apenas com oito horas. O docente colocado em horário completo não aceitou e, por isso, o horário ficou novamente disponível. Foi preenchido na bolsa de recrutamento seguinte “e entrou um colega menos graduado do que aquele que ficou com as oito horas”. Ou seja, “os professores concorrem no escuro e as regras permitem ultrapassagem, porque o colega que ficou com as oito horas não podia concorrer depois ao horário completo”, explicou.

 Apesar de reconhecerem que a alteração nos intervalos não é suficiente para eliminar a arbitrariedade nos concursos, os professores defendem que “seria um bom caminho para a redução das discrepâncias”.

 

Faltam professores de física e química em Lisboa

Todas as semanas são colocados professores um pouco por todo o país através das bolsas de recrutamento. No entanto, é evidente a falta de professores nas regiões de Lisboa e do Algarve – uma situação que se verifica todos os anos.

Neste momento, os grupos com mais professores disponíveis são Educação Pré-Escolar, 1.o ciclo e Educação Física. Sem contar com estes três grupos, restam para a bolsa de recrutamento desta semana cerca de 1000 professores para a zona de Lisboa. Para esta região, há zero professores para lecionar Latim e Grego, Alemão, Língua Gestual Portuguesa, Geografia, Física e Química e Informática.

Apesar de não existirem candidatos na região de Lisboa para a disciplina de Física e Química, há ainda por colocar a nível nacional 255 professores. Esta tendência verifica-se também noutras disciplinas, uma vez que existem mais professores na zona Norte. Já para Informática há apenas 24 professores disponíveis a nível nacional.

Sobre a disciplina de Informática, Ricardo Pereira dá também um exemplo, desta vez sobre um professor que deixou o ensino, depois de ter sido colocado num horário de 16 horas letivas, e optou pelo trabalho numa empresa de informática. Esta mudança, explica o professor, “acontece cada vez mais, porque a carreira não é atrativa”.