Por muito que se escreva sobre este tema, parece não chegar a hora em que muitos dos que dizem que Portugal é um país racista acabem por perceber que estão apenas a ser instrumentalizados numa narrativa que apenas serve quem a alimenta. Tudo quanto aconteça neste país e que envolva uma pessoa preta é imediatamente um episódio de racismo. Ora eu começo a ficar um bocado farto desta palhaçada. O mais recente episódio desta temática surgiu pelo homicídio que no passado sábado vitimou em Moscavide o actor Bruno Candé. Quanto ao sucedido há que desde já lamentar genuinamente, repito, genuinamente, a morte verificada. Mas não é por ter morrido um preto. Como não seria por ter morrido um branco. Lamento porque morreu uma pessoa. Ponto final parágrafo. Volvida esta primeira consideração importa condenar veementemente todos quantos se apressaram a afirmar que estaríamos perante um crime de ódio, isto sem que houvesse, tanto quanto se pôde observar pelo que a comunicação social foi informando, quaisquer testemunhas ou autoridades que o dissessem. Portanto é absolutamente vergonhoso que uma vez mais se tenha instrumentalizado um crime como sustentáculo para a bandeira do racismo, que repito como tantas vezes já disse e escrevi, não passa hoje de uma moda. Tanto é que por esses twitter´s fora ou por algumas tão infelizes contas de facebook existentes, várias foram as personalidades políticas que logo se apressaram em capitalizar o momento. Não lhes interessava que alguém tivesse tragicamente morrido. Interessava-lhes sim transformar o morto no porta-estandarte das suas guerrilhas ideológicas chegando quase a alvitrar que quem tinha a autoria moral do sucedido seriam inclusivamente determinadas forças políticas. Li por aí um tweet, que a menos que seja falso e se o for pedirei desculpa no segundo que mo provarem, sendo da pertença de uma deputada da nação, dizia qualquer coisa como que estes episódios provavam que quem grita que Portugal não é racista, o faz apenas para aliviar a consciência sobre mais um funeral sendo esse o motivo de manifestações organizadas para defender esse mesmo entendimento. Sabem, há uns anos comecei por enervar-me com as alarvidades que certas aventesmas nacionais sibilavam. Depois comecei a considerá-las como uma infeliz manifestação de burrice crónica. Hoje só não me rio porque o assunto é sério demais para me soltar gargalhadas, mas acabo simplesmente rendido à evidência de que eventualmente possa haver quem seja apenas estúpido. Não há nada a fazer. É aceitar e ter pena. Pena e vergonha alheia, claro. Aquilo que todos temos de compreender e lutar para que se faça compreender é que não é quem afirma que Portugal não é racista que tira proveito destas situações. Mais, que precisa que elas aconteçam para ter palco. Muito pelo contrário. Quem disto precisa é quem está do outro lado da barricada. O que aconteceu a Bruno Candé foi um trágico e condenável crime. Crime, esse, que espero que as entidades competentes investiguem e punam. Agora, libertadores de pacotilha ou políticos de pechisbeque como aqueles que uma vez mais meteram as orelhas fora da toca, quando se tivessem vergonha na cara nem de casa saíam para dizer bom dia aos demais, é que não! Portugal não é racista!! E já quase 2000 pessoas o afirmaram enquanto desciam a pé a avenida da Liberdade. Acho que esta semana houve para aí algures uma manifestação pelo contrário entendimento que juntou, tanto quanto ouvi, 150 iluminados. Pois este domingo vai haver nova marcha para que se volte a gritar bem alto que Portugal não é racista. No próximo domingo, dia 2 de agosto pelas 17 horas e 30 minutos, todos à praça do município.
Rodrigo Alves Taxa