O primeiro-ministro voltou esta segunda-feira a insistir que o facto de pertencer à comissão de honra de recandidatura do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, nada tem que ver com as suas responsabilidades políticas de chefe de Executivo. António Costa foi a Benavente falar da abertura do ano escolar e do combate à covid-19. E usou o foco no ataque à pandemia para responder aos jornalistas: “Mais uma razão acrescida para que não misture de forma alguma aquilo que são as minhas responsabilidades enquanto agente político com coisas que rigorosamente nada têm ou tiveram a ver com a minha vida política ou funções”, declarou António Costa.
No fim de semana já tinha afirmado que se tratava de um “assunto que não tem rigorosamente nada a ver com a vida política”. Mas esta quinta-feira, na habitual reunião semanal com o Presidente da República, o tema será abordado, até porque Marcelo Rebelo de Sousa não soube da polémica pela comunicação social. Apesar de não ter comentado o caso concreto, em 2017, Marcelo recusou integrar a comissão de honra de António Salvador, no Sporting de Braga ( o clube do chefe de Estado), avançou segunda-feira o Observador.
O caso já mereceu reações de dois líderes de forças políticas (PSD e BE). O mais recente é o de André Ventura, presidente do Chega, que se destacou como comentador e benfiquista antes de entrar nas lides políticas.
“Basicamente acho curioso que os mesmos que tanto me atacaram por ligações ao futebol e ao Benfica, estejam agora em comissões de honra em candidaturas a clubes de futebol. Mais incoerência é impossível”, declarou André Ventura ao i.
Na lista de comentadores, Ana Gomes, agora candidata presidencial, e socialista, não poupou António Costa. “Fico penalizada por o primeiro-ministro do meu país estar metido nesta história”, afirmou a ex-eurodeputada socialista no seu comentário dominical na SIC Notícias.
Antes já o ex- líder do PSD e atual conselheiro de Estado Marques Mendes considerara, na SIC, que a atitude de Costa era “um erro de palmatória, porque justa ou injustamente dá para as pessoas a ideia da promiscuidade entre política e futebol”.
Por seu turno, o socialista João Soares, (antigo ministro da Cultura) saiu em defesa de António Costa: “É um ato da sua vida privada”, declarou na RTP3.
O PAN, entretanto, emitiu um comunicado em que recupera a sua proposta para proibir deputados de ocuparem cargos em clubes e André Silva rematou: “Não haveria mal nenhum que Costa viesse a público defender a presunção de inocência de Luís Filipe Vieira, o problema é que com este gesto público de apoio inequívoco está a dar um certificado de honra, de credibilidade e de probidade a alguém que já deu várias provas de que não é merecedor de tal certificado”. A Iniciativa Liberal acrescentou que “os portugueses ficaram a saber que António Costa decidiu envolver o Governo numa campanha para a presidência de um clube de futebol, apoiando um candidato envolvido em vários casos judiciais”.
O debate já entrou na esfera dos clubes. Pinto da Costa, presidente do FC. Porto, disse segunda-feira ao jornal O Jogo que “ para Luís Filipe Vieira, não será benéfico ligar a sua candidatura ao apoio de António Costa”.