Mau socialista e péssimo lisboeta


É perfeitamente visível que Fernando Medina tem na cidade um projeto de promoção política, dentro do PS e dentro do país.


O 25 de Abril transformou o poder local, promovendo a autonomia, dando aos autarcas meios para responderem aos anseios das suas comunidades.

Isto descentralizou o seu planeamento e personalizou a resposta.

Essa descentralização trouxe bons e maus exemplos (bons e maus autarcas) do novo paradigma na gestão camarária.

Quem não se lembra das aberrações que eram algumas rotundas nas entradas das localidades (muitas delas sem qualquer nexo ou justificação) que serviam apenas para o autarca A ou B vir reclamar o seu cunho, mas que na realidade só escondiam a incapacidade para responder às verdadeiras necessidades das comunidades que serviam.

Esses foram os anos do disparate e da aprendizagem, período que pensávamos ultrapassado.

Porém, nos últimos anos, Lisboa tem sido uma cidade de experiências e projetos sem rumo, que têm tido como consequência a destruição do seu tecido social, familiar e urbanístico.

E nem sequer irei abordar, neste momento, o disparate da obra (rotundas do passado) da Praça de Espanha, verdadeira cortina de fumo para a ausência de políticas de cidade. Onde “erros grosseiros numa obra da autarquia” escondem erros grosseiros da gestão autárquica do seu presidente.

É perfeitamente visível que Fernando Medina tem na cidade um projeto de promoção política, dentro do PS e dentro do país.

Esse princípio não teria de ser negativo, desde que pudesse representar a ideia de que na persecução da sua ambição, Medina contribuísse para uma cidade fenomenal, tributo às suas capacidades. Isso deixaria rendidos socialistas, lisboetas e portugueses.

Porém quem coloca a sua imagem à frente do real sucesso do seu trabalho, está na realidade a defraudar todos quantos têm expectativas… inclusive os verdadeiros socialistas. O seu recente discurso nas celebrações do 5 de outubro foi disso evidência.

Aproveitar um momento de celebração de Portugal e da República, falando na qualidade de presidente de câmara, para eleitoralismo bacoco, é inconcebível.

Um socialista assume sempre a consciência social como prioridade, muito na senda do socialismo clássico advogado por Mário Soares, mas que se manteve prioridade no reformismo promovido por António Guterres.

Por isso, a indiferença (e até ignorância) para com os lisboetas que vivem em condições desumanas na Vila Ferro, com ausência de condições básicas de saneamento e de água potável, faz de Medina um mau socialista, mas sobretudo um terrível lisboeta.

É rápido na resposta quando famosos precisam de lugares de estacionamento, mas perante as necessidades de estacionamento dos restantes lisboetas Medina responde com “comprem bicicletas”, como se alguém, de um dia para o outro, pudesse abandonar o carro que ainda está a pagar, e que serve para transportar a sua família à escola ou ao trabalho.

Foi também rápido a construir as famosas “ciclovias pop-up”, sem qualquer planeamento ou estudos.

Em algo que devia unir todos na construção de um novo paradigma de mobilidade, Medina impôs, lançando lisboetas contra lisboetas e dando mau nome a uma solução que temos de incluir na mobilidade da cidade de lisboa.

E o resultado? Basta ver o caos das nossas ruas, com transportes públicos imobilizados, como é exemplo na Almirante Reis.

E onde estão os 14 centros de saúde prometidos para 2020 e que tanta falta fazem hoje para criar condições de trabalho para os profissionais da saúde em Lisboa? É este o socialismo de Medina ao serviço do sucesso do SNS? É esta a paixão por Lisboa?

Medina não é só um mau socialista, Medina é um péssimo lisboeta.

 

Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela