O Papa escolheu o padroeiro da Internet

O Papa escolheu o padroeiro da Internet


O testemunho de Carlo Acutis, que morreu aos 15 anos, está a percorrer o mundo.


A existência de um santo vestido com calças de ganga, casaco de fato de treino, calçado com ténis da Nike e que dança, canta, ri, que gosta de internet e de jogar Playstation pode parecer irreal, mas não é.

Um destes santos, que por certo virá a ser canonizado, será reconhecido como beato pelo Vaticano no próximo dia 10 de outubro, quando o Papa Francisco o anunciar publicamente.

Carlo Acutis é o nome do jovem de quem hoje vos falo. Nascido em 1991, foi vítima de uma doença fulminante que o levou à morte quando tinha apenas 15 anos. O seu testemunho está a percorrer o mundo, impressionando uma boa parte das pessoas que viram o corpo de Carlo, aparentemente incorrupto, exibido para veneração. Há quem se deixe fascinar e acabe por encontrar neste mistério miraculoso uma revelação do transcendente e quem se preocupe em desmontar o suposto milagre, explicando-o à luz da ciência. Sim, porque não vivemos na Idade das Trevas, hoje é mais fácil não nos prendermos ao que é aparente. Neste caso concreto a Igreja nunca escondeu que houve um trabalho de reconstrução do corpo, processo que em nada retira valor ao estado de evidente preservação em que o mesmo se encontrava quando foi exumado. Quem se prender à questão do corpo incorrupto corre o risco de não perceber que o verdadeiro milagre aconteceu na vida e não na morte. Ou seja, a incorruptibilidade que importa é aquela que acompanhou vida de Carlo Acutis tornando-o um exemplo.

Esta é mais uma oportunidade de refletirmos sobre o nosso quotidiano e de entendermos o quão importante é o exemplo de integridade num mundo lamacento. Chamar santo a alguém é reconhecer a sua bondade, a sua inclinação para o bem e o seu modelo de vida como pessoa de carne e osso. Esta é uma oportunidade de perceber que cada um de nós é chamado a ser um inegável exemplo de vida. Não para que nos façam uma estátua em homenagem, mas para que sejamos úteis à humanidade. Cada vez torna-se mais evidente que a santidade não está circunscrita aos consagrados, aos padres, freiras ou enclausurados. Os santos andam por aí, vestidos de forma comum, comem, dormem, trabalham – por vezes em dois empregos – andam de carro ou transportes públicos, são pais, são mães, apaixonam-se, dão beijinhos e fazem amor.

A santidade é, por isso, acessível a todos, mas para tal há que lutar contra as forças que dividem, que afastam e que provocam o mal. Para nos santificarmos, não nos podemos deixar manchar pela corrupção do espírito e talvez por isso mesmo “mais facilmente um camelo passará pelo buraco de uma agulha do que um rico entrará no reino dos céus”. Mas, os ricos que não desesperem, por ser difícil não significa que não seja possível.

Ricos ou pobres havemos de conhecer a morte, deixando para trás uma história que o tempo se encarregará de levar ao esquecimento ou de eternizar. Afinal, quem usa calças de ganga, fato de treino e anda pela internet, também pode ser santo como Aquele que está nos céus o é. Já agora, caro leitor, se não lhe arranjarem um dia específico para celebrar a sua história, não se preocupe, o dia 1 de novembro já está reservado.

 

Professor e investigador