Espanha. O caos que Juan Carlos deixou para trás

Espanha. O caos que Juan Carlos deixou para trás


O antigo rei de Espanha, acossado por escândalos e suspeitas de corrupção, deixa para trás uma monarquia cada vez mais questionada, causando até fraturas no Governo.


O antigo Rei de Espanha, Juan Carlos, cuja reputação andava cada vez mais pelas ruas da amargura, saiu do país para proteger a monarquia e o seu filho, o Rei Filipe VI. Continua-se a discutir se partiu para a República Dominicana, para Portugal ou para outro destino, se será um exílio definitivo ou se regressará em setembro: tudo hipóteses já avançadas pela imprensa espanhola. O objetivo do antigo rei é dar “tranquilidade e sossego” ao filho para governar, explicou na sua carta de despedida. Contudo, certos “acontecimentos passados” da sua “vida privada”, como descreve Juan Carlos – um aparente eufemismo para as suspeitas de corrupção – deixaram para trás uma enorme confusão que criou fraturas dentro da própria coligação de Governo, entre o PSOE, ferozmente monárquico, e o Unidas Podemos, que despiu as vestes de republicanismo militante quando chegou ao Governo, mas continua a não ser propriamente fã da casa real.

“A saída para o estrangeiro de Juan Carlos de Bourbon é uma atitude indigna de um ex-chefe de Estado e deixa a monarquia numa situação muito comprometida”, tweetou o vice-primeiro-ministro e líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias. “É um dever para quem ocupa cargos de Governo zelar pela exemplaridade e limpeza das instituições”, acrescentou, numa farpa dirigida aos seus parceiros: a ministra da Igualdade, do Unidas Podemos, Irene Montero, fez questão de salientar à Cadena Sur que o apoio do PSOE à “fuga” de Juan Carlos “não foi uma decisão do Governo de coligação”.

Já os independentistas tiveram menos papas na língua. Pedem que “não se prolongue mais a monarquia”, nas palavras do líder do Governo Regional da Catalunha, Quim Torra. Este fala numa “fuga tolerada”, de “um caso que devia envergonhar qualquer democrata” e de uma “crise aberta da monarquia”. Já o líder do PSOE, Pedro Sánchez, defendeu: “Aqui não se julga as instituições, julga-se as pessoas”. Além disso, o primeiro-ministro salientou que “o Rei emérito deixou claro que está à disposição da justiça”.