Elefante Branco. Bar já pode estar aberto até às 4h00, decidiu tribunal

Elefante Branco. Bar já pode estar aberto até às 4h00, decidiu tribunal


Mítico bar lisboeta interpôs uma providência cautelar contra os horários decididos pelo Governo. Tribunal deu-lhe razão. Governo pode contestar, mas já tem pouco tempo.


O famoso bar lisboeta Elefante Branco vai poder voltar a encerrar às 4h00, apesar das medidas impostas pelo Governo. Em causa está uma providência cautelar interposta pelo bar de alterne à qual o Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa deu razão. A notícia, avançada esta quarta-feira pelo Correio da Manhã, foi confirmada pelo i junto do advogado do Elefante Branco, José Manuel de Castro, que acrescentou que a decisão do tribunal já remonta ao passado dia 31.

Desde essa altura que o Governo pode contestar mas, segundo o advogado, até agora, ainda não o fez. No entanto, o prazo é limitado e, segundo José Manuel de Castro, “está quase a acabar”.

O advogado explica: “O Governo pode reverter esta decisão, claro que pode. O tribunal e eu estamos à espera da contestação do Governo. Chama-se a isto uma resolução fundamentada”, diz ao i. Mas o tempo vai passando: “O tempo eram dez dias mais cinco, mas já estão a acabar. [O Governo] ainda tem mais uns diazinhos. Já está em vigor deste o dia 31 e o Governo foi citado. Agora, o Governo poderá e irá fazê-lo na ação em que vai procurar, digamos, reverter esta situação”.

E o que acontece se o Governo o fizer? Estará tudo novamente nas mãos do tribunal, que terá a última palavra.

Quais foram os motivos? Ao i, José Manuel de Castro explica que a providência cautelar esteve assente em dois motivos principais: “Primeiro, o motivo de direito, em que consideramos que o Governo está a legislar em matéria de reserva de competência da Assembleia da República. O Governo, na nossa opinião como juristas, em termos de direitos – e, pelos vistos, o tribunal considera isto com algum fundamento –, não pode legislar só por si nestas áreas sem autorização da Assembleia da República”.

Mas as perdas que o setor da restauração tem reclamado ao longo destes meses de pandemia foram também um motivo para que o Elefante Branco avançasse com a providência cautelar. “Quanto aos fundamentos de facto, claro que estão relacionados com as perdas. E grandes. O Elefante Branco está a funcionar mais ou menos como restaurante, mas é lógico que são graves prejuízos, como é evidente”, defende.

O advogado referiu os diplomas relativos aos horários dos estabelecimentos de restauração e similares explicando que foi então pedida “a declaração de inconstitucionalidade desse diploma e dos seguintes – uma vez que isto tem sido renovado de 15 em 15 dias – e o juiz tinha duas situações: ou rejeitava porque considerava que o pedido não tinha admissibilidade legal ou admitia a providência cautelar”, o que acabou por acontecer. “Ao admitir, foi o que se sucedeu e mandou o Conselho de Ministros contestar. A consequência imediata da admissão da providência cautelar foi suspender de imediato essa legislação especial. Portanto, o Elefante Branco está a funcionar com o horário antigo, até às 4h00 – até o Governo se pronunciar sobre esta matéria”, disse ainda José Manuel de Castro ao i.

 

Outros podem seguir o exemplo?

O i tentou perceber se outros bares na mesma situação do Elefante Branco poderiam também avançar com uma providência cautelar para que possam ver o horário de fecho alargado. Na prática, poderão fazê-lo, mas é o tribunal quem tem a decisão final. “Depende sempre do sentido da decisão judicial; não basta avançar com as providências, há que esperar pelo seu desfecho”, explica o advogado João Carlos Teixeira, sócio da Antas da Cunha ECIJA, acrescentando que “a decisão que vincula é a decisão do tribunal e na medida e alcance da mesma”.