Moral da história


Viajei recentemente até à ilha das Flores, nos Açores, e tive a felicidade de ficar alojado junto à única praia de areia existente em toda a costa…


Vamos escutando muitas histórias ao longo da vida e o acesso a elas, através da nossa memória, torna-se mais fácil e eficaz quando as relacionamos com certos acontecimentos.

Viajei recentemente até à ilha das Flores, nos Açores, e tive a felicidade de ficar alojado junto à única praia de areia existente em toda a costa. As restantes praias são de pedra ou rocha. Este contraste fez-me lembrar a história dos dois amigos que, caminhando pelo deserto, se desentenderam, o que levou um dos dois a esbofetear o outro. O que foi agredido ficou triste e magoado mas, sem dizer nada, escreveu na areia: “Hoje, o meu melhor amigo bateu-me no rosto”.

Continuaram a caminhada até que encontraram um oásis, onde decidiram tomar um banho. Aquele que foi agredido ficou preso na lama e começou a afogar-se, mas o outro salvou-o, arriscando a sua própria vida.

Depois de recuperar as forças, o primeiro escreveu numa rocha: “Hoje, o meu melhor amigo salvou-me a vida”. O amigo que agrediu e depois salvou a vida do seu melhor amigo disse:

– Depois de te ter agredido, escreveste na areia, mas agora que te salvei escreveste numa pedra.

E perguntou:

– Porquê?

– Quando alguém nos magoa, devemos escrever na areia, onde os ventos do perdão tudo podem apagar, mas quando alguém nos faz algo de bom, devemos gravar numa pedra, onde vento algum apagará o que quer que seja.

A ilha das Flores é um verdadeiro paraíso natural. Pelos homens, pouco ou nada há a fazer para a embelezar, já que a natureza se encarregou de fazer o seu melhor. Uma cama e um carro é quanto basta para que a felicidade se cumpra. Melhor, só mesmo se for uma boa companhia.

 O medo e o pânico que se têm gerado durante a pandemia não devem sobrepor-se à vontade de viver, mesmo que seja necessário alterar hábitos em nome da responsabilidade. E, acreditem, se não fosse a necessidade de contactar com a empresa de aluguer automóvel (Ilha Verde) e com a guia (Cecília) que nos levou até ao Corvo num passeio excecional, talvez me tivesse esquecido de que havia gente além da minha família por aquelas bandas. A simpatia foi a pedra-de-toque durante a minha estadia e a comunhão entre pessoas e natureza sentia-se por toda a parte. É justo referi-las, tal como é justo dizer que fiz os testes com a famosa zaragatoa e fiquei surpreendido pela rapidez e facilidade do processo, o que veio a contrastar com as imagens promovidas na televisão que habitualmente nos apresentam à hora da refeição, tirando a vontade de comer a qualquer um. Recomendo. Visitem a ilha das Flores e continuem a viver a vida de tal modo que amanhã possam escrever muitas histórias na rocha.

 

Professor e investigador


Moral da história


Viajei recentemente até à ilha das Flores, nos Açores, e tive a felicidade de ficar alojado junto à única praia de areia existente em toda a costa...


Vamos escutando muitas histórias ao longo da vida e o acesso a elas, através da nossa memória, torna-se mais fácil e eficaz quando as relacionamos com certos acontecimentos.

Viajei recentemente até à ilha das Flores, nos Açores, e tive a felicidade de ficar alojado junto à única praia de areia existente em toda a costa. As restantes praias são de pedra ou rocha. Este contraste fez-me lembrar a história dos dois amigos que, caminhando pelo deserto, se desentenderam, o que levou um dos dois a esbofetear o outro. O que foi agredido ficou triste e magoado mas, sem dizer nada, escreveu na areia: “Hoje, o meu melhor amigo bateu-me no rosto”.

Continuaram a caminhada até que encontraram um oásis, onde decidiram tomar um banho. Aquele que foi agredido ficou preso na lama e começou a afogar-se, mas o outro salvou-o, arriscando a sua própria vida.

Depois de recuperar as forças, o primeiro escreveu numa rocha: “Hoje, o meu melhor amigo salvou-me a vida”. O amigo que agrediu e depois salvou a vida do seu melhor amigo disse:

– Depois de te ter agredido, escreveste na areia, mas agora que te salvei escreveste numa pedra.

E perguntou:

– Porquê?

– Quando alguém nos magoa, devemos escrever na areia, onde os ventos do perdão tudo podem apagar, mas quando alguém nos faz algo de bom, devemos gravar numa pedra, onde vento algum apagará o que quer que seja.

A ilha das Flores é um verdadeiro paraíso natural. Pelos homens, pouco ou nada há a fazer para a embelezar, já que a natureza se encarregou de fazer o seu melhor. Uma cama e um carro é quanto basta para que a felicidade se cumpra. Melhor, só mesmo se for uma boa companhia.

 O medo e o pânico que se têm gerado durante a pandemia não devem sobrepor-se à vontade de viver, mesmo que seja necessário alterar hábitos em nome da responsabilidade. E, acreditem, se não fosse a necessidade de contactar com a empresa de aluguer automóvel (Ilha Verde) e com a guia (Cecília) que nos levou até ao Corvo num passeio excecional, talvez me tivesse esquecido de que havia gente além da minha família por aquelas bandas. A simpatia foi a pedra-de-toque durante a minha estadia e a comunhão entre pessoas e natureza sentia-se por toda a parte. É justo referi-las, tal como é justo dizer que fiz os testes com a famosa zaragatoa e fiquei surpreendido pela rapidez e facilidade do processo, o que veio a contrastar com as imagens promovidas na televisão que habitualmente nos apresentam à hora da refeição, tirando a vontade de comer a qualquer um. Recomendo. Visitem a ilha das Flores e continuem a viver a vida de tal modo que amanhã possam escrever muitas histórias na rocha.

 

Professor e investigador