A propósito do fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro no Parlamento, ouviram-se vozes de deputados a protestar afirmando que haverá menos democracia, menos escrutínio ao Governo, por parte do Parlamento, e sinais de um percurso mais autoritário, com risco para o sistema democrático.
Convenhamos que debates de dois em dois meses, pode ser encarado, com muito otimismo, por parte daqueles que têm tiques de autoritarismo, e que anseiam por uma “democracia musculada”…
Ouvimos um comentador televisivo, jurista, sem formação em Ciência Política e Sociológica, afirmar que isso era mau para a democracia, mas ao mesmo tempo não achava que, uma “nova geringonça” com os dois partidos, no Parlamento, que não querem a democracia, por que são antidemocráticos, por definição, isso não punha em causa a democracia!?? Ao opinar sobre sondagens, mostrou-se muito preocupado com o 3º lugar do Chega, afirmando que, isso sim, era um perigo para a democracia!…
Esta análise, não é coerente, não é séria, e está mal fundamentada, além de ser tendenciosa, já que lhe falta objetividade, pois não está provado que o Chega seja um partido político antidemocrático, ao contrário, do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, que são referenciados, nas faculdades de Ciência Política, como forças totalitárias e apologistas da ditadura do proletariado.
Será que esses partidos já tiveram acesso ao que nessas faculdades se ensina, e diz, sobre eles?!? E já os colocaram em tribunal por os estarem a difamar?
Sabemos, por que ouvimos Bernardino Soares, enquanto deputado, afirmar, no Parlamento, que tinha dúvidas se a Coreia do Norte era uma democracia ou não!!!
Sabemos também que Jerónimo de Sousa, do PCP, afirma, no Parlamento, com frequência, que é “patriota e democrata”, o que contraria, por completo, o que é ensinado nas faculdades de Ciência Política, sem que alguém diga que é mentira, o que está a afirmar, e sem que qualquer cidadão apresente queixa em tribunal, por que tais afirmações, podem colocar em causa o regime democrático, já que tal prática, repetida à exaustão, equivale a uma ”lavagem ao cérebro” de qualquer cidadão pouco letrado que o pode levar a votar no PCP julgando que está a votar num partido que quer a democracia.
Será que os deputados podem mentir no Parlamento, sem quaisquer consequências, será normal que não haja escrutínio daquilo que é afirmado no Parlamento que possa colocar em causa a democracia?. Será que temos que aceitar que nos vendam, no Parlamento, “gato por lebre” e ainda por cima tenhamos que ficar calados?. É a isto que chamam democracia, ou será que já estamos a caminho da “democracia musculada”, como primeira fase daquilo que alguns desejam para Portugal?!?
Sociólogo
Escreve quinzenalmente