Há seis meses que, como os outros clubes de Berlim, como tantos clubes europeus, aquele que é considerado a meca do techno está de portas fechadas por força da pandemia. Com a ameaça de uma segunda vaga que já se vai fazendo anunciar por alguns países europeus, pouco provável será que voltem nos próximos meses a formar-se as intermináveis filas de que até quem nunca visitou o mais emblemático espaço dedicado à música eletrónica de Berlim terá já ouvido relatos. Se se formarem, será por outro motivo: o Berghain voltou neste mês de setembro a abrir portas, reconvertido em galeria de arte. E em pista de dança não voltará a converter-se tão cedo, não estivesse Studio Berlin, esta exposição coletiva que se tornou possível graças a uma parceria com a coleção privada Sammlung Boros, ali patente até ao final do ano.
“Morgen ist die Frage” (amanhã é a questão), do tailandês Rirkrit Tiravanija, anuncia-a logo na fachada. A exposição reúne obras de 115 artistas internacionais a viver em Berlim produzidas na cidade durante o confinamento (ainda que não versem necessariamente esse tema), entre os quais Wolfgang Tillmans, Sandra Mujinga, Tacita Dean, Christine Sun Kim, Shirin Sabahi e Olafur Eliasson, trabalhos de fotografia, escultura, pintura, desenho, vídeo, som, performance e instalação. Mas, além do banner instalado na fachada, do lado de fora adivinha-se apenas com o que se parecerá Studio Berlin, da qual nem a imprensa está a publicar imagens.
Afinal, ainda que não nos moldes em que funcionava habitualmente desde a sua inauguração, em 2004, numa segunda vida do lendário Ostgut, na antiga central elétrica na zona de fronteira entre os bairros de Kreuzberg e Friedrichshain, o Berghain não deixa de ser o Berghain. E a política de proibição de qualquer registo de imagens no interior do edifício, a mesma que ajudou a construir a sua reputação de lugar mítico, mantém-se. À semelhança do que acontecia com as noites no Berghain, nota Christian Boros ao Guardian, “deixa-se esta galeria com a cabeça cheia de memórias e de ideias, não de imagens para decorar os feeds das redes sociais”.
O objetivo da Studio Berlin é, ainda segundo Boros, “passar a mensagem de que a vida cultural de Berlim continua bem viva”. As receitas das entradas na exposição revertem para o clube, fortemente afetado pela paralisação a que está obrigado desde março passado.