Morricone Secreto: assim se chama o álbum que será lançado a 6 de novembro, quatro dias antes da data em que o compositor completaria 92 anos. O anúncio coube à revista Variety e coincidiu com a celebração da vida e da obra do compositor italiano que transformou o ouvido do cinema e que foi recordado ontem numa cerimónia de entrega do Prémio Princesa das Astúrias e das Artes 2020, em Oviedo, Espanha.
Foi o filho, Andrea Morricone, quem recebeu o prémio em nome do maestro que sempre insistiu que não fazia bandas sonoras, e sim música para o cinema. Na cerimónia esteve também outro dos nomes incontornáveis desta arte, o compositor John Williams, igualmente premiado este ano com o galardão, anunciado em junho. “O seu espírito e a sua música vão acompanhar-nos sempre”, disse Williams, homenageando o colega no seu discurso.
Estando consciente da prolixidade da sua tão aclamada obra, Morricone resistia a deixar-se convencer em relação à sua importância e ao peso da sua influência, e até ao fim soube valer-se de uma perspetiva modesta quando olhava para trás, para o que tinha feito, talvez para que o amanhã não lhe parecesse uma mera licença para se passear roçando as costas na linha do horizonte. Numa das suas entrevistas, disse: “A noção de que eu sou um compositor que compõe uma batelada de coisas, se é verdadeira de um certo ponto de vista, noutro está longe disso. Talvez o meu tempo seja mais bem organizado do que o da maioria das pessoas. Mas se me comparasse com compositores clássicos como Bach, Frescobaldi, Palestrina ou Mozart, seria obrigado a definir-me como um desempregado”.
O novo álbum será editado pela discográfica americana Decca Records e pela italiana CAM Sugar, e resultou de pesquisas feitas nos arquivos do compositor italiano após a sua morte. Na campanha de marketing, as duas chancelas dizem que se tratou de uma espécie de investigação com o fito de descobrir o segredo da prolixidade e do génio do músico: “Porque se mantém Morricone tão moderno em círculos musicais que estão muito afastados do mundo das bandas sonoras do cinema?”
As discográficas adiantam que os sete temas inéditos gravados nas décadas de 1960 e 1980 são “mais experimentais e inovadores”. O responsável pela pesquisa, Pierpaolo De Sanctis, explica que foram criados para filmes que nunca chegaram a estrear-se.
Deixando a modéstia de lado, irritava-o solenemente a forma como Hollywood foi conseguindo ignorá-lo na sua ostentosa gala anual, sendo surpreendente, para não dizer estapafúrdio, o facto de o seu único Óscar para melhor banda sonora original só lhe ter sido atribuído em 2016, quando Morricone contava já 88 anos. E este ficou a dever-se ao trabalho que fez para um dos seus maiores admiradores, Quentin Tarantino. A colaboração em Os Oito Odiados quase esteve para não se dar, pois o compositor não tinha ficado nada agradado com a forma como o realizador utilizara a sua música no seu primeiro western, Django Libertado (2012). Mas Tarantino acabou por lhe dar a volta, assegurando-lhe que aquela era a oportunidade pela qual Morricone há tanto esperava para fazer “uma rutura total com o estilo dos westerns” que musicara meio século antes.