A política e a saúde


A pandemia e a sua cura tornaram-se uma competição entre potências. Trata-se de preservar economias e, em muitos casos, carreiras políticas.


O recente anúncio da primeira vacina anticovid por parte da Rússia é o culminar de uma guerra política em que se transformou a pandemia. Em vez de políticas de saúde, temos a política, na sua pior expressão, na saúde.
O Governo russo, saudoso do poder do império soviético, aposta apressadamente numa vacina ainda não completamente testada para marcar pontos a nível mundial e colocar a ciência russa no primeiro lugar.

A pandemia e a sua cura tornaram-se uma competição entre potências, numa verdadeira corrida para salvar muito mais do que vidas humanas. Trata-se de preservar economias e, em muitos casos, carreiras políticas. 
Nos Estados Unidos, Donald Trump, no seu estilo errático, aposta nos dólares para comprar, em regime de exclusividade, a primeira vacina que entrar no mercado. Aqui trata-se da derradeira tentativa de um Presidente que há muito sente o chão a fugir-lhe debaixo dos pés para inverter a tendência das sondagens, que apontam para uma derrota eleitoral.

No Brasil, Jair Bolsonaro, um Presidente teoricamente infetado, toma remédios não testados e passeia-se entre multidões, tentando provar que, afinal, a covid é mesmo “uma gripezinha”, o que lhe permite passar pelos pingos da chuva e fugir da acusação de crime contra a humanidade pela sua atuação na pandemia, interposta por um grupo de sindicatos brasileiros no tribunal de Haia.

Em Portugal, a pandemia causou uma acalmia política, com o maior partido da oposição a deixar o Governo atuar praticamente sem críticas e ajudando mesmo o primeiro-ministro a descansar, permitindo que tenha de responder aos deputados, no Parlamento, apenas de dois em dois meses. 

Os efeitos da pandemia vão sentir-se cada vez com maior gravidade nos próximos meses. Veremos como reagem os atores políticos e se sabem colocar como prioridade a vida humana, a procura sincera de uma cura para a pandemia, num esforço solidário, ou se, pelo contrário, vão enredar-se em esquemas de sobrevivência ou de marketing nacionalista, sobrelevando os interesses particulares ou nacionalistas aos da comunidade mundial. 
Misturar baixa política com saúde pode infetar seriamente aquele que é o nosso bem mais precioso.

Jornalista

A política e a saúde


A pandemia e a sua cura tornaram-se uma competição entre potências. Trata-se de preservar economias e, em muitos casos, carreiras políticas.


O recente anúncio da primeira vacina anticovid por parte da Rússia é o culminar de uma guerra política em que se transformou a pandemia. Em vez de políticas de saúde, temos a política, na sua pior expressão, na saúde.
O Governo russo, saudoso do poder do império soviético, aposta apressadamente numa vacina ainda não completamente testada para marcar pontos a nível mundial e colocar a ciência russa no primeiro lugar.

A pandemia e a sua cura tornaram-se uma competição entre potências, numa verdadeira corrida para salvar muito mais do que vidas humanas. Trata-se de preservar economias e, em muitos casos, carreiras políticas. 
Nos Estados Unidos, Donald Trump, no seu estilo errático, aposta nos dólares para comprar, em regime de exclusividade, a primeira vacina que entrar no mercado. Aqui trata-se da derradeira tentativa de um Presidente que há muito sente o chão a fugir-lhe debaixo dos pés para inverter a tendência das sondagens, que apontam para uma derrota eleitoral.

No Brasil, Jair Bolsonaro, um Presidente teoricamente infetado, toma remédios não testados e passeia-se entre multidões, tentando provar que, afinal, a covid é mesmo “uma gripezinha”, o que lhe permite passar pelos pingos da chuva e fugir da acusação de crime contra a humanidade pela sua atuação na pandemia, interposta por um grupo de sindicatos brasileiros no tribunal de Haia.

Em Portugal, a pandemia causou uma acalmia política, com o maior partido da oposição a deixar o Governo atuar praticamente sem críticas e ajudando mesmo o primeiro-ministro a descansar, permitindo que tenha de responder aos deputados, no Parlamento, apenas de dois em dois meses. 

Os efeitos da pandemia vão sentir-se cada vez com maior gravidade nos próximos meses. Veremos como reagem os atores políticos e se sabem colocar como prioridade a vida humana, a procura sincera de uma cura para a pandemia, num esforço solidário, ou se, pelo contrário, vão enredar-se em esquemas de sobrevivência ou de marketing nacionalista, sobrelevando os interesses particulares ou nacionalistas aos da comunidade mundial. 
Misturar baixa política com saúde pode infetar seriamente aquele que é o nosso bem mais precioso.

Jornalista