Em tempos de cólera contra tudo e contra todos, nem o PCP escapa, quando no passado era este partido político o porta-voz dos descontentes da e com a democracia.
Hoje são as multinacionais donas e gestoras das redes sociais que congregam todos os descontentamentos, que agregam os mais espúrios comentários e exacerbam posicionamentos políticos que todos julgávamos extintos, que
Vem isto a propósito da realização da Festa do Avante pelo PCP em 2020. Ano que virou do avesso a vida como a conhecíamos e onde o extremismo vai fazendo o seu caminho, explorando os mais primários sentimentos da humanidade (inveja, ódio, vingança, agressividade, etc.).
Entre as principais críticas que se fazem à realização da festa anual dos comunistas portugueses identificamos (i) a proibição até 30 de setembro da realização de festivais, (ii) a permissividade que o Governo e a DGS demonstram para com o PCP, (iii) a irresponsabilidade de organizar um evento que pode potenciar o aumento de contágios e (iv) a total indisponibilidade do PCP para abdicar da receita que a Festa lhe dá (da especificidade desta receita para um partido político e a forma como os partidos políticos se financiam merecerão um outro artigo futuramente).
Como defesa da realização da Festa encontramos essencialmente os seguintes argumentos (i) a atividade política encontra o seu respaldo nos direitos consagrados na Constituição e são inatacáveis (todos os partidos políticos têm mantido atividade partidária nos moldes que entendem e tendo em conta as orientações da DGS), (ii) o setor cultural, que atravessa uma crise sem precedentes, necessita que quem o possa fazer mantenha a contratação de artistas e (iii) não haverá porventura partido político em Portugal que consiga organizar um evento desta dimensão acautelando todas as questões de higiene e segurança a que o tempo em que vivemos obriga.
Entre os argumentos não usados, mas significativos para a manutenção da realização do Avante, sabemos que (i) o dinheiro das entradas, bem como o dinheiro gasto nas barraquinhas de comes e bebes das organizações regionais do PCP são significativas para manter a sua atividade, (ii) existirão várias empresas e empresários que dependerão da realização da festa para a sua sobrevivência e (iii) esta festa é o momento onde muitos militantes do PCP se reencontram e não querem deixar de o fazer, mesmo perante a ameaça do vírus.
Depois de desfiados os argumentos pró e contra e como o mundo não é, nem pode voltar a ser, o mesmo, a Festa do Avante que eu realizaria seria a seguinte, tendo por base o princípio da precaução: a)Manteria os Comícios e debates políticos com um número limitado de participantes presenciais e através de meios online; b) os Concertos realizar-se-iam apenas online para quem os quisesse ver; c) excecionalmente não organizaria qualquer atividade de comes e bebes. Faria desta forma, não porque exista qualquer proibição, mas por responsabilidade política e porque aos partidos políticos impõe-se liderar pelo exemplo.
Aos partidos políticos cabe essa liderança e, infelizmente, o PCP neste particular optou por não o fazer. Não sou contra a atividade política e partidária do PCP pela qual tenho o maior respeito e considero importantíssima nos equilíbrios da esquerda portuguesa, mas a realização da festa parece mesmo ocorrer por birra e despeito.
Uma última nota sobre as exigências para a DGS divulgar publicamente o parecer técnico elaborado para a Festa do Avante. Concordando com a sua publicitação, entendo, que se for essa a opção, deverão ser divulgados todos os pedidos de parecer à DGS de todas as entidades (efetuados e a efetuar), bem como todos os pareceres já emitidos e a emitir. Não se percebe que só exista interesse em saber publicamente o parecer referente a um evento do PCP, tendo já sido realizados inúmeros eventos e iniciativas que foram alvos também de parecer da DGS. A transparência deverá ser para todos.
Pedro Vaz