1 – A festa do Avante é, por más razões, o tema do momento. Esta rentrée do PCP está a revelar o que de pior o sistema político e partidário deve fazer. Quando em detrimento da defesa dos interesses da população se privilegia a estratégia de sobrevivência política, estamos perante indicadores preocupantes para a democracia. Neste caso concreto o Governo e o seu principal responsável, António Costa, condicionados pela negociação do Orçamento de Estado para 2021, não tiveram a coragem de exigir ao PCP aquilo que exigiram por exemplo aos clubes de futebol que não têm espectadores; ou aos agentes culturais que estão privados de organizar Festivais (iguais aos da festa do Avante); ou aos estabelecimentos noturnos; ou a tantos outros ramos de actividade que têm tratamento negativamente diferenciado. Reduzindo a Direção Geral de Saúde a um gabinete de assessores que serve para fazer pareceres à medida, vai este Governo tratando, de forma irresponsável, a prevenção e contenção de uma nova vaga do COVID-19. Veja-se a recente notícia do New York Times que não é nada abonatória para a reputação de Portugal e que nos remete para patamares de um País irresponsável e desgovernado. Há visivelmente portugueses de primeira (os camaradas do PCP) e portugueses de segunda que são todos os demais. Uma coisa é certa, depois deste enorme e descarado favor o PCP tem de aprovar o Orçamento de Estado para 2021.
2 – O Hacker Rui Pinto tem estado em foco e, numa reviravolta pouco percetível, parece que é agora um herói da justiça. Que seja do domínio público, Rui Pinto esteve envolvido em mais de uma centena de ataques informáticos no seu passado recente. Este novo “Justiceiro” foi, segundo a justiça portuguesa, responsável por cerca de 90 crimes como por exemplo tentar extorquir dinheiro, violar correspondência (roubando e-mails a empresas e particulares), desvio de fundos, entre outros delitos. Transpondo os alegados crimes de Rui Pinto do mundo virtual para o mundo físico, estaríamos perante um criminoso que assaltou entidades bancárias, vários escritórios e casas particulares, arrombando as portas e os cofres desses bancos, escritórios e casas, para conseguir roubar dinheiro, documentos privados e documentos pessoais para depois usar em proveito próprio. Pode perceber-se que a Polícia Judiciária (PJ) queira um ativo desta natureza para combater o crime informático. Afinal o próprio é, alegadamente, especialista nestes crimes. Mas como diz a sabedoria popular “à mulher de César não basta ser é preciso parecer.” Portanto deve a Justiça e a PJ deixar decorrer o julgamento de forma livre e sem condicionamentos para que depois do seu desfecho se possa definir então qualquer colaboração do Hacker com a Justiça. Se o desfecho for, caso se apure e comprove a conduta criminosa, o de condenar Rui Pinto, este deve pagar pelos seus crimes e só depois de cumprir o que a justiça considerar sensato, ter direito a nova vida. Caso seja considerado inocente então aí deve exercer todos os seus direitos (e deveres). Até lá cometer um alegado crime – ou a percepção de que foi cometido – não pode compensar.
3 – O relatório de auditoria ao Novo Banco já é público e afinal 95% das perdas do Banco foram originadas por perdas antes de 2014, sendo que, segundo António Ramalho (Presidente do Novo Banco), não há um único crédito, um único novo nome que tenha sido concedido posteriormente à resolução que criou o Banco. Aliás o relatório refere que após a resolução e após a venda do Banco não existem problemas relevantes identificados na auditoria. A auditoria especial ao BES e ao Novo Banco revelou perdas líquidas de 4.042 milhões de euros no Novo Banco. Considero António Ramalho um gestor credenciado (fazia parte da equipe de Horta Osório), mas é importante perceber que responsabilidades têm efetivamente os gestores do Novo Banco desde 2015 até aos dias de hoje. Afinal trata-se do dinheiro dos contribuintes que está em causa. Não menos importante é também perceber que responsabilidades têm Mário Centeno e Carlos Costa, ex-ministro das finanças e ex-governador do Banco de Portugal respetivamente, uma vez que era sua responsabilidade fiscalizar toda a atividade do Novo Banco. Convém recordar que o Fundo de Resolução criado pelo Governo que recorreu a empréstimos do Estado, é o mesmo fundo que deve responder pelas perdas, portanto seria obrigatório que Mário Centeno e Carlos Costa soubessem de toda a atividade do Novo Banco. Esperemos também que, no espírito de fiscalização que abunda nesta fase, sejam avaliadas as consequências da venda, feita pelo Governo PS ao fundo Lone Star, que entregou o Novo Banco a um custo ridiculamente baixo, sem aparentemente ter garantido uma fiscalização eficaz da atividade deste mesmo fundo. Aliás, com a privatização do então nacionalizado Banco, António Costa e Mário Centeno foram politicamente hábeis desresponsabilizando-se da gestão e dos ónus futuros de desgaste político. Hoje paira uma enorme neblina sobre alguma a atividade do Novo Banco e é importante que, sem populismos, se apurem as responsabilidades (de instituições e pessoas individuais) para que o paradigma possa mudar e passem a ter as devidas consequências todos os que, de forma lesiva e evidente, gerem os dinheiros dos contribuintes.