1. Seja segunda vaga ou arrastamento da primeira, a verdade é que um pouco por todo o mundo a pandemia avança. Proporcionalmente pode matar menos gente por estar a afetar agora os mais novos e saudáveis. No entanto, o crescimento parece inexorável e não há perspetivas seguras de existir uma vacina nos próximos meses. A chegada do tempo frio, das gripes e das pneumonias agrava a situação e multiplica o risco no hemisfério norte, pelo menos. Aqui no retângulo, os doentes não covid-19 continuam a ser remetidos desumanamente para mais tarde, mesmo que as suas maleitas sejam gravíssimas.
No meio disto, verificamos estupefactos que estamos a dois meses e meio do natal e um pouco mais das festas do fim do ano. São, por definição, a altura em que mais gente se junta em encontros de família e em convívios de multidões, que também implicam grande número de deslocações e viagens. É igualmente a época em que as pessoas mais consomem e com a qual grande parte da economia conta para fazer dinheiro. Nas atuais circunstâncias, será, como sempre foi, um período ainda mais dramático de solidão, de abandono, de tristeza e de grande isolamento para os que estão a sofrer de doenças e de exclusão, muitas vezes na rua, na pobreza envergonhada ou em lares que mais não são do que armazéns de pessoas.
Seria bom que, desde já, o Governo, os políticos em geral, as autarquias e as autoridades de saúde antecipassem um pouco do que poderão fazer para minorar sofrimentos e, simultaneamente, dar uma antevisão do que poderão ser as regras e as limitações previsíveis, face à provável multiplicação do vírus. É verdade que hoje não se sabe em que ponto estaremos dentro de dois meses. Mas, para além de estruturas sociais públicas e instituições sociais privadas de apoio muitas vezes voluntário, existem, no campo da ciência, dezenas de modelos matemáticos, de especialistas médicos e de economistas que certamente poderão fazer projeções e definir por antecipação critérios para diversos cenários. O quadro pior seria ficarmos mais limitados do que estamos tendo, porventura, de passar as festas em confinamento, contactando-nos apenas por zoom e quejandos. Cabe a todos, nomeadamente aos mais novos, um acréscimo de responsabilidade e vigilância para evitar uma situação tão nefasta como essa para a qual podemos estar a avançar. Seria lamentável que o óbvio e justificado cansaço das restrições levasse à multiplicação de comportamentos irresponsáveis por parte dos grupos que contestam medidas restritivas. Já vimos no que isso dá e não é coisa boa.
Se os agentes envolvidos em todos os níveis e áreas fossem realistas estariam, portanto, a preparar os próximos meses, em vez de andarem a correr atrás do prejuízo, tanto na saúde como na economia. Basta lembrar o caso do uso ou não de máscaras e o tempo que se andou a adiar uma decisão por parte da DGS, simplesmente para aconselhar o seu uso. Tudo porque, na verdade, elas não existiam em quantidade e qualidade para abastecer a população. Um frete político, fundo. Agora passa-se algo semelhante com o seu uso obrigatório na rua que de um dia para o outro pode ter de ser decretado. Preparar e antecipar medidas não é ser catastrofista. É ser-se responsável. A probabilidade dos próximos tempos serem duríssimos é enorme. Todos têm de ser parte ativa de um combate que está longe de estar ganho e que ainda vai causar danos devastadores na humanidade.
2. Apanhado pela covid-19, Trump estará aparentemente a recuperar bem, tendo regressado à Casa Branca. É bom que assim seja, para que a criatura possa ir a votos já tratada. Só assim se perceberá se os americanos querem ou não mais do mesmo. No sistema americano não ganha forçosamente quem tem mais votos e, portanto, não há propriamente sufrágio universal. São eleições indiretas e altamente complexas, num pais federal cheio de compromissos entre estados e poderes. Por cinco vezes quem teve mais votos ficou fora da Casa Branca. Sucedeu, por exemplo, com Al Gore e Hillary Clinton. As eleições nos EUA mexem com a vida de toda a gente do planeta, mas só os americanos é que decidem. Ainda por cima, há mais de metade dos eleitores que se abstêm. É lamentável. Mesmo assim é melhor do que na China onde não há eleições e cuja influência planetária é cada vez maior e mais opressiva.
3. Segundo um estudo da CIP ontem revelado pelo Observador, temos entre nós cerca de 4300 taxas e outras contribuições que são cobradas às empresas. São as taxas e taxinhas que um dia António Costa denunciou e, depois, pensando no jeito que dão para alimentar a gigantesca máquina burocrática estatal que nos rege, manteve carinhosamente.
4. A asfixia democrática promovida pelo PS e o Governo tem todas as semanas novas manifestações, com nomeações e demissões. No fim de semana soube-se que o presidente do Tribunal de Contas não vai ser reconduzido para um segundo mandato, o que contraria o habitual. Vítor Caldeira tinha, recentemente, criticado certas situações dizendo que, apesar da pandemia, não pode valer tudo, referindo-se ao novo regime de contratação pública. Vítor Caldeira presidiu ao Tribunal de Contas Europeu. Quando saiu foi nomeado para o de cá. Falou, criticou e foi despedido por telefone por António Costa. Aconteceu-lhe mais ou menos a mesma coisa do que à anterior Procuradora Geral da República. Marcelo Rebelo de Sousa furtou-se a comentar a situação em concreto, limitando-se a dizer, no 5 de Outubro, que “não queremos ditaduras em Portugal” e que a ética republicana “repudia compadrios, clientelas e corrupções”.
Escreve à quarta-feira