A Geracionalidade positiva na ação política


Geracionalidade não deve ser algo focado na idade e número que se carrega no cartão de cidadão. Deve ser algo que responda aos problemas de gerações. Isso sim, é ser-se geracionalista.


Políticas geracionais é algo que está sempre na agenda política. Não há momento de quebra (embora haja eterno esquecimento) na discussão sobre este tema porque agarramos idades e atribuímos culpas aleatoriamente a toda uma geração acima. Regra geral, é isto. Os “intas” de hoje dizem que foram a «geração à rasca» por culpa dos “entas” e esses, por sua vez, dizem que não eles mas os fundadores da democracia em Portugal, da geração acima, não souberam fazer tudo o que podiam.

Para respostas diferentes é preciso pensar diferente. O passa culpas resolve pouco ou nada.

Há uma reflexão sobre geracionalidade, mas de âmbito político e de foco na ação política, que tem menos peso no debate nacional. Naturalmente que o pendor do chavão “geracional” prende sempre na métrica da idade. Quando alguém fala do que seja, ou deva ser, de âmbito inter-geracional é sistematicamente para incluir gente de idade mais nova – os “jovens” – no que for questionado.

Naturalmente que é importante ter várias gerações incluídas em qualquer projeto. Como é importante ter várias sensibilidades, ter ambos os géneros, ter representação de várias zonas geográficas, etc. Porém, sobre geracionalidade presa na idade, dizer abertamente que há gente de 27 anos que é muito mais velha de ideias e vontade que jovens de 65.

Geracionalidade não deve ser algo focado na idade e número que se carrega no cartão de cidadão. Deve ser algo que responda aos problemas de gerações. Isso sim, é ser-se geracionalista.

Entendo que há 2 tempos na parte geracional da política. Um tempo, ou velocidade, que é manifestamente mau e demonstra-se incapaz ao longo de décadas de sustentar soluções; Um tempo, ou velocidade, que pode e deve ser o caminho de trazer respostas e implementar soluções que estruturem os problemas, que tarda por explorar.

O “mau tempo geracional” é andarmos a ser caixa de ressonância de slogans que outras gerações defenderam, apenas isso.

O “bom tempo geracional” é tentar resolver os problemas atuais, com soluções que estruturem e sustentem, às gerações vindouras mas, também, para usufruto das gerações que hoje cá estão. Diria, até, que isto é mais inter-geracional que a intergeracionalidade que muito se lê por aí.

É mais fácil com exemplos e, permitam-me, como algarvio que sou, focar na individualidade e especificidade desta região que todo o país conhece e que tanto serviu de serra para guerrilheiros na revolução liberal como de zona litoral para pescadores quando não havia guerra para guerrilheiros.

Vamos apenas a dois exemplos: Falar primeiramente sobre Saúde.

Não, não é da Covid-19. É um exemplo claramente relacionado com estes “dois tempos geracionais”, o bom e o mau.

Em 2003, o Município de Faro e o Município de Loulé assinaram um protocolo de cedência de terrenos, no Parque das Cidades, que posteriormente deu origem ao Plano Pormenor do Parque das Cidades. Essa cedência, no longínquo ano de 2003, estava relacionado com a vontade do então Ministério da Saúde e do Governo, assente num estudo já apresentado, na construção do “novo” Hospital Central do Algarve. Hoje, quase duas décadas depois, a mensagem política é a mesma! Em 2020, duas décadas depois e com tanta alteração na Saúde algarvia, a mensagem de todos os partidos para a resposta a todos os problemas deste setor na região é igual e única: A construção do novo Hospital Central.

Dizem que é a solução para tudo. Então, suponhamos que amanhã, sexta-feira, era inaugurado o novo Hospital Central do Algarve que até poderia estar na zona entre Faro e Loulé como foi falado em 2003. Na próxima segunda-feira, um dia depois, portanto, pergunto:

Estaria resolvida a questão da carência de profissionais de Saúde na região? Esta infraestrutura, por si só, iria atrair médicos, enfermeiros, farmacêuticos, radiologistas, etc? Mais. A fixação de médicos na região ficaria colmatada? Conseguiria o Algarve fixar jovens médicos na região por ter o então novo Hospital Central? As especialidades que os Hospitais do Algarve perderam, e são muitas, que hoje maioritariamente estão protocoladas com Centros Hospitalares de Lisboa, a 300 quilómetros dos algarvios, estaria resolvida? E o que ainda não avançou, a rede de cuidados paliativos, que há anos se fala e serve tanta vez de slogan, seria já aposta com este novo Hospital?

