Miguel Oliveira. O senhor inteligente que sabe voar em duas rodas

Miguel Oliveira. O senhor inteligente que sabe voar em duas rodas


Este domingo, Portugal encheu-se de amantes das duas rodas, depois de Miguel Oliveira vencer o seu primeiro grande prémio de MotoGP. Os espanhóis é que não gostaram que lhes estragassem a festa. 


Os espanhóis, verdadeiros campeões em duas rodas, nem queriam acreditar no que viam quando o português Miguel Oliveira – depois da última curva do circuito da Estíria, em Spielberg, Áustria – ultrapassou Pol Espargató, que estava envolvido na luta pelo primeiro lugar com Jack Miller. As imagens da Teledeport são bastante elucidativas. Quando Miguel Oliveira ultrapassou os dois homens da frente, os comentadores atiraram os papéis que tinham nas mãos ao ar.
Estava realizado um dos principais sonhos do jovem corredor de Almada – o outro é ser campeão na prova-rainha do motociclismo. No circo do MotoGP, Oliveira começa a ganhar a fama de saber o que faz na pista. “O senhor Inteligência usou o seu cérebro, observou e deixou todos para trás”, disse Neil Hodgson, comentador da BT Sport. De facto, as imagens captadas de cima mostram como Oliveira, menos rápido do que os dois da frente em reta, esperou o melhor momento para os ultrapassar na última curva.

 
Peões aos 4 anos

A vida de Miguel Oliveira sempre esteve associada às duas rodas e apenas entre os cinco e os nove anos é que esteve afastado das motos, já que tinha sofrido um acidente aparatoso e o pai decidiu que era melhor fazer uma paragem no sonho das corridas em duas rodas. Antes disso, como contou numa entrevista ao Expresso, com três/quatro anos já fazia peões e tinha passado de uma moto-quatro para uma de duas rodas. Aos nove anos fez a sua primeira corrida, em Braga, e aos 14 já andava no campeonato da Europa e no espanhol, e o pai, um homem ligado à construção civil – a mãe era empregada doméstica –, decidira abandonar a sua profissão para acompanhar as corridas do filho.

Na referida entrevista, o piloto chegou a explicar porque desistiu dos karts: “Afastei-me por causa do ambiente, senti que não me enquadrava. Venho de origens humildes e, na altura, passávamos dificuldades económica –, o meu pai não era uma pessoa com um bruto Mercedes, como tinham os outros pais. Havia essa vertente socioeconómica que me fazia estar muito distante dos outros miúdos porque não gostava do ambiente que os envolvia”. 

 Em 2011 chegou ao Moto3, acabando por se tornar, mais tarde, vice-campeão da modalidade. A etapa seguinte foi o Moto2, onde também alcançou o pódio do segundo lugar, em 2018.

Há muito que Miguel Oliveira sonhava conduzir as motos mais potentes ao lado do seu ídolo Valentino Rossi. Em 2012 confessava ao semanário SOL: “Não aponto datas, mas o meu sonho é chegar ao MotoGP”. Tinha 17 anos e estava no segundo do Moto3.

Este domingo, depois de cortar a meta em primeiro lugar, confessou: “Estou muito emocionado, há tanto que quero dizer… Obrigado a todos os que acreditam em mim, há tantas pessoas de que me lembro. A família, a equipa, os patrocinadores, os portugueses… Sim, somos os melhores! Obrigado pelo apoio. Fizemos história, pelo país! Estou muito feliz por ter sido aqui, em casa da KTM. Obrigado a todos”. 

Atualmente, Oliveira ocupa a nona posição no campeonato, somando 43 pontos, menos 27 do que o líder, Fabio Quartaro. 

O piloto é um exemplo para todos os jovens que querem ser corredores profissionais. Kiko Maria, de 16 anos, atual campeão nacional de Pré-Moto 3, vice-campeão em 2018 e, neste momento, um dos pilotos da Leopard Racing Team, que disputa o Campeonato Mundial Júnior de Moto3 – campeonato que já passou em julho por Portugal, nas rondas inaugurais, no Estoril e em Portimão –, assistiu à corrida em Barcelona, onde recupera de uma operação a uma lesão no fémur e onde será de novo operado. “Sem dúvida que o Miguel é uma fonte de inspiração para todos nós, pilotos portugueses, principalmente pela dificuldade que é ser reconhecido, tendo em conta que não temos os apoios necessários para podermos crescer internacionalmente. Esta vitória demonstra que nascendo num país pequeno, com foco, determinação, espírito de sacrifício e muito trabalho, temos atletas vencedores e com elevado nível competitivo. O percurso do Miguel eleva a importância de Portugal no mundo do motociclismo e é um abrir de portas para todos nós”.

O campeonato de MotoGP termina a 22 de novembro no autódromo de Portimão. Será que vamos ver Miguel Oliveira no pódio? O homem que quis ser dentista e casou com a filha da madrasta, assumindo o amor abertamente, é de ideais fortes e já disse que quer ser campeão. Será que é desta, já que foi vice nas duas categorias inferiores?