Nos próximos artigos irei destacar bons exemplos de municípios e regiões que no seu território, terreste e marítimo, consolidaram uma estratégia assertiva, inovadora, coesa, e participada no “Mar português” permitindo a sua incrementação, desenvolvimento e regeneração.
Começo com Viana do Castelo, pois como Região e ou Concelho é um excelente exemplo de como é possível a articulação e cooperação de diversos parceiros num projeto de desenvolvimento coletivo das potencialidades que o “Mar português” oferece nas diversas variáveis societárias, sejam elas de natureza ambiental, académica, de investigação & inovação, sociais e de lazer ou económicas, e quer estejam direta ou indiretamente ligadas aos mares, oceano e vias fluviais.
O plano estratégico para o concelho assentou em “quatro grandes dimensões: Territorial e Ambiental, Institucional, Social e Cultural e Económica”, teve em linha de conta o seu ADN e vocação marítima e atlântica, baseou-se na sua economia do mar e na reinterpretação das tradições regionais, e contextualizou no plano os “valores da coesão, contemporaneidade, participação e cooperação”.
Paralelamente enfatizou a importância da região para a obtenção de um desenvolvimento coeso, transversal, integrado e de escala, sendo de grande relevância a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, bem como a AECT (Galiza-Norte de Portugal), pois através destas dimensões é possível um aproveitamento mais global do enorme potencial do Mar.
Por outro lado, não é menos displicente destacar a importância da liderança dos atores institucionais, sociais, económicos e da academia deste concelho e região, em particular do atual presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, a consistência e perseverança do trabalho, o serem capazes de manter o rumo da política pública municipal e regional, decidida independentemente das dificuldades e atrasos, o percepcionarem que a transversalidade, cooperação, inovação, determinação são palavras diárias no seu trabalho com o Mar. Este é um dos caminhos que vence tormentas e alcança o sucesso.
Assim, esta aposta no “Mar português” cria a condição substantiva para regenerar, incrementar e potenciar as suas atividades tradicionais de lazer e desporto marítimo, pesca e transformação do pescado, construção e reparação naval, portos e serviços portuários, náutica de recreio, articulando-as com outras atividades mais projetadas na região e concelho como sejam os setores da metalomecânica e automóvel, agricultura, madeiras, cerâmica e turismo entre outras.
E, deste modo é possível aproveitar e potenciar o porto de Viana, nos últimos anos foi aquele que mais cresceu em Portugal, a sua indústria de construção e reparação naval tem registado um ressurgimento significativo, esperando-se acentuar ainda mais o crescimento após a obra de melhora dos acessos ao estaleiro, e do desenvolvimento das atividades de desporto e lazer. Sendo o concelho e região que melhor aproveitou para assegurar um desenvolvimento global do desporto escolar e de competição marítimo, nomeadamente através da consolidação de diversos centros náuticos vela, surf, canoagem, o que veio também potenciar o surgimento de uma indústria associada, é pois neste concelho que se situa o maior fabricante do mundo de caiaques e canoas.
Também a consolidação do primeiro parque eólico da Europa continental e de testes de robôs, dando oportunidade a emergirem novas atividades muito associadas à investigação e inovação, como por exemplo as energias offshore (WindFloat Atlântico), testar novos equipamentos para a melhora das condições da manutenção e desenvolvimento de atividades económicas mais limpas e sustentáveis em alto mar, como por exemplo novos projetos de aquicultura offshore, do qual se conhecem diversos projetos.
Em tudo isto nunca descurando um trabalho atento e permanente na defesa, valorização e regeneração da área ambiental, procurando sempre melhorar e preservar o ecossistema, a orla costeira e zonas ribeirinhas, e aumentar a área da rede natura, sendo a sua participação nos projetos BLUEWAYS4YOU e ECODESTIN_3_IN exemplo disso.
É um enorme e recheado contributo. É pena não ter um acompanhamento e apoio permanente e determinado ao nível da nossa política pública do mar, e não se refletir em todos os concelhos e regiões com frente de mar. Na verdade, se ambas as situações ocorressem certamente que o “Mar português” estaria muito mais aproveitado e potenciado.