Àgueda será sempre o ponto mais alto da ternura. Por causa da profissão do meu pai, vivi um pouco por todo este país pequeno e tão triste, uma espécie de reflexo de mar e céu em tons de cinzento e, de vez em quando, algumas bebedeiras de azul, como diria António Gedeão.
Quando fujo em direção à Barra, praia da minha infância e adolescência, acredito que o tempo, um dia qualquer, voltará para trás e trará consigo todos os meus amores enterrados na areia e aquela forma de rir, de rir sempre, como se nada pudesse fazer frente à nossa absurda alegria que nascia pela manhã e se espalhava pelo dia, pela tarde, pela noite e pela madrugada, numa sensação de liberdade na qual a morte nunca teria lugar. Não sei ao certo em que momento cresci.
Acho que ninguém sabe ao certo o momento em que cresceu e perdeu a inocência, saltando aquele risco branco que nos separa das horas infinitas que rodam à medida da vontade do sol. Olho para o que ficou parado no tempo e não consigo libertar-me de uma melancolia que me prende as palavras, as frases, a escrita inconsequente.
Como sempre, está na hora de regressar. Regressar a quê, regressar onde? À mecânica de Lisboa na qual, nos últimos anos, encravei as rodas dentadas à conta de fugas para Alcácer onde, ao pino do sol, sobre o Sado, consigo debruçar o ritmo das minhas crónicas que continuam a brotar daquele lugar onde vivem, lado a lado, a morte e o sofrimento.
A tristeza será, para sempre, mais inspiradora do que a alegria. É da rotina. E da prosódia. Da forma como vamos em busca de tudo o que foi desaparecendo em redor e ficou apenas dependurado nas paredes das lembranças, sem moldura, sem enfeite, preso a um prego que vai ficando tão ferrugento que a sua ferrugem já é, de certa forma, a estrutura das nossas recordações.
Sei que, na minha vida, a morte não teve lugar. Mas depois chegou e estendeu os pés sobre a mesa da sala de jantar e tem ficado por lá a beber as garrafas de whisky nas quais nunca mais afoguei as minhas lágrimas que ficaram por chorar.