Este é o “mau tempo da geracionalidade” que se apregoa. É uma caixa de ressonância da vontade de uma outra geração, que serviu de bandeiras há 20 anos e continua conservado em sal a servir de mensagem que não passa disso: Só conversa. É o mau tempo de uma geracionalidade de ação política que apenas repete um slogan outrora utilizado e há muito, embora não resolvido, ultrapassado na resposta para os problemas de hoje. Era importante o novo Hospital Central? Naturalmente por tudo o que abrange essa definição, na prática clínica, educativa e instrumental, sim, era. Mas não chega para resolver os problemas da Saúde, por exemplo, no Algarve.

Falamos de uma região em que, em virtude, talvez, desde 2003 se paralisar uma ação política na mensagem de esperança – apenas – assente numa construção de um novo Hospital Central, fez com que seja também a única região do país em que a oferta privada é maior que a oferta pública. Vale a qualidade de prestação de cuidados de serviço, não é problema ideológico é mesmo foco sociológico de ação, aqui apenas constato um facto que representa a diferença para as outras regiões.

O “bom tempo da geracionalidade” deve focar-se na resposta. Em capacitar os recursos humanos da atual rede de saúde na região com melhores ferramentas, é pensar a digitalização por forma a responder às pessoas distantes do SNS, é olhar para a Telemonitorização como meio de ter pareceres clínicos, é pensar na pirâmide etária e ver o «Envelhecimento Ativo» como oportunidade de resposta à realidade regional, é responder com benefícios fiscais na Habitação, quer na compra quer principalmente no arrendamento (numa região em que a 1ª habitação concorre com as 2ª habitações) à forma de atrair – a níveis financeiramente razoáveis – médicos a conseguirem fixar-se com as suas famílias na região, é… tanta coisa que há por fazer e que tarda a ter uma resposta “boa geracional” que solucione os problemas desta e das gerações vindouras.

De forma mais curta, mas para percebermos que não é caso isolado, outro exemplo: A mobilidade dessa região. Hoje volta-se a recuperar a mensagem da relevância da “eletrificação da ferrovia algarvia”. Tudo bem, é uma área cinzenta de investimento da década de 90. É uma das muitas respostas que fazem falta. Mas… quanto existe uma A22 que é a autoestrada menos autoestrada do país, e bem cara, e ainda uma EN125 – Estrada da morte, dizem – que representa não mais que um aglomerado de estradas municipais, porque de facto intercedem de forma interna a vários concelhos, mas que de 4 em 4 anos simplifica qualquer campanha autárquica para que Presidentes de Câmara meramente se defendam dizendo “Eu queria muito reduzir a sinistralidade colocando separadores, luminária, rotundas, mas não posso que é estrada nacional”, pergunto: É a eletrificação da ferrovia, quem em 1991 se identificava como carência já, que em 2020 resolverá a mobilidade regional algarvia?

Não digo que não resolvam parte. Mas, e a ligação ao aeroporto de Faro? E o plano intermunicipal para que trabalhadores e estudantes possam movimentar-se nesta região – uma espécie de cartão intermodal – e dessa forma até pensar na pegada ecológica e na força económica entre concelhos? Tanta coisa de um “bom tempo geracional” que tarda em ganhar espaço ao “mau tempo geracional” que continua a usar slogns antigos e mensagens que já não chegam.

Para citar uma das pessoas de Fernando Pessoa, dos seus heterónimos, falando da região mais a sul do país deveria citar Álvaro de Campos porque nasceu em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890, segundo a Carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935.

Porém, sobre a “geracionalidade positiva” convém citar, sobretudo pensar, num outro heterónimo de Pessoa.

Alberto Caeiro n’O Guardador de Rebanhos, no poema VII, escreveu “Porque eu sou do tamanho do que vejo; E não do tamanho da minha altura…” e, penso eu, é isso mesmo que deve iluminar o âmbito político geracional. Não nos reduzirmos ao simples. Olharmos mais além e em profundidade cada setor, sem simplificar. As soluções tendem a ter complexidade. E ainda bem que assim o é.

Ser-se de um dito “tamanho” superior de pensamento, do que vai à frente e resolve e não ficarmos reduzidos ao que já se disse, ao mero trautear de púlpito em púlpito o que outros disseram antes dos de hoje. É tempo do “bom tempo”. É tempo de ser-se verdadeiramente geracionalista. Dos que resolvem e não dos que citam ou repetem.

Carlos Gouveia Martins

A Geracionalidade positiva na ação política


Geracionalidade não deve ser algo focado na idade e número que se carrega no cartão de cidadão. Deve ser algo que responda aos problemas de gerações. Isso sim, é ser-se geracionalista.


Políticas geracionais é algo que está sempre na agenda política. Não há momento de quebra (embora haja eterno esquecimento) na discussão sobre este tema porque agarramos idades e atribuímos culpas aleatoriamente a toda uma geração acima. Regra geral, é isto. Os “intas” de hoje dizem que foram a «geração à rasca» por culpa dos “entas” e esses, por sua vez, dizem que não eles mas os fundadores da democracia em Portugal, da geração acima, não souberam fazer tudo o que podiam.

Para respostas diferentes é preciso pensar diferente. O passa culpas resolve pouco ou nada.

Há uma reflexão sobre geracionalidade, mas de âmbito político e de foco na ação política, que tem menos peso no debate nacional. Naturalmente que o pendor do chavão “geracional” prende sempre na métrica da idade. Quando alguém fala do que seja, ou deva ser, de âmbito inter-geracional é sistematicamente para incluir gente de idade mais nova – os “jovens” – no que for questionado.

Naturalmente que é importante ter várias gerações incluídas em qualquer projeto. Como é importante ter várias sensibilidades, ter ambos os géneros, ter representação de várias zonas geográficas, etc. Porém, sobre geracionalidade presa na idade, dizer abertamente que há gente de 27 anos que é muito mais velha de ideias e vontade que jovens de 65.

Geracionalidade não deve ser algo focado na idade e número que se carrega no cartão de cidadão. Deve ser algo que responda aos problemas de gerações. Isso sim, é ser-se geracionalista.

Entendo que há 2 tempos na parte geracional da política. Um tempo, ou velocidade, que é manifestamente mau e demonstra-se incapaz ao longo de décadas de sustentar soluções; Um tempo, ou velocidade, que pode e deve ser o caminho de trazer respostas e implementar soluções que estruturem os problemas, que tarda por explorar.

O “mau tempo geracional” é andarmos a ser caixa de ressonância de slogans que outras gerações defenderam, apenas isso.

O “bom tempo geracional” é tentar resolver os problemas atuais, com soluções que estruturem e sustentem, às gerações vindouras mas, também, para usufruto das gerações que hoje cá estão. Diria, até, que isto é mais inter-geracional que a intergeracionalidade que muito se lê por aí.

É mais fácil com exemplos e, permitam-me, como algarvio que sou, focar na individualidade e especificidade desta região que todo o país conhece e que tanto serviu de serra para guerrilheiros na revolução liberal como de zona litoral para pescadores quando não havia guerra para guerrilheiros.

Vamos apenas a dois exemplos: Falar primeiramente sobre Saúde.

Não, não é da Covid-19. É um exemplo claramente relacionado com estes “dois tempos geracionais”, o bom e o mau.

Em 2003, o Município de Faro e o Município de Loulé assinaram um protocolo de cedência de terrenos, no Parque das Cidades, que posteriormente deu origem ao Plano Pormenor do Parque das Cidades. Essa cedência, no longínquo ano de 2003, estava relacionado com a vontade do então Ministério da Saúde e do Governo, assente num estudo já apresentado, na construção do “novo” Hospital Central do Algarve. Hoje, quase duas décadas depois, a mensagem política é a mesma! Em 2020, duas décadas depois e com tanta alteração na Saúde algarvia, a mensagem de todos os partidos para a resposta a todos os problemas deste setor na região é igual e única: A construção do novo Hospital Central.

Dizem que é a solução para tudo. Então, suponhamos que amanhã, sexta-feira, era inaugurado o novo Hospital Central do Algarve que até poderia estar na zona entre Faro e Loulé como foi falado em 2003. Na próxima segunda-feira, um dia depois, portanto, pergunto:

Estaria resolvida a questão da carência de profissionais de Saúde na região? Esta infraestrutura, por si só, iria atrair médicos, enfermeiros, farmacêuticos, radiologistas, etc? Mais. A fixação de médicos na região ficaria colmatada? Conseguiria o Algarve fixar jovens médicos na região por ter o então novo Hospital Central? As especialidades que os Hospitais do Algarve perderam, e são muitas, que hoje maioritariamente estão protocoladas com Centros Hospitalares de Lisboa, a 300 quilómetros dos algarvios, estaria resolvida? E o que ainda não avançou, a rede de cuidados paliativos, que há anos se fala e serve tanta vez de slogan, seria já aposta com este novo Hospital?

Este é o “mau tempo da geracionalidade” que se apregoa. É uma caixa de ressonância da vontade de uma outra geração, que serviu de bandeiras há 20 anos e continua conservado em sal a servir de mensagem que não passa disso: Só conversa. É o mau tempo de uma geracionalidade de ação política que apenas repete um slogan outrora utilizado e há muito, embora não resolvido, ultrapassado na resposta para os problemas de hoje. Era importante o novo Hospital Central? Naturalmente por tudo o que abrange essa definição, na prática clínica, educativa e instrumental, sim, era. Mas não chega para resolver os problemas da Saúde, por exemplo, no Algarve.

Falamos de uma região em que, em virtude, talvez, desde 2003 se paralisar uma ação política na mensagem de esperança – apenas – assente numa construção de um novo Hospital Central, fez com que seja também a única região do país em que a oferta privada é maior que a oferta pública. Vale a qualidade de prestação de cuidados de serviço, não é problema ideológico é mesmo foco sociológico de ação, aqui apenas constato um facto que representa a diferença para as outras regiões.

O “bom tempo da geracionalidade” deve focar-se na resposta. Em capacitar os recursos humanos da atual rede de saúde na região com melhores ferramentas, é pensar a digitalização por forma a responder às pessoas distantes do SNS, é olhar para a Telemonitorização como meio de ter pareceres clínicos, é pensar na pirâmide etária e ver o «Envelhecimento Ativo» como oportunidade de resposta à realidade regional, é responder com benefícios fiscais na Habitação, quer na compra quer principalmente no arrendamento (numa região em que a 1ª habitação concorre com as 2ª habitações) à forma de atrair – a níveis financeiramente razoáveis – médicos a conseguirem fixar-se com as suas famílias na região, é… tanta coisa que há por fazer e que tarda a ter uma resposta “boa geracional” que solucione os problemas desta e das gerações vindouras.

De forma mais curta, mas para percebermos que não é caso isolado, outro exemplo: A mobilidade dessa região. Hoje volta-se a recuperar a mensagem da relevância da “eletrificação da ferrovia algarvia”. Tudo bem, é uma área cinzenta de investimento da década de 90. É uma das muitas respostas que fazem falta. Mas… quanto existe uma A22 que é a autoestrada menos autoestrada do país, e bem cara, e ainda uma EN125 – Estrada da morte, dizem – que representa não mais que um aglomerado de estradas municipais, porque de facto intercedem de forma interna a vários concelhos, mas que de 4 em 4 anos simplifica qualquer campanha autárquica para que Presidentes de Câmara meramente se defendam dizendo “Eu queria muito reduzir a sinistralidade colocando separadores, luminária, rotundas, mas não posso que é estrada nacional”, pergunto: É a eletrificação da ferrovia, quem em 1991 se identificava como carência já, que em 2020 resolverá a mobilidade regional algarvia?

Não digo que não resolvam parte. Mas, e a ligação ao aeroporto de Faro? E o plano intermunicipal para que trabalhadores e estudantes possam movimentar-se nesta região – uma espécie de cartão intermodal – e dessa forma até pensar na pegada ecológica e na força económica entre concelhos? Tanta coisa de um “bom tempo geracional” que tarda em ganhar espaço ao “mau tempo geracional” que continua a usar slogns antigos e mensagens que já não chegam.

Para citar uma das pessoas de Fernando Pessoa, dos seus heterónimos, falando da região mais a sul do país deveria citar Álvaro de Campos porque nasceu em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890, segundo a Carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935.

Porém, sobre a “geracionalidade positiva” convém citar, sobretudo pensar, num outro heterónimo de Pessoa.

Alberto Caeiro n’O Guardador de Rebanhos, no poema VII, escreveu “Porque eu sou do tamanho do que vejo; E não do tamanho da minha altura…” e, penso eu, é isso mesmo que deve iluminar o âmbito político geracional. Não nos reduzirmos ao simples. Olharmos mais além e em profundidade cada setor, sem simplificar. As soluções tendem a ter complexidade. E ainda bem que assim o é.

Ser-se de um dito “tamanho” superior de pensamento, do que vai à frente e resolve e não ficarmos reduzidos ao que já se disse, ao mero trautear de púlpito em púlpito o que outros disseram antes dos de hoje. É tempo do “bom tempo”. É tempo de ser-se verdadeiramente geracionalista. Dos que resolvem e não dos que citam ou repetem.

Carlos Gouveia Martins