Áreas metropolitanas de Lisboa e Porto no centro das preocupações

Áreas metropolitanas de Lisboa e Porto no centro das preocupações


País regressa ao estado de contingência na próxima semana. O apelo do Governo é para que sejam evitadas aglomerações e o comércio num raio de 300 metros das escolas terá limites. Evolução de óbitos e capacidade de cuidados intensivos poderão ditar futuras medidas.


As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto concentram neste momento quase metade dos novos casos de covid-19 e serão um dos principais focos de preocupação nas próximas semanas, com o aumento da circulação de pessoas. Reduzir aglomerações é um dos objetivos, dos transportes, escolas a locais trabalho. O estado de contingência entra em vigor dia 15 e as medidas foram apresentadas ontem por António Costa no final do Conselho de Ministros. Apesar do aumento de casos nos últimos dias, o primeiro-ministro afastou um cenário de crescimento exponencial da epidemia, sublinhando que tem havido um crescimento constante de casos desde agosto, na sua maioria ligada a contágios em contextos familiar. Com a reabertura das escolas na próxima semana, o país entra numa nova fase de gestão da epidemia.

Depois de ter garantido que o país não pode voltar a parar e que um novo confinamento é um “não cenário”, e questionado sobre quais são as linhas vermelhas para voltar a apertar medidas, se serão os internamentos ou números de casos diários, António Costa começou por afirmar que a primeira linha vermelha será a evolução dos óbitos. “Não há bem maior que a vida e esse é essencial”, disse. “Em segundo lugar, a nossa capacidade de cuidados intensivos. Nunca estivemos em situação limite, tem vindo a haver um reforço constante da nossa capacidade de cuidados intensivos. Estávamos na cauda da Europa antes da crise e no próximo ano teremos atingido a média europeia. Mas se de repente todos ficarmos a precisar de cuidados intensivos, esse é um indicador importante. A terceira é a necessidade de internamentos no sistema hospitalar e ter em conta que o sistema hospitalar e o SNS não se podem dedicar em exclusivo ao covid-19 porque continua a haver um conjunto vasto de outras doenças que precisam de ter resposta e está a ser feito um esforço de recuperação da economia”, continuou António Costa, que ao mesmo tempo sublinhou que o objetivo é não voltar a situação de ter encerrar as escolas. “Grande parte deste ano letivo vai ter de ser feito com um esforço acrescido de recuperação. Temos uma linha vermelha que é que não podemos voltar a fechar a economia. A linha vermelha é o comportamento que temos de ter nos próximos meses”, disse. Sem revelar ao certo os patamares de mortes e internamentos que poderão suscitar preocupação, para já as medidas vão centrar-se então na tentativa de reduzir contactos, seja desencontrando horários de trabalho e transportes, mas também com a redução do limite de ajuntamentos de 20 para dez pessoas. Já nas escolas, a preocupação é o contacto entre jovens no interior dos estabelecimentos, onde existem regras, mas também no exterior, onde habitualmente há momentos do convívio. Uma das medidas anunciadas pelo Governo determina que os estabelecimentos comerciais como cafés e pastelarias a 300 metros da escola só poderão ter grupos de quatro pessoas, a mesma regra que passa a vigorar nas zonas de restauração de centros comerciais. Por outro lado, nos restaurantes, passam a ser admitidos apenas grupos até 10 pessoas, em função da lotação dos espaços. O comércio, excetuando cafés, padarias ou padarias, passa a abrir às 10h e no Porto e em Lisboa o Governo preparou um diploma que obriga as empresas a desfasar horários e apela à organização de escalas de trabalho em espelho, com funcionários alternamente em casa e no local de trabalho. As regras serão ainda levadas aos parceiros sociais. “É para evitar que as pessoas se desloquem todas ao mesmo tempo. Quando apelamos para o desfasamento de horários nas diferentes empresas, é para evitar essa aglomeração de pessoas às mesmas horas nos mesmos transportes públicos. Obviamente a diferenciação depende muito de empresa para empresa e de atividade para atividade. Numa empresa industrial em que há uma linha de montagem, é difícil diferenciar. Há outras atividades em que há uns que podem entrar às 9h ou às 10h, saindo obviamente mais tarde.”

 

Maior número de testes possível, mas não por rotina

António Costa sublinhou que um dos objetivos é aumentar a capacidade de testagem nos próximos meses, aumentando para a casa dos 20 mil os testes feitos no SNS mas também alargando acordos com laboratórios. A 8 de setembro foram feitos no país um recorde de 20 mil testes, revelou também António Costa, sem apontar um valor global de testes expectável para as próximas semanas. Nos lares (onde há casos em menos de 1% das 2500 instituições do país e 631 idosos infetados), António Costa garantiu que 18 brigadas distritais de intervenção rápida estarão no terreno até ao final do mês. Questionado pelo i sobre se serão feitos testes por rotina a idosos e funcionários nos lares e também nos hospitais nesta nova fase, o primeiro-ministro sublinhou que as regras de testagem estão definidas tecnicamente pela DGS, as regras que neste momento não contemplam rastreios. O tema levou esta semana Ferro Rodrigues a questionar, durante a reunião técnica com os peritos, a realização de testes apenas quando há casos positivos nos lares, mas para já o Governo afasta uma alteração na política de testagem. “É à DGS que compete tecnicamente definir as regras de testagem. Aquilo que compete ao Governo assegurar é que haja a capacidade efetiva para realizar o maior número de testes possível. Quanto mais rapidamente os casos forem identificados, mais rapidamente vamos travar as cadeias de transmissão”, afirmou.