Prémio Princesa das Astúrias. O capitalismo 3.0 de Dani Rodrik

Prémio Princesa das Astúrias. O capitalismo 3.0 de Dani Rodrik


Professor de Economia em Harvard, Dani Rodrik marca a década afirmando a emergência de um capitalismo 3.0 e apostando num regresso ao protecionismo.


Dani Rodrik marca a década pelo “rigor na análise da dinâmica da globalização”, disse o júri do Prémio Princesa das Astúrias, bem como por procurar contribuir para que o sistema económico “seja mais sensível às necessidades da sociedade”. Tais predicados observam-se de modo vincado na sua obra O Paradoxo da Globalização, onde expõe o trilema de uma época: mais democracia, mais autodeterminação nacional e maior integração dos mercados, em simultâneo, não será possível e implica escolhas decisivas a realizar.

Não poucos observarão neste livro o captar antecipado de tensões sociais e escolhas disruptivas do ponto de vista político que se sucederam, nesta década, a nível mundial, talvez porque poucos tivessem tido a lucidez de perceber esta mesma (tripla) equação e de lhe oferecer uma resposta socialmente sustentável.

Globalização e capitalismo estão de tal modo entrelaçados que um pronunciamento acerca do futuro de um implica, necessariamente, um retirar de consequências sobre o outro, pelo que, quando Dani Rodrik tece um amplo conjunto de considerandos acerca do primeiro dos fenómenos, intentando um não menos extenso programa de reforma, afirme a emergência de um capitalismo 3.0.

De entre as regras sugeridas para um capitalismo 3.0 está, na linha de uma maior margem de manobra para as políticas nacionais – que é, igual e paradoxalmente, maior margem de manobra para uma globalização que se aguente e não seja pura e simplesmente substituída, dados os seus efeitos sociais e políticos, pelo regresso ao protecionismo que, sem este downgrade, se tornará possivelmente mais próximo –, a hipótese de, com maior frequência, os países utilizarem as suas cláusulas de salvaguarda. “Precisamos de aceitar o direito de cada país a salvaguardar as suas próprias opções institucionais. O reconhecimento da diversidade institucional não teria sentido se os países não pudessem ‘proteger’ as suas instituições nacionais […]. O comércio externo é um meio para chegar a um fim, não é um fim em si mesmo. Os defensores da globalização predicam, incessantemente, ao resto do mundo que os países devem mudar as suas políticas e instituições para expandir o seu comércio internacional, tornando-se mais atraentes para os investidores estrangeiros. Esta forma de pensar confunde os meios com os fins. A globalização deveria ser um instrumento para conseguir os objetivos que as sociedades perseguem: prosperidade, estabilidade, liberdade e qualidade de vida”.

Eis alguns princípios e regras propostos pelo professor de Economia de Harvard para conformar o novo paradigma capitalista: i) Os mercados devem estar profundamente integrados em sistemas comuns de governança; ii) A governança democrática e as comunidades políticas estão organizadas, em grande medida, dentro dos Estados-nação e é provável que assim continuem num futuro imediato; iii) Não existe “um único caminho” para a prosperidade; iv) Os países têm direito a proteger os seus próprios sistemas sociais, normas e instituições; v) Nenhum país tem direito a impor as suas instituições a outros; vi) O objetivo dos acordos económicos internacionais deve ser a adoção de regras de tráfego para gerir a interface entre as instituições nacionais; vii) Os países não democráticos não podem contar com os mesmos direitos e privilégios na ordem económica internacional que as democracias.