Rui Rio abriu, pela primeira vez, a porta a uma coligação com o Chega se o partido “evoluir para um plano mais moderado”. André Ventura descarta deixar cair as principais bandeiras, mas garante que esse entendimento será mais fácil se o PSD mostrar disponibilidade para apoiar algumas das prioridades do Chega.
A possibilidade de uma aproximação entre o PSD e o Chega estava, até agora, afastada.
Rui Rio, numa entrevista à RTP, há menos de uma semana, não excluiu, porém, “conversar” com o partido de André Ventura. “Espero é que o Chega possa evoluir para um plano um pouco mais moderado, então não estou a dizer que se faça [um entendimento], mas é possível conversar”.
André Ventura responde ao PSD com a garantia de que esse entendimento só será possível se o PSD também se mostrar disponível para apoiar algumas das bandeiras do Chega. “O PSD sabe quais são as nossas exigências e não tem dado passos nesse sentido. A questão da minoria cigana em Portugal é para ser resolvida no quadro do Estado de Direito e o PSD recusa-se a assumir que existe um problema. A luta contra a corrupção e a criminalidade violenta é uma prioridade para nós e o PSD tem estado sistematicamente ao lado do PS e do Bloco de Esquerda”.
E acrescenta: “No início de setembro, o Chega vai apresentar um projeto de revisão constitucional para a prisão perpétua de homicidas, violadores, pedófilos e outros tipos de criminalidade grave. Se Rio quiser dar um sinal de aproximação, esse é o momento”.
Ventura garante que “assim fica muito difícil que se façam quaisquer tipos de pontes” e avisa que “negociar com o Chega não será o mesmo que negociar com o CDS”. Apesar disso, o líder e deputado do Chega está convencido de que “não haverá novas maiorias de direita sem o Chega”.
críticas a Rui Rio Rui Rio deixou claro que só estará disponível para conversar com André Ventura se o Chega “mudar” e abandonar uma “linha de demagogia” e “populismo”. Mesmo assim, alguns sociais-democratas não gostaram de ouvir o líder do partido abrir a porta a entendimentos com André Ventura. O histórico do PSD Rui Machete avisou, em declarações ao i, nesta segunda-feira, que um entendimento com o Chega seria “descaracterizar por completo o PSD”. O ex-deputado social-democrata José Eduardo Martins escreveu, nas redes sociais, que a entrevista de Rui Rio representa “a confissão de uma enorme aflição”. As declarações de Rui Rio também mereceram comentários à esquerda. Isabel Moreira, na sua página do Facebook, partilhou a entrevista e considera que o líder do PSD vai “de desastre em desastre”. José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, disse que “significaria uma rutura do PSD com a sua cultura social-democrata”.
Ao i, Guilherme Silva, ex-líder parlamentar do PSD, lembra que Rui Rio deixou claro que só estará disponível para conversar se o Chega “evoluir para uma aproximação ao centro” e considera que “houve algum aproveitamento de alguns setores do PSD e da esquerda” para atacar o presidente do partido.
“Rui Rio disse que não faria, neste momento, um acordo com o Chega. Não se podem é fazer promessas de exclusão ou de inclusão sem conhecer a evolução que as coisas possam ter. É preciso ter em conta que Rui Rio sempre esteve numa ala mais à esquerda [no PSD]”, afirma o antigo vice-presidente da Assembleia da República.