Quem por estes dias refletisse sobre a agenda mediática servida aos portugueses, interrogar-se-ia se não alcançamos já o topo do bem-estar e criação de riqueza como sociedade europeia.
Como temas essenciais as eleições no Benfica e quem é quem no apoio aos candidatos, a inconstância sobre a estratégia pandémica, a interdição (na prática) do Algarve a súbditos ingleses, o dia-a-dia que não convida ao olhar sobre o percurso coletivo, projetado a um decénio…
É neste quadro que passa despercebido como estamos a viver e como vamos continuar se nada se alterar: dívida soberana em crescendo e o conceito de independência nacional de que hoje não se fala, submisso a outras realidades que nos escapam.
A cada sete anos, assim tem sido, chega um novo envelope financeiro.
Desta vez e por via da pandemia, a generosidade foi mais longe: quase 45 mil milhões até 2030.
O país habituou-se a esta vida, há uma máquina administrativo/burocrática que depende destes fundos, o próprio Estado se entrincheirou nestes recursos.
Há também uma ausência de capital próprio nacional, que vai dos bancos ao setor privado que assim encontraram o suplemento de recursos, a fonte da esmagadora maioria do investimento público que seria inexistente não fora o que chega de Bruxelas.
E a pergunta a fazer é esta?
Nestes anos, que capacidade gerou o país para a sua auto-sustentação na hipótese de ter que viver sem fundos comunitários? Nenhuma…
E esta é a questão central que devia preocupar Portugal, os portugueses, quem governa e quem se opõe ao governo.
É certo que sempre foi um pouco assim.
Sempre chegou de fora o que não soubemos criar em Portugal na perspetiva histórica de que as fontes do leite e mel eram inesgotáveis.
Mas a verdade é que a pimenta oriental foi-se; o Brasil emancipou-se e as ex-colónias passaram a delapidar elas próprias o que alimentava o Portugal da plataforma europeia.
E por cá, os recursos nacionais, nem sequer são explorados, numa servidão a agendas extremistas de esquerda que causam dano irreparável aos interesses nacionais (veja-se o caso dos hidrocarbonetos).
Mas a questão é também a da perenidade das ajudas de Bruxelas.
O presente acordo com a UE já agora foi complicado de alcançar e ninguém sabe como será depois de 2030, com vagas de nacionalismo exacerbado e mesmo controlo de fronteiras e de economias que hoje se projetam.
O debate em Portugal nada disto aborda em termos de Estado que aqui encontraria razão de ser para prospetivamente antecipar circunstâncias…
Ninguém se preocupa em querer aproximações ao pensamento sobre onde estará Portugal em 2030, a continuarem as mesmas políticas de aposta no Estado, em vez da aposta na sociedade, na produção e iniciativa privada.
Não tem havido visão política para perceber que a coleta da riqueza nacional em impostos, devia fazer-se em menor fiscalidade para consumir e investir; que a inexistente especialização do tecido produtivo em clusters regionais, devia ter como alternativa uma visão de Portugal como país para lá do contexto fundamental e para continuar do turismo, têxteis e calçado, que andam há anos a “aguentar” a economia.
Por outro lado, teme-se que medidas desgarradas intervindo nas infraestruturas sem uma visão global que sirva essencialmente a cultura de país exportador, tornem o país ainda menos competitivo perante as economias do centro e norte da Europa.
Neste quadro, o que o governo antecipa na dependência da esquerda para ser poder, irá levar a um reforço da presença do Estado sem exigência de qualidade e competitividade nos serviços que presta, mas apenas tendo como vocação a prevalência sobre a sociedade em obediência a slogans ideológicos, abusando dessa posição-chave e postergando a afirmação e reforço da economia nacional.
E não é difícil elencar a continuação do que temos hoje, mercadejado com a extrema-esquerda em slogans para digestão facilitada: mais “SNS” onde não reestrutura o que existe, “escola pública” onde a paz não chega, “salvaguarda de rendimentos e empregos “sem que haja acordo na Concertação Social salvaguardando a competitividade, justiça sem tempo competindo com o tempo divino…
E por aí fora, colecionando-se nesta fronteira de slogans, quem é o quê no pensamento sobre o futuro do nosso país.
A questão sem resposta é esta: e quando a Europa falhar?
Jurista