Covid-19. Falta de condições para alunos infetados gera revolta política

Covid-19. Falta de condições para alunos infetados gera revolta política


JSD e BE exigem justificações ao ministro Manuel Heitor. Infetada na Pousada da Juventude de Lisboa diz ao i que condições continuam “miseráveis”.


A falta de condições sanitárias para alunos dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa infetados com covid-19 – situação noticiada esta terça-feira pelo i – está já a fazer correr muita tinta. Transferidos de residências para a Pousada da Juventude de Lisboa, sem as mínimas condições para fazer o isolamento necessário, os estudantes dizem dispor apenas de um quarto minúsculo partilhado com outras pessoas, uma mesa pequena, internet que funciona mal e uma sanita para um piso completo. Mas a Juventude Social Democrata (JSD) já entrou em ação, exigindo justificações ao ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.

“Ficámos estupefactos com aquilo que nos foi descrito e relatado. Entendemos que esta situação é desumana e indigna. É uma vergonha. E achámos que devíamos questionar o ministro do Ensino Superior sobre se tem ou não conhecimento desta situação. Se tinha conhecimento é grave, se não tinha é igualmente grave”, começou por dizer ao i o líder da JSD, Alexandre Poço, detalhando aquilo que já foi questionado.

“O que nós queremos saber é se existem outras situações similares. Por outro lado, queremos também saber que planos de contingência estão a ser postos em prática nas residências e no dia-a-dia das instituições. E também que mecanismos e meios é que o Governo pôs à disposição para lidar com toda esta situação, porque é algo desumano. Os relatos que temos são desumanos, por isso achamos que fazia sentido questionar o Governo. Uma coisa é incompetência, outra é pura e simplesmente não querer saber. Por esse motivo, tal como os estudantes, já começamos a perder a paciência com o ministro”, atirou.

Em comunicado, a estrutura política de juventude do PSD vai mais longe e diz que o alojamento estudantil é a única forma que milhares de alunos têm para conseguir prosseguir no ensino superior.

“Salientámos a importância de informar os milhares de alunos e seus familiares das condições de funcionamento dos espaços comuns destinados a alunos do ensino superior, bem como as respostas que seriam colocadas em prática. Estes mesmos espaços devem ser guarnecidos com planos de contingência de modo a antever e orientar situações de cadeias de transmissão ou casos suspeitos de infeção”, sublinhou a JSD.

Além da JSD, também o Bloco de Esquerda entrou em contacto com Manuel Heitor para eventuais justificações.

Tudo na mesma
Contactada pelo i, Mariana Gomes, de 19 anos e uma das estudantes com covid-19 na Pousada da Juventude de Lisboa, sublinhou que continua a partilhar o seu quarto “pequeno” com outra colega infetada e que nada mudou, referindo também que há outras pessoas doentes naquela pousada com melhores condições.

“Hoje descobrimos que há pessoas na pousada com casa de banho privativa, TV no quarto e mesas maiores. Não são estudantes, mas pessoas mais velhas cá infetadas também”, confessou.

A viver nesta pousada desde sexta-feira e infetada com covid-19 desde 12 de outubro, Mariana Gomes tem alta médica hoje, mas diz que ainda não recebeu qualquer contacto para perceber como irá proceder na residência. “Nunca mais ninguém me ligou. E hoje vieram mais umas batatinhas cozidas com peixe para eu, vegetariana, comer. Não muda absolutamente nada”, concluiu a estudante na Faculdade de Direito, fazendo alusão ao facto de também não serem respeitadas as restrições alimentares dos alunos.

A administração dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa, recorde-se, descartou responsabilidades e sublinhou que as condições atuais dos estudantes são aquelas que “a autoridade de saúde considera adequadas”.