Pela primeira vez desde 18 de março, Portugal não registou este domingo qualquer morte por covid-19. O secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales, emocionado, falou de um momento de satisfação e pediu cautela, recusando “euforias desmedidas quando a situação aparenta estar mais controlada” e “negativismos exacerbados quando as coisas não correm como gostaríamos”.
Questionado pelo i, Lacerda Sales adiantou que o plano de intervenção para o outono/inverno deverá ser apresentado no final do mês. Terá várias vertentes, do reforço dos recursos humanos e da capacidade laboratorial ao apoio às pessoas mais vulneráveis. O secretário de Estado deixa desde já traçado o objetivo de não parar a atividade normal do SNS: “Não podemos parar a atividade assistencial não covid, vamos ter de manter a atividade em paralelo. Estamos mais preparados e a diferenciação com segurança da resposta é fundamental”.
A conferência da Direção Geral da Saúde ficou marcada pela garantia de que Portugal não vai baixar o número de testes e que a nova norma para rastreio de contactos, contestada pela Ordem dos Médicos e consultores da DGS, não altera a política de testagem do país. Rui Portugal, o médico que em junho foi escolhido para coordenar o gabinete de crise em Lisboa e é o novo subdiretor-geral da Saúde, estreou-se na conferência nesse cargo.
Em entrevista ao Sol, o médico defendera já no final de julho que têm estado a ser feitos testes no país sem critério, como se fossem “beber um sumo”, considerando que no caso de coabitantes nem sempre são necessários para quebrar cadeias de transmissão. Esta segunda-feira, reiterou que a prescrição dos testes é um “ato médico” e deve acontecer em função da avaliação de risco feito em cada caso pelos médicos, exemplificando critérios que podem pesar, como a profissão (profissionais de saúde terão maior risco) ou a condição socioeconómica. Em meios menos privilegiados e menores condições de isolamento, pode haver mais vantagem em testar, admitiu.
Rui Portugal mantém que não há vantagem em testar todos os coabitantes no início do isolamento. “Não pensamos que seja boa prática que uma pessoa que esteja a coabitar com alguém que seja positivo tenha de ir a correr fazer o teste imediatamente a seguir. O que é preciso é estar confinada. Até porque é preciso garantir que o transporte para o teste é feito em segurança, porque não sabemos se a pessoa pode ou não contagiar”, explicou. “Tudo neste momento conta, sobretudo quando começamos a ter felizmente números mais baixos e todas estas variações vão ser mais notadas”, concluiu, sublinhando que a norma é clara e compreendida por todos os médicos.