O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dirigiu-se a Kenosha, no Wisconsin, esta terça-feira, após dias de fúria e revolta nas ruas devido ao caso de Jacob Blake, baleado sete vezes pela polícia nas costas, à frente dos filhos. No meio dos protestos, duas pessoas acabaram mortas a tiro por um rapaz de 17 anos, admirador da polícia. Teme-se que a tensão escale ainda mais com a visita do Presidente, que não pretende reunir-se com a família de nenhuma das vítimas. Na agenda da Casa Branca está somente um encontro com dirigentes da polícia de Kenosha e uma visita às áreas mais vandalizadas durante os protestos.
A cidade preparou-se para o pior, enquanto Trump ignorava categoricamente os apelos do governador do Wisconsin, Tony Evers, que lhe implorou que adiasse a visita. Logo de manhã, ruas foram fechadas, os comboios de Chicago cancelados, ouviram-se helicópteros nos céus e viu-se uma forte presença de veículos blindados, segundo o New York Times.
“Há poucas expetativas de que a presença de Trump funcione como um bálsamo nesta situação”, avisou o jornal. “Pelo contrário, o Presidente indicou a cada momento que pretendia tornar o evento em Kenosha uma arma de divisão política”.
Aliás, ainda antes de chegar, o Presidente norte-americano já se desdobrava entre propagar teorias da conspiração bizarras – acusou “pessoas de que nunca ouviram falar, pessoas que estão nas sombras negras”, de controlarem nas ruas o seu adversário nas eleições de novembro, o democrata Joe Biden – e lançar declarações inflamatórias numa entrevista à Fox News.
“Eles congelam. É exatamente como no golfe, eles falham uma tacada a três pés [cerca de 90 cm] de distância”, afirmou Trump. Referia-se ao polícia que baleou Blake, que agora aguarda que um milagre lhe permita voltar a andar – uma das balas atravessou-lhe a coluna vertebral. “Eles fazem 10 mil boas ações, que é o que eles fazem, e basta uma maçã podre… Ou uma pessoa congelada”, continuou.
“Eu não vou brincar à política com a vida do meu filho”, garantiu Jacob Blake Senior, pai do jovem baleado, que tem sido uma presença emotiva e constante nos protestos, à CNN. “Tudo isto tem a ver com o meu filho”.
“Lei e Ordem” No fundo, no centro da discussão está a doutrina de “lei e ordem” em que tem apostado a administração Trump, decidida a ignorar as exigências de reforma policial e a demonizar os protestos – algo que pode servir para consolidar a sua base eleitoral conservadora, numa altura em que Trump está consistentemente atrás de Biden nas sondagens.
Aliás, tanto o Presidente como boa parte dos comentadores conservadores se mostraram incapazes de condenar as ações de Kyle Rittenhouse, o rapaz de 17 anos que viajou do Illinois até Kenosha, levando ilegalmente uma espingarda semiautomática AR-15, e acabou a abrir fogo contra a multidão, matando duas pessoas. Trump pintou a imagem de um jovem inocente que se deparou com manifestantes violentos e apenas queria defender-se. “Provavelmente, teria sido morto”, referiu esta segunda-feira, sem nenhuma condenação do vigilantismo.