Uma Amora de ruas vazias recebeu a Festa do Avante!

Uma Amora de ruas vazias recebeu a Festa do Avante!


Comércio fechou e os proprietários que mantiveram as portas abertas dizem que a afluência foi pouca e o alarme excessivo. “Agora é esperar para ver e isso só Deus sabe”, diz a dona de um café, que não antevê aumento de casos de covid-19 por causa da festa comunista. Lá dentro,os altifalantes insistiram no uso de…


A Festa do Avante! foi diferente dos restantes anos. E essa diferença afetou tanto os festivaleiros como os comerciantes. A freguesia da Amora estava vazia, contrariamente àquilo que se temia. A habitual enchente das ruas e dos cafés não foi um problema este ano, muito pelo contrário.

A área que circunda a Quinta da Atalaia esteve condicionada ao trânsito, só estando habilitadas a passar viaturas de residentes ou de quem tinha autorização. Desse modo, o negócio tornou-se ainda mais difícil para quem tem os seus estabelecimentos dentro deste perímetro e os manteve abertos.

Logo no primeiro dia foi visível que a Festa do Avante! veio causar impacto na freguesia, mas não da maneira que alguns esperavam. A confusão que levou moradores a manifestarem-se foi substituída por ruas desertas e quem, em anos anteriores, não conseguia dormir por causa do barulho, teve o alívio de noites relativamente silenciosas. Alguns dos moradores tinham já dito ao SOL que iriam passar o fim de semana fora para “evitar confusões”. Essa falta foi sentida nos locais que costumam frequentar.

Já os comerciantes que optaram por abrir queixavam-se da falta de clientes, inclusive daqueles que eram já habituais: “Está a ver? Nem tenho as minhas clientes do costume” – contou ao SOL a proprietária da Shams Mobile, papelaria próxima de uma das entradas do recinto. No interior da loja foi feita uma barreira improvisada com mobiliário para que os que entram não passem da zona do balcão.

A papelaria Shams Mobile está situada ao lado dos cafés Tão Bela 2 e Serpente, que já há uma semana tinham dito ao SOL que não abririam. Assim foi, e as portas estavam fechadas. No café Mindelo, aberto, a clientela foi pouca. O estabelecimento situa-se a cerca de 50 metros de uma das entradas do certame político-cultural. Com uma esplanada com meia dúzia de mesas afastadas entre si, Leila Veríssimo diz-nos por trás do balcão que não está arrependida de ter decidido abrir o estabelecimento: “Os cafés não estão abertos, mas também não há movimento. A maioria dos clientes que estão aqui já são habituais, só de manhã é que vieram cá pessoas da Festa”. Chegado finalmente o fim de semana da festa, a proprietária do café confessa que não estava à espera de que a afluência ao festival fosse tão reduzida.

E se as imagens do primeiro dia de festa davam a entender pouca afluência, no segundo dia foi possível observar-se um momento em que o distanciamento não foi cumprido. Convidado do debate “Humor e Política”, Ricardo Araújo Pereira trouxe para o espaço Festa do Livro algumas centenas de visitantes. Mas depois de já ter demonstrado a sua capacidade de organização, o Partido Comunista Português instalou mais colunas de modo a que os visitantes pudessem dispersar-se e, mesmo assim, ouvir o que humorista tinha para dizer. Com alguns problemas técnicos que levaram dez minutos a ser resolvidos, às 18h40 começou o debate sobre o papel do humor no mundo da política, que contou com Margarida Botelho, deputada do PCP, além de RAP. Durante cerca de uma hora, o fluxo de visitantes ficou congestionado.

Nos restantes espaços do recinto, a distância de segurança foi sendo mantida. As setas no chão a indicar a direção em que se deveria andar, os voluntários constantemente a desinfetar mesas e bancos e a máscara posta forneciam aos visitantes uma visível sensação de segurança. Também nos altifalantes eram constantemente repetidas informações para que ninguém se esquecesse das normas a cumprir: “Por favor, não se esqueça da colocação da máscara nos lugares obrigatórios”.

Como é habitual, a festa contou com a presença de pessoas de todas as idades, desde jovens e famílias com crianças até aos militantes mais antigos.

No último dia de Festa do Avante!, o número de visitantes esperados era maior relativamente aos dois dias que tinham já passado. O tão esperado comício do Partido Comunista teve início às 18 horas e o concerto dos Xutos e Pontapés estava marcado para as 21h30, dois momentos habituais e muito ansiados desta festa.

De volta ao café Mindelo, já no fim do segundo dia de festa, Leila Veríssimo assume ao SOL que acha que o alarme em relação à Festa do Avante! foi excessivo. A comerciante lamenta a polémica e acredita que a celebração comunista não irá traduzir-se num aumento dos casos de covid-19, visto que observa os seus clientes a serem cuidadosos, mas que “agora é esperar para ver, e isso só Deus é que sabe”. *Texto editado por Marta F. Reis