O PCP tem vindo a distanciar-se do Governo, mas recusa que esse afastamento possa ser interpretado como falta de disponibilidade para entrar nas negociações do Orçamento do Estado para 2021. Foi este o recado que Jerónimo de Sousa deixou no encerramento da Festa do Avante! quando avisou que “não vale a pena apressarem-se a sentenciar que o PCP não conta, que está de fora das soluções de que o país precisa”.
Jerónimo de Sousa considerou que “se há prova que o PCP já fez é que conta, conta muito e decisivamente, como nenhum outro, para assegurar avanços no interesse das classes e camadas populares”. Ou seja, o PCP “não faltará, como nunca faltou, a nenhuma solução que dê resposta aos problemas, não desperdiçará nenhuma oportunidade para garantir direitos e melhores condições de vida”, disse o líder comunista.
Os comunistas deverão reunir-se em breve com o Governo. Até agora, as reuniões foram com BE, PAN e PEV. O PCP pediu para adiar o encontro.
Jerónimo não perdeu a oportunidade para responder a António Costa. “Não vale a pena virem agitar com ameaças de crise política. O que se impõe é aproveitar todos os instrumentos para não permitir que os trabalhadores e o povo vejam a sua vida mergulhada numa crise diária”.
O secretário-geral do PCP, que discursou para uma plateia em lugares sentados, lançou as prioridades do partido para os próximos tempos. O aumento do salário mínimo nacional para 850 euros, a criação de um suplemento remuneratório para os trabalhadores dos serviços essenciais e permanentes ou o alargamento do acesso ao subsídio de desemprego são algumas das propostas que os comunistas vão apresentar no arranque dos trabalhos da Assembleia da República. “Também o Orçamento do Estado para 2021 tem de dar resposta aos problemas mais imediatos, inadiáveis e urgentes. Tem de acudir a quem perdeu rendimentos com apoios extraordinários que garantam condições de vida, a quem tem em risco a sua atividade, apoiando em particular as micro e pequenas empresas. Tem de dotar o SNS de todos os meios que garantam a prestação de cuidados de saúde”, acrescentou Jerónimo de Sousa.
O líder comunista não ignorou, no discurso de encerramento, a polémica à volta da Festa do Avante! por causa da pandemia. “Queriam calar-nos. Não o conseguiram!”, disse Jerónimo, acrescentando que “aqueles que tudo fizeram para inviabilizar a festa o que mais desejariam era calar esta força que aqui veio e aqui está”.
A grande novidade da Festa do Avante! acabou por ser a notícia de que Jerónimo de Sousa está disponível para continuar na liderança. O congresso do PCP está marcado para os dias 27, 28 e 29 de novembro, em Loures, mas Jerónimo deixou a garantia: “Em qualquer circunstância, o meu partido pode sempre contar comigo”.
Polémica com Marcelo
O secretário-geral do PCP desafiou Marcelo Rebelo de Sousa a marcar presença na festa comunista. Jerónimo lembrou que não seria a primeira vez e desafiou o Presidente da República a “ver para crer em vez de fazer juízos de valor precipitados”.
O PCP acusou Marcelo de estar a dar “uma mãozinha” ao PSD que tem “encabeçado esta campanha violenta” contra a festa.
Marcelo voltou a distanciar-se da posição assumida pelo PCP e pela Direção-Geral de Saúde (DGS) em relação ao evento. Para o Presidente, o problema não é se “está bem ou mal organizado”, mas “a perceção que a opinião pública” tem em relação à Festa do Avante!. “A perceção da DGS e do partido organizador é uma, a perceção de uma parte da população portuguesa é outra”, disse.