O presidente do PS, Carlos César, desafiou os parceiros de esquerda da anterior legislatura para se definirem “sem demoras”, de uma vez por todas, sobre um consenso para garantir a estabilidade governativa à esquerda com o PS no Governo. E fê-lo, na rede social Facebook, como uma espécie de lembrete do que já tinha afirmado, mas em jeito de pressão.
No Bloco de Esquerda, a coordenadora do partido, Catarina Martins, lembrou que “faltam da parte do PS respostas essenciais”. Dito de outra forma: para já, o ultimato não teve resultados nem convenceu.
Por sua vez, o deputado do Bloco de Esquerda e vice-presidente do Parlamento José Manuel Pureza também usou as redes sociais para responder ao repto do presidente do PS: “Quem agora intima a esquerda a fazer consensos com o PS ‘de uma vez por todas e sem demoras’ é quem teima em manter tudo como está nas PPP na saúde, nos direitos dos trabalhadores ou na complacência para com os desmandos do Novo Banco. Mudar isto e muito mais é fundamental. De uma vez por todas e sem demoras”, escreveu o parlamentar.
Em declarações ao i, o deputado contextualizou o seu comentário e apontou baterias a um tira-teimas sobre o empenho do PS para o futuro: “Aproxima-se o próximo Orçamento. A definição das prioridades no Orçamento e a quantificação dessas prioridades vão ser uma excelente forma de testar se realmente há empenhamento da parte do PS para se entender à esquerda ou se, pelo contrário, há uma vontade nesta indefinição que, no fundo, é favorável ao entendimento ao centro com o PSD”.
Para José Manuel Pureza, as declarações de César seguiram em linha com o desafio deixado por António Costa no debate do Estado da Nação, em que foi pedida uma renovação de votos aos parceiros de esquerda da anterior legislatura: Bloco de Esquerda, PCP e PEV. O PAN também está incluído nesta lista , mas só haverá reuniões para o Orçamento do Estado em setembro, apurou o i.
Para o deputado do Bloco de Esquerda, o registo de Carlos César não bate certo com o que tem sido a prática do PS nos últimos tempos. “O problema é que isso não bate certo com a prática concreta e o empenhamento (ou falta dele) do PS e do Governo no que diz respeito a políticas absolutamente essenciais”. Segundo José Manuel Pureza, “intimar a esquerda a fazer consensos com o PS sem clarificar de uma maneira muito precisa qual é o conteúdo político desses consensos não é uma coisa séria”. Na opinião do deputado, “consensos para manter tudo como está tem havido muitos. Não têm faltado ao PS passeios à direita para manter [a situação] como está”, concluiu o parlamentar, para quem esta nota do presidente do PS “é uma intimação”. Agora deixa outro desafio aos socialistas sobre um potencial acordo: “Então vamos lá saber em torno de quê e para quê, em concreto”.
No Expresso, por exemplo, um dos fundadores do BE, Francisco Louçã, lembrou também a César que “a pressa facebookiana é má conselheira”.
E o que escreveu Carlos César? O presidente do PS escolheu um domingo em pleno agosto para defender que “é tempo de dizer ao BE, PCP e PEV, ou mesmo ao PAN, se são ou não capazes de reunir esses consensos num enunciado programático com o PS, suficiente mas claro, para a Legislatura… ou se preferem assobiar para o ar à espera dos percalços”. E insistiu que não há muito tempo para decisões ao exigir que se definam “de uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos”.