Tesouro dos pobres

Tesouro dos pobres


Depois da moda do pobrezinho de estimação ninguém se lembrou ainda do velhinho de estimação.


Pareceu-me importante lembrar hoje os nossos velhinhos que morreram abandonados pelos lares e em lares por incúria de alguns – muitos mais do que o desejável – e negligência dos mesmos.

Tomemos finalmente uma posição responsável e coerente relativamente aos que correm o mesmo perigo.

Depois da moda do pobrezinho de estimação ninguém se lembrou ainda do velhinho de estimação, exceto quando este é pobrezinho…

Referi numa crónica anterior que a história é, muitas vezes, uma verdade composta por pequenas mentiras. Por isso facilmente nos perdemos nos ditos e não ditos que, sendo repetidos por ignorância ou teimosia, acabam por atraiçoar a memória coletiva.

Um tema mediático desaparece com a mesma rapidez com que surge. O segredo está no foco, arte de resto bem conhecida pelos ilusionistas que, sabendo jogar com o olhar do público conseguem desviar as atenções de forma a ocultar certos segredos que caso fossem detetados, estragariam o truque.

A tradição histórica tem identificado Pedro Hispano como sendo um único homem cujo nome de batismo é Pedro Julião, natural de Lisboa, eleito papa em 1276, morto acidentalmente em 1277.

Como sabemos, adjacente a todas as fragilidades inerentes a um estudo sistemático e científico por parte dos historiadores está a tradição oral, de natureza popular que entra em tensão com a ideia de que por mais informação que se consiga reunir sobre quem quer que seja, nunca se consegue fazer justiça aos factos em absoluto.

A tendência para identificar diferentes Pedros Hispanos com um único homem, nada tem de recente podendo encontrar-se referências a esta agregação já nos finais do século XIII e início do século XIV, pese embora o facto de existirem elementos que desafiam esta identificação aos quais se juntam contradições e lacunas da historiografia. Por essa razão é conveniente que nenhuma hipótese seja descartada, quer seja a admissão da existência de um único Pedro Hispano, médico, filósofo e papa quer seja a possível existência de várias obras escritas por diferentes Pedros de origem hispânica, uns portugueses outros não. Ao único papa português é atribuída a arte da medicina. Razão pela qual existem hospitais, centros de saúde e muitas outras referências ao seu nome como seja o caso da Faculdade de Medicina em Coimbra. O conhecimento sobre as ciências médicas sempre foi visto como um ramo de respeito e de valor. Se existem médicos que mal sabem olhar nos olhos de um paciente, outros há que os olham na alma e a esses estamos obrigados. Por tudo quanto já fizeram. Por nós e pelos nossos.

Pedro Julião, médico ou não, é e será a história de um homem acerca de quem a História conta histórias que continuam a servir de ponto de partida para muitos romances e investigações.

Se a comunicação social expressasse a verdade, então os jornais diários dariam notícias, as verdades viriam a público, não confundiriam o observador, seriam correios do rigor e serviriam para pôr os pontos nos ii.

Mas voltemos aos velhinhos…

Professor e investigador