Cerca de 270 crianças da Escola Básica Teixeira de Pascoais, em Alvalade, foram enviadas esta semana para casa. Num início de ano letivo dominado pelas preocupações da covid-19, nesta escola de Lisboa o problema não foi o vírus ou qualquer surto mas a rutura de um ramal próximo do estabelecimento, que deixou a escola sem água. Para os encarregados de educação, é mais um episódio depois de anos de para-arranca nas obras lançadas na escola em 2016 e o regresso, apontado para o final da semana, não os deixa menos preocupados com as condições garantidas aos alunos no novo ano escolar.
Em causa esteve então a rutura de um ramal próximo das instalações e, de acordo com os técnicos da Câmara Municipal de Lisboa e da EPAL (Empresa Pública de Águas Livres), o problema estará resolvido na próxima quinta-feira e as aulas poderão retomar no dia seguinte.
Mas, de acordo com o que foi transmitido aos encarregados de educação, a rutura do ramal aconteceu no sábado e a escola, não tendo conhecimento disso, abriu portas terça-feira depois de um fim de semana prolongado. A rutura deu-se dentro de um edifício que pertencia à junta de freguesia de Alvalade mas que não estava em utilização pela mesma, pelo que o aviso não foi lido antecipadamente. Não foi também dada a certeza absoluta de que os alunos estariam de regresso esta sexta.
Pedro Aparício, representante dos encarregados de educação da Escola Básica Teixeira de Pascoais, explica que a comunicação da escola com os pais começou por não ser a melhor: “Soube que tinha de ir buscar a minha filha pelo grupo de WhatsApp dos pais da turma. Houve um pai que recebeu um SMS do professor, outro um telefonema de uma auxiliar, mas eu soube por outros pais”.
Os alunos do Jardim de Infância, que pertence ao estabelecimento, continuam com as atividades letivas pois, pelo que se sabe, a água é fornecida por um ramal independente. No entanto, as refeições são dadas num espaço improvisado no hall da Escola Básica. Foram fornecidas de maneira normal, mesmo estando a escola sem água potável.
Obras sem fim à vista O episódio soma-se ao que têm sido anos de perturbação das atividades normais nesta escola. No ano letivo 2016/2017 foram iniciadas obras de requalificação que colocaram os alunos do 1º ao 4º ano a ter aulas em supostas instalações provisórias, contentores, mas passados quatro anos as condições mantêm-se as mesmas. A rutura poderá inclusive estar ligada às obras de recuperação que ocorrem na escola, mas até ontem não havia certezas.
As obras foram interrompidas em 2018 e só retomaram em julho deste ano, dois anos depois. Mas com o contexto atual de pandemia, os encarregados de educação estão duplamente preocupados. Se o facto de as crianças terem aulas em espaços improvisados colocados onde costumava ser o recreio já era um constrangimento, as dificuldades em cumprir com as regras do plano de contingência são causa de descontentamento e insegurança. O representante dos encarregados de educação reconhece que as casas de banho da escola estiveram em obras na passada semana, mas o resultado não agradou: mesmo depois de concluídas, “parecia a casa de banho de uma tasca”.
Orientações que são sugestões De acordo com o “Plano de Contingência para a prevenção e controlo de infeção por Coronavírus (COVID 19)”, comunicado pelo Agrupamento de Escolas de Alvalade em setembro deste ano, existem horas de receção para os alunos dos diferentes anos e também espaços de circulação distintos. Mas com o espaço mais reduzido do que o habitual, os pais acreditam que devia ter sido feito mais: “As medidas de contingência não estão sequer a ser cumpridas, não existe nenhum acrílico a separar os alunos”, lamenta Pedro Aparício, que adianta que tem também havido ajuntamentos às entradas e saídas.
Para este pai, as medidas propostas pela Direção Geral de Saúde deviam ser mandatórias, o que não tem acontecido já que os estabelecimentos se adaptam em função dos recursos que têm. “Não sei como se combate uma pandemia com sugestões”, afirma o representante dos encarregados de educação. Para os pais, os problemas criados ao longo dos seis anos de obras estão agora, durante o período de pandemia, “a ser postos a nu”. Continuam à espera de os ver resolvidos.
O i tentou contactar o agrupamento de escolas de Alvalade, mas não teve resposta até ao fecho desta edição.
*Texto editado por Marta F. Reis