Grande Lisboa regista o número mais baixo de novos casos de covid-19 desde abril

Grande Lisboa regista o número mais baixo de novos casos de covid-19 desde abril


Incidência continua a baixar, mas país ainda não saiu do vermelho. Galiza aperta hoje medidas.


Em contraciclo com o que se passa agora noutros países europeus, o número de novos casos de covid-19 em Portugal continua a baixar. Lisboa registou esta terça-feira o menor número de novas infeções desde o fim de abril, quando o país ainda estava sob estado de emergência. A incidência de covid-19 nos últimos sete dias situa-se nos 15,1 casos por 100 mil habitantes. Nos últimos 14 dias, o indicador usado nas comparações internacionais, a incidência baixou mais uma vez esta terça-feira para os 33,5 casos por 100 mil habitantes.

Apesar da evolução positiva, o país mantém-se acima dos 20 casos por 10 mil habitantes e será preciso continuar a verificar-se uma diminuição nos casos diários para sair desse patamar, que acaba por ter as maiores consequências nas decisões sobre corredores turísticos. A Áustria manteve esta semana Portugal na lista de restrições, depois de o Reino Unido ter tomado a mesma decisão no final da semana passada. As autoridades britânicas passaram a exigir também quarentena a quem viaja para Espanha, que depois de um período de acalmia no último mês e meio passou nas últimas duas semanas para um patamar de 47,2 por 100 mil habitantes, impulsionados pelo aumento de casos na Catalunha. Segundo a imprensa britânica, Downing Street admite no entanto reduzir de 14 para 10 dias o período de quarentena a que terão de estar sujeitos os britânicos de férias em Espanha quando tiverem de regressar a casa, isto numa altura em que se estima que haja mais de 500 mil ingleses a fazer férias em Espanha e os protestos não tardaram. Ontem não era ainda claro se a medida iria avançar e poderá também ser equacionada para Portugal. O ministro dos Negócios Estrangeiros lamentou na semana passada publicamente a decisão do Reino Unido, considerando que “não está fundamentada nos factos e nos dados que são conhecidos”.

O critério galego

O i sabe que tem havido conversações, mas as exclusões mantêm-se. Ontem a região da Galiza oficializou novas medidas que implicam que a partir desta quarta-feira os viajantes provenientes de Portugal, assim como das cinco comunidades do Norte de Espanha com mais casos, passarão a ter de fornecer um registo de contactos. O critério usado para estabelecer a lista de proveniências que passam a ter entrada condicionada na Galiza são os territórios que nos últimos 14 dias tiveram uma incidência cumulativa de casos de covid-19 por 100.000 habitantes 3,5 vezes superior à da Galiza. Na prática, cada região e país europeu continua a ditar as suas regras para a circulação na Europa.

Perante a decisão da Galiza, o deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite, defendeu mais ação no terreno: “O que é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros anda a fazer? Estão a destruir o setor do turismo com impactos brutais na economia como um tudo”, escreveu nas redes sociais. O MNE garantiu ao Jornal Económico que o Governo “está a obter, pelos canais diplomáticos pertinentes, todas as informações e esclarecimentos necessários sobre os fundamentos e alcance desta decisão, designadamente sobre as implicações práticas que acarreta no domínio das comunicações e trânsito entre Portugal e a Galiza”.

Internamente, não tem havido novos sobressaltos, ainda que continue a haver surtos ativos em todas as regiões do país. Lisboa, que tem sido o principal foco de casos, continua a dar sinais de cedência, sendo a terceira semana em que os casos mostram uma tendência decrescente. As equipas multidisciplinares criadas no final de junho para garantir o isolamento de infetados na área metropolitana passaram no início desta semana os 7200 contactos, informou ontem a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

Foco em Armação de Pera tem duas semanas

No Norte, os casos reportados mantêm-se na casa das 20 novas infeções por dia. No Algarve, que recebe por esta altura mais pessoas, nos últimos dois dias não foram reportados novos casos. Ontem foi conhecido um foco em Armação de Pera, que as autoridades acreditam que já estará circunscrito. O presidente da junta de freguesia Ricardo Pinto confirmou ao i que o foco foi detetado quando uma jovem de Armação de Pera, que trabalha numa geladaria local, testou positivo, já há duas semanas. Foram testados colegas e coabitantes, sendo que cinco familiares, incluindo um bebé, testaram positivo.

A geladaria foi desinfetada e os trabalhadores que ainda estão em quarentena foram substituídos, tendo reaberto entretanto. Já uma da familiares da rapariga trabalha na cozinha de um restaurante local, onde também houve intervenção da autoridade de saúde local. Não foram detetados mais casos positivos e os colegas estão a cumprir o isolamento profilático. A incógnita é onde terá acontecido o primeiro contágio, tendo em conta que a jovem não viajou recentemente. Neste momento, a DGS admite que existem ainda casos sem link epidemiológico estabelecido em Lisboa, mas considera que a transmissão comunitária já não é predominante em nenhuma zona no país, sendo a maioria dos casos ligados a surtos. Em entrevista ao SOL, o coordenador do gabinete de crise da covid-19 em Lisboa adiantou que na grande Lisboa, mais de 50% dos casos têm ligação epidemiológica conhecida, mas continuam a verificar-se infeções sem ligação epidemiológica. “Quanto mais desconfinados, mais impossível será (controlar todas as cadeias de transmissão). Todos os dias chegam aviões”, alertou Rui Portugal